terça-feira, fevereiro 27, 2007

Terça-Feira I Quaresma 2007

Acima de tudo, mantende entre vós uma intensa caridade,
porque o amor cobre a multidão dos pecados.

(1 Ped 4,7-11)


A nossa vocação é a de ir incendiar o coração dos homens, fazer aquilo que fez o Filho de Deus, Ele que veio trazer o fogo ao mundo para o incendiar com o seu amor. Que outra coisa podemos desejar se não que arda e consuma tudo?
É portanto verdade que eu sou enviado não só para amar Deus mas para fazer com que o amem.
Não me basta amar Deus se também o meu próximo não o ama. Devo amar o meu próximo como imagem de Deus e objecto do seu amor, e fazer de tudo para que, por sua vez, os homens amem o seu Criador que os reconhece e considera como seus irmãos e que os salvou; e procurar que, com a caridade recíproca, se amem por amor a Deus, o qual tanto os amou, ao ponto de, por eles, abandonar o seu próprio Filho à morte. Portanto, este é o meu dever.
Ora bem, se é verdade que somos chamados a levar, longe ou perto, o amor de Deus, se devemos incendiar as nações, se a nossa vocação é espalhar este fogo divino em todo o mundo, se assim é, e repito, se assim é, irmãos, quanto devo eu mesmo arder deste fogo divino!
Como daremos aos outros a caridade se ela não existe entre nós? Observemos se existe, não em geral, mas em cada um, se existe no devido grau, porque se não está acesa em nós, se não nos amamos uns aos outros como Jesus Cristo nos amou e se não praticamos acções semelhantes às suas, como poderemos esperar de difundir um tal amor em toda a terra? Não é possível dar aquilo que não se tem.

S. Vicente de Paulo (Conferenza 207).


Dá(r) que pensar...


O amor não é abstracto. Amar o outro significa iniciar um caminho sem retrocesso onde as palavras servem (apenas e só) para dar profundidade aos gestos de todos os dias. A quem amo? Como amo?...


Pão para o caminho...


Jesus,
Filho de Deus e minha salvação,
Bem sabes como me é difícil às vezes
Amar sem preconceitos, sem medidas curtas...
É mais fácil, mais cómodo,
dizer apenas que determinada pessoa ou situação estão mal,
que tal acontecimento devia ter sido diferente...
contudo, ao contemplar-te como fonte de todo o amor,
pedes-me tão simplesmente que ame
com um coração terno e misericordioso,
com um coração universal, cristalino, puro...
é por isso que bato, uma vez mais, à porta do Teu coração.
Vem a mim, Senhor,
monta a Tua tenda no meu coração,
e permanece aí, com docilidade e paciência,
para que, mergulhado no Teu amor,
eu renasça com um coração novo, um coração de carne...

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Segunda-feira I Quaresma 2007

Jesus cumpre o que fora anunciado pelo profeta Isaías:
Ele não discutirá nem gritará;
não apagará a mecha que ainda fumega.
Todas as nações depositarão nele a sua esperança.

(cf. Mt 12,14-21)




Evangelizar é dar testemunho acerca de Jesus Cristo. O cristianismo é uma fé religiosa, ou seja, uma manifestação da relação do homem com Deus. Não há verdadeira religião sem fé em Deus. Mas o carácter específico do cristianismo é o facto de o homem viver a sua relação com Deus na sua relação com Jesus Cristo, um homem como nós e Filho de Deus. Reconhecer em Jesus o Deus Vivo, porque Filho de Deus Pai, é o elemento decisivo da fé cristã. Não preciso de procurar Deus por outros caminhos; Ele é o caminho. Segui-Lo como discípulo é percorrer, com Ele, o caminho que me leva a Deus; amá-Lo é fazer a experiência insondável do amor divino; comungar da Sua experiência de Filho de Deus, é descobrir Deus como um Pai, deixar que Ele me conduza à intimidade da comunhão trinitária; aceitar o seu desafio de amar os outros como Ele os ama, é descobrir que o amor a Deus nos conduz à fraternidade cristã, como comunhão de amor.
Jesus Cristo basta-nos: podemos unir-nos a Ele como nosso irmão, e ser por Ele introduzidos no mistério da intimidade de Deus, de que Ele nos dá testemunho como Filho. Jesus Cristo é um caminho próprio para encontrar Deus: Ele só é resposta para quem procura Deus; devemos receber o seu testemunho de intimidade com o Pai, e descobrir a Igreja como uma comunhão de filhos de Deus, “filhos no Filho” e perceber que esse dom da filiação divina é o mais maravilhoso fruto da redenção.
(D. José Policarpo, 7 Março 2004)



Dá(r) que pensar...



Deus ao manifestar-se “na carne” em Jesus desconcerta a nossa inteligência e comove o nosso coração…Esperava-mos, como o povo de Israel, um grande guerreiro e Deus manifesta-se na simplicidade, na fragilidade…
Diante de tudo isto: Quem é Jesus para mim? Como anda a minha relação com Ele?...



Pão para o caminho...



Senhor Jesus,
Rosto divino do homem e rosto humano de Deus,
Venho a Ti como todas as outras vezes,
Para Te dizer que creio,
com toda a minha inteligência e com todo o meu coração,
Que Só Tu és o caminho, a verdade e a vida,
Só Tu és a minha luz e salvação,
Só Tu és o meu refúgio e o meu abrigo…
Há momentos e circunstâncias
em que reconhecer-Te como o meu Deus e o meu Tudo não é fácil,
diante das dificuldades muitas vezes o meu coração fica inquieto e longe de Ti…
Mas, eu sei Senhor,
Que Tu és clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade,
E que sempre me acolhes como se fosse a primeira,

a única e a última vez…
Por isso venho a Ti, uma vez mais,
E batendo à porta do Teu coração, peço-Te uma vez mais:
Permanece em mim…pois sem Ti a minha alegria não é plena.

domingo, fevereiro 25, 2007

I Domingo Quaresma

Jesus disse ao tentador:
Está escrito:
«Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele prestarás culto.»
(cf. Lc 4,1-13)

O judeo-cristianismo é a religião que mais valoriza a experiência de amor, exactamente porque nos revela Deus como Pessoa que ama e quer ser amada, com quem o homem pode estabelecer uma verdadeira intimidade de amor e comunhão. E se é possível ao homem ser amado por Deus e abandonar-se a Ele, numa resposta de amor, essa experiência influencia todas as experiências humanas de amor. O amor do próximo brota do amor de Deus; a comunhão com Deus dá ao homem a força e o dinamismo de progredir continuamente, em qualidade, em todas as suas experiências do amor.
Do amor à caridade, enuncia-nos o itinerário do crescimento do amor, onde as capacidades naturais de amar, enfraquecidas pelo pecado, são redimidas e potenciadas pela força do Espírito de Deus, isto é, pela energia amorosa que nos vem do facto de sermos amados por Deus e de o procurarmos amar, mais que todas as outras realidades humanas. É um tema que nos situa no âmago da relação entre a nossa natureza humana e o dom da graça divina, pois a caridade significa aquele grau de perfeição do amor que só é possível ao homem com a força do Espírito Santo. A caridade acontece naqueles que fizeram da sua experiência de amor a Deus, a fonte de toda a sua capacidade de amar. “Amar a Deus sobre todas as coisas” e seguir o mandamento novo de Jesus “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”, só é possível ao homem, com a força de Deus. Mas sendo sobrenatural, é também a plena realização das nossas capacidades naturais de amar. A caridade é a verdade plena do amor, porque é o amor ao ritmo do Espírito de Deus.

D. José Policarpo, 17 Fevereiro 2002

dá(r) que pensar...

A Palavra de Deus neste Domingo é uma provocação a repensar a vida segundo a lógica de um Deus que é ponto de partida e ponto de chegada. Este é o tempo de (re)conversão das nossas metas...é tempo de começar a fazer as perguntas essenciais: Quem é Deus para mim?...

Pão para o caminho...

Senhor,
Com todos os meus irmãos na fé,
Aqui estou diante de Ti,
para fazer memória do imenso amor com que sempre vens ao meu encontro.
Hoje convidas-me a deixar os meus ídolos,
Pedes-me uma fidelidade criativa, ousada, alegre...
Uma fidelidade enraizada na certeza de que só Tu me bastas.
Eu sei que nem sempre tem sido fácil este caminho,
Às vezes falho, algumas vezes vem o medo de não ser capaz, outras vezes mesmo estando Tu ao meu lado penso que estás longe...sinto-me só.
Hoje venho a Ti,
Para Te dar graças por não desistires de mim, mesmo quando Te abandono.
Venho a Ti, Senhor, para que me enchas da Tua consolação,
Para que sares as minhas feridas com o óleo da alegria,
E faças despontar em mim aquele amor fiel e santo
Que não se deixa abalar no tempo da dificuldade
E que anseia por uma profundidade maior no tempo da alegria.

sábado, fevereiro 24, 2007

Sábado depois das cinzas

Jesus disse:
Quando deres um banquete, convida os pobres,
os aleijados, os coxos e os cegos.
E serás feliz por eles não terem com que te retribuir.
(cf. Lc 14,1-14)
O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente. E por isto precisamente Cristo Redentor, como já foi dito acima, revela plenamente o homem ao próprio homem. Esta é — se assim é lícito exprimir-se — a dimensão humana do mistério da Redenção. Nesta dimensão o homem reencontra a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade. No mistério da Redenção o homem é novamente «reproduzido» e, de algum modo, é novamente criado. Ele é novamente criado! « Não há judeu nem gentio, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher: todos vós sois um só em Cristo Jesus ». O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente — não apenas segundo imediatos, parciais, não raro superficiais e até mesmo só aparentes critérios e medidas do próprio ser — deve, com a sua inquietude, incerteza e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo. Ele deve, por assim dizer, entrar n'Ele com tudo o que é em si mesmo, deve «apropriar-se» e assimilar toda a realidade da Encarnação e da Redenção, para se encontrar a si mesmo. Se no homem se actuar este processo profundo, então ele produz frutos, não somente de adoração de Deus, mas também de profunda maravilha perante si próprio. Que grande valor deve ter o homem aos olhos do Criador, se «mereceu ter um tal e tão grande Redentor , se «Deus deu o seu Filho , para que ele, o homem, «não pereça, mas tenha a vida eterna».Na realidade, aquela profunda estupefacção a respeito do valor e dignidade do homem chama-se Evangelho, isto é a Boa Nova. Chama-se também Cristianismo. Uma tal estupefacção determina a missão da Igreja no mundo, também, e talvez mais ainda, «no mundo contemporâneo».
João Paulo II, Redemptor Hominis nº 10 (1979)
dá(r) que pensar....
Sou convidado por Jesus a entrar na lógica de Deus, a viver o “evangelho dos últimos”, isto é, a ter uma predilecção especial pelos mais frágeis, pelos “desamados”(pois o amor não é abstracto!).
Como é a minha relação com “os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos...”deste que é o meu tempo?...
Pão para o caminho...

Senhor,
Hoje trago à Tua presença
todos os que vêem ferida a sua dignidade mais profunda,
todos os que são explorados, marginalizados,...
sabes, às vezes também eu, com os meus preconceitos,
não sou capaz de Te reconhecer nestes que são
“pequenos, pobres, coxos,...”
também eu, às vezes, me deixo ir na onda de escolher as “boas companhias”,
os “influentes”,...seguindo uma outra lógica que não é libertação,
verdade ou profundidade.
Por isso, Senhor, hoje venho a Ti, com toda a multidão de homens e mulheres
que mesmo estando à margem Tu não deixas de convidar para o Teu banquete.
Venho para fazer festa contigo e com eles,
Venho para Te dar graças por me teres ensinado a ver nos seus rosto
O Teu rosto belo, a formosura de um amor simples, que se deixa tocar...
A formosura que se fez Pão para que também eu me sente à mesa e saboreie este amor terno, doce e misericordioso.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

sexta-feira depois das cinzas

Nós não sabemos o que havemos de pedir,
para rezarmos como deve ser;
mas o próprio Espírito intercede por nós
com gemidos que não se podem explicar.
(cf. Rom 8,26-27)


Nós todos, quando oramos, somos discípulos de Cristo, não porque repetimos as palavras que Ele uma vez nos ensinou — palavras sublimes, conteúdo completo da oração. Somos discípulos de Cristo, mesmo quando não usamos essas palavras. Somos seus discípulos já, só porque ora-mos: «Escuta o Mestre que ora; aprende tu a orar. Para isto, de facto, orou Ele, para nos ensinar a orar», afirma Santo Agostinho (Sto. Agostinho, Enarrationes in Ps., 56, 5) E um autor contemporâneo escreve: «Uma vez que o termo do caminho da oração se perde em Deus, e ninguém conhece o caminho senão Aquele que vem de Deus, Jesus Cristo — é necessário (...) fixarmos os olhos n'Ele só. É o caminho, a verdade e a vida. Só Ele percorreu o caminho nas duas direcções. É preciso meter-mos a nossa mão na sua e partirmos» (Y. Raguin, Chemins de la contemplation, Desclée de Brouwer, 1969, pág. 179). Orar significa falar com Deus. Atrever-me-ia a dizer mais: orar significa encontrarmo-nos naquele Único eterno Verbo, por meio de quem fala o Pai, Verbo que fala ao Pai. Este Verbo fez-se carne, para nos ser mais fácil encontrarmo-nos n'Ele, mesmo com a nossa palavra humana de oração. Pode esta palavra às vezes ser muito imperfeita, poderá até mesmo faltar-nos de todo. Mas a incapacidade das nossas palavras humanas completa-se continuamente no Verbo que se fez carne para falar ao Pai com a plenitude daquela união mística que forma com Ele cada homem que ora; que todos quantos oram, formam com Ele. Nesta particular união com o Verbo está a grandeza da oração, a sua dignidade, e em certo modo, a sua definição.
É preciso sobretudo compreender bem a grandeza fundamental e a dignidade da oração. Oração de cada homem. E ainda de toda a Igreja orante. A Igreja, em certo modo, chega tão longe como a oração: até onde haja um homem que ore.

(João Paulo II, 14 Março 1979)


dá(r) que pensar...

Sem oração não há convicção, não há verdade, não há profundidade.
O que é para mim rezar? Como rezo?...


Pão para o caminho...

Senhor,
Aqui estou uma vez mais.
Eu sei que rezar é falar conTigo, é amar-Te,...e deixar-me amar.
Mas sabes, às vezes é difícil,
Venho a Ti habitualmente para pedir...
pedir coisas...sobretudo no tempo da dificuldade.
Outras vezes, rezo a correr, com a desculpa de que há muito para fazer.
Há momentos em que também não Te rezo...
Em todos estes momentos sinto que ando a fugir de Ti,
Ou melhor, talvez ande a fugir de mim,
Com medo de me olhar com mais profundidade e verdade.
Hoje estou aqui,
Tão simplesmente para Te agradecer
Por seres o meu Deus, por me amares sem preconceitos,
Por me revestires na fragilidade com a Tua bondade e consolação,
E por me desafiares a dar passos concretos na intimidade contigo.
Hoje estou aqui para que rezes em mim e comigo...

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Quinta-feira depois das cinzas

Jesus disse:
Se alguém quer seguir-me, renuncie a si mesmo,
tome cada dia a sua cruz e siga-me.
(cf. Lc 9,18-24)

Ser discípulo de Cristo supõe empenhamento e é exigente, como recorda o próprio Jesus no trecho evangélico: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt 16, 24). Renunciar a si mesmo e aceitar a cruz significa morrer para o orgulho pessoal e confiar totalmente em Deus, vivendo como Cristo na dedicação total ao Pai e aos irmãos.
São Paulo, ao escrever aos cristãos de Roma faz eco ao ensinamento de Jesus, exortando-os a não se conformarem com a mentalidade do mundo, mas antes a oferecerem toda a sua existência em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (cf. Rm 12, 1-2). O seguimento de Cristo requer um itinerário assinalado muitas vezes por incompreensões e sofrimentos. Ninguém se iluda: hoje, como ontem, ser cristão significa ir contra a corrente em relação à mentalidade deste mundo, procurando não o próprio interesse e o louvor dos homens, mas unicamente a vontade de Deus e o verdadeiro bem do próximo.

(João Paulo II, Angelus 29 Agosto 1999)


? dá(r) que pensar...

Ser Cristão pode significar em muitas circunstâncias “ir contra a corrente”.
Que significa para mim carregar a cruz de todos os dias?
E eu, carrego a minha cruz ou arrasto-a?...

Pão para o Caminho...


Senhor,
Hoje venho a Ti,
Não para te dizer muitas coisas,
Mas para estar contigo no silêncio de um coração agradecido.
Bem sabes como às vezes é difícil carregar a cruz de todos os dias...
Quantas vezes me apeteceu deixá-la...encurtá-la...
ou até colocá-la aos ombros dos outros.
É por isso também que estou aqui:
Quero pedir-te perdão por todas essas vezes em que não deixei que o teu amor fosse a minha força
E quero dar-Te graças por não teres desistido de mim,
E por, na fidelidade de todos os dias,
Me repetires ao meu coração:
“Se queres ser feliz...se queres ser meu discípulo...coloca nos teus ombros a cruz e segue-Me!”.
Eis-me aqui Senhor
para seguir-Te até ao calvário
Pois só assim poderei ressuscitar contigo.

Quarta-feira de Cinzas - 2007

É assim que te vou seduzir ao deserto para te falar ao coração

(cf. Oseias 2, 16)



A história da Salvação deu ao deserto um significado religioso e profundo. Conduzido por Moisés e mais tarde iluminado por outros profetas, o Povo eleito pôde, através de privações e sofrimentos, experimentar a presença fiel de Deus e da sua misericórdia; alimentou-se com o pão descido do céu e extinguiu a sede com a água que brotava da rocha; o Povo de Deus cresceu na fé e na experiência do evento do Messias redentor.
Foi também no deserto que João Baptista pregou e as multidões acorreram a ele para receber, nas águas do Jordão, o baptismo de penitência: o deserto foi um lugar de conversão para acolher Aquele que vem para vencer a desolação e a morte ligadas ao pecado. Jesus, o Messias dos pobres que ele cumula de bens (cf. Lc 1,53), deu início à sua missão assumindo a condição daquele que tem fome e sede no deserto.
Amados irmãos e irmãs, convido-vos, ao longo desta Quaresma, a meditar a Palavra de vida deixada por Cristo à sua Igreja a fim de que ilumine o itinerário de cada um dos seus membros. Reconhecei a voz de Jesus que vos fala, especialmente neste tempo de Quaresma, no Evangelho, nas celebrações litúrgicas, nas exortações dos vossos pastores. Escutai a voz de Jesus que, aflito pela fadiga e pela sede diz à Samaritana junto da fonte de Jacó: "dá-me de beber" (Jo 4,7). Contemplai Jesus pregado na cruz, expirando, e escutai a sua voz apenas perceptível: "Tenho sede" (Jo 19,28). Hoje Cristo repete o seu apelo e revive os tormentos da sua agonia nos nossos irmãos e nos pobres.
Convidando-nos, com a vivência da Quaresma, a percorrer os caminhos do amor e da esperança traçados por Cristo, a Igreja ajuda-nos a compreender que a vida cristã comporta o desapego dos bens supérfluos, a aceitação da pobreza que nos liberta e que nos dispõe a descobrir a presença de Deus e a acolher os nossos irmãos com solidariedade cada vez mais activa e em comunhão cada vez mais ampla.
Recordai, pois, a palavra do Senhor: "Quem der, nem que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa" (Mt 10, 42). Meditai com todo o coração e com esperança naquelas outras palavras: "Vinde, benditos de meu Pai,... pois tive sede e me destes de beber" (Mt 25, 34-35). (João Paulo II, in Mensagem Quaresma 1993)


A quaresma é essencialmente um tempo de esperança. Um tempo para fazer memória do essencial e um tempo para abrir-se sem medo ao futuro, a um futuro onde Deus é o protagonista, o centro. Que caminho quero trilhar nesta quaresma? Como vou passar da superficialidade à profundidade?...


Senhor,
Venho a Ti, como tantas outras vezes,...
Também eu quero que me fales ao coração,
Quero que me ajudes a ouvir a Tua voz com mais profundidade, a acolher com mais alegria e entusiasmo a Tua Boa Nova de Salvação.
Bem sabes que nem sempre me deixo conduzir pelo teu amor… muitas vezes é o desânimo que me conduz,
a tentação de cruzar os braços e de dizer: “não vale a pena!”,…
mas, mesmo aí, não desistes de mim!
Por isso, Senhor, venho a Ti, mais uma vez,
mais determinado a amar-Te e a acolher-Te,
a deixar-me abraçar por Ti
na certeza de que a tua ternura e compaixão
me hão-de ensinar quais os trilhos a seguir neste tempo que é Teu,
neste tempo de graça e de verdade, de alegria e de esperança,
neste tempo favorável a mudar o coração, a mudar de vida.Venho a Ti Senhor… para estar contigo…para estar em Ti.




segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Porque Ela está a chegar...

Ela está quase a chegar, provocadora como sempre e com aquele olhar de encanto que nos deixa seduzidos e nos leva a segui-la com determinação...falo naturalmente da Quaresma!
Para alguns é o tempo mais aborrecido do ano. Aquele tempo em que "os chatos dos católicos" se restringem a seguir umas "normas esquisitas" de jejum, oração mais intensa e partilha de bens...olhada assim a quaresma não é mais do que uma norma que constrange e não liberta...aliás, aqueles que olharem assim a quaresma não verão nela mais do que a "proibição" de comer carne às sextas-feiras!?.
recuso-me a olhar assim este tempo!
A quaresma de enfadonha tem muito pouco, ou melhor, não tem nada!
Ela é uma interpelação a "voar mais alto para ver mais longe", é uma provocação a abandonar as banalidades e o ritmo muitas vezes superficial em que vivemos para assumir o risco da profundidade, de uma profundidade em Deus, com Deus. A quaresma é essencialmente o tempo em que eu me descubro como único, como amado e perdoado...um tempo eu que eu percebeo radicalmente que sou "o tesouro de Deus".
Por tudo isto, e para que este tempo seja o que deve ser, este espaço da blogosfera terá aqui "pistas" diárias para a oração(que também posso enviar para o vosso mail, é só dizerem), meditação e procurará ser uma interpelação a uma caridade mais autêntica, a um amor fraterno mais ousado.
este caminho que aqui partilho é o caminho que farei (entre outras coisas) com a minha rapaziada aqui de casa
escolhi como lema para esta caminhada quaresmal de 2007 uma frase do profeta Oseias:
É assim que te vou seduzir ao deserto
para te falar ao coração
(cf. Oseias 2, 16)
Falaremos mais do que ela significa ao longo deste tempo, para já, deixo aqui um pequeno excerto de um texto que pode ajudar-nos a preparar o coração para fazer deste tempo um tempo de intimidade maior com Deus e de comunhão fraterna com a humanidade, com os que nos rodeiam:

"De que servirá fugir aos banquetes, se ocupamos com discórdias os nossos dias? De que servirá não comer do pão que nos cabe, se tirarmos a comida da boca do pobre? O jejum para o cristão deve preparar a paz e não as lutas. de que te serve não comer carne, se da tua boca se soltam injúrias piores do que qualquer tipo de alimento? De que te serve santificar o estômago com jejuns, se as mentiras te mancham a boca? em verdade te digo, meu irmão, que não tens o direito de entrar na Igreja se continuas enredado e envolvido nas malhas mortais da usura voraz, que não tens o direito de invocar o teu Senhor se as tuas orações vêm do teu coração invejoso, que não tens o direito de bater no peito se nele se escondem os teus maus desejos. A moeda que deres ao pobre só será justa, quando fores pobre também" (S. Máximo de Turim)

Bom Caminho!

domingo, fevereiro 11, 2007

Pela Vida, SEMPRE!


40, 75%
Este post é uma homenagem a todas aquelas e aqueles que com determinação,serenidade, respeito pela diferença e perseverança, não se deixaram ir na onda e continuam a afirmar que a Vida vale mais que as palavras de pura demagogia "socratiana" e "louçanista" expressas em soluções de cartola em noite de "vitória, modernidade e entrada a sério no séc. XXI"!?


O trabalho continua agora ainda com mais determinação, alegria e entusiasmo! Obrigado a todos os leigos que dando do seu tempo não se pouparam a esforços para que a causa da vida não fosse uma questão marginal ou secundária no debate para este referendo. Rezo (ainda mais) por todos e por cada um.


Um terno abraço deste vosso irmão

domingo, fevereiro 04, 2007

Já tá pronto!!!

Está desde hoje disponível em algumas livrarias do centro do país um pequeno contributo que elaborei para a compreensão da Vocação, Espiritualidade e Missão da Pessoa portadora de uma deficiência no seio das comunidades cristãs.
Tal contributo nasce da minha experiência pessoal de proximidade, partilha de vida e acompanhamento espiritual de algumas pessoas portadoras de uma deficiência...

Este modesto contributo intitula-se "Deus Num Rosto desfigurado", é editado pelas Edições CVS. Todos os resultados das vendas revertem na totalidade para os Silenciosos Operários da Cruz. Podes encontrar mais informações
aqui.

Deixo aqui, para além da capa, um pequeno excerto de um dos sub-capítulos... quem sabe talvez te atrevas a comprar o livro:





O Rosto do Crucificado-Ressuscitado é um Rosto belo, um Rosto que devemos contemplar, pois nele vemos desvelada a resposta às nossas inquietações mais profundas. É um Rosto que para nós é agora Palavra dita e redita ao coração, Palavra de apelo à conversão do coração. É aquela Palavra dita não mais como profecia mas como presença dinamicamente acolhida, celebrada e vivida.É um Rosto que é Pão da vida humana e eterna de Deus, alimento e força para o caminho. Consolação na tristeza e festa no tempo da Alegria. Por isso, esse Rosto Belo aparece-nos como o Rosto de uma vida em liberdade que vence o egocentrismo e que nos convida a vivermos como ressuscitados, como ressuscitadores, isto é, que nos convida constantemente a sairmos de nós para irmos ao encontro dos que precisam de ser descidos da cruz, ou seja, porque ressuscitado eu devo caminhar/viver ressuscitando e provocando ressurreição. É por isso que a beleza do Rosto do Crucificado-Ressuscitado é irresistível, atrai, pois tal contemplação leva-nos a passar das trevas à luz, do abandono à consolação, da dúvida à fé. Esta é a provocação que nos lança Cristo que nas mãos do Pai entrega o seu espírito (cf. Lc 23, 46).Quando falamos de Cristo, da beleza do Seu Rosto, falamos dum Rosto, dum Corpo que, embora ressuscitado, leva as marcas da cruz. Não falamos por isso da beleza efémera que hoje se cultiva, mas da beleza eterna e universal com que Deus, desde a criação, marcou todo o homem e mulher, a beleza do coração, ou se preferirmos na linguagem de Antoine Saint-Exupéry, a beleza do essencial.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Loucos pelo Evangelho!...


2 de Fevereiro! a Igreja celebra o dia da Apresentação de Jesus no Templo.
Neste dia celebramos também o "dia do consagrado", isto é, o dia dedicado a todos aqueles e aquelas que, deixando-se interpelar profundamente pelo Evangelho, descobriram a beleza e a alegria de serem cristãos e assim decidiram entregar a Deus toda a sua vida para servirem na fé, na alegria e na humildade os Irmãos.
Por isso, o post de hoje é dedicado a todos estes Loucos pelo Evangelho, os loucos de Deus e por Deus, esses que sabem que Cristo é caminho nas nossas incertezas, que Ele é a Verdade diante das nossas "máscaras", Ele é a única Vida na qual a nossa ganha sentido e sabor.
Ontem, e a este propósito, alguém me perguntou:
"o que é que leva alguém jovem, com a vida pela frente e cheio de sonhos, a entregar assim a vida a Deus? não será um disparate? uma frustração?"
Para mim a resposta é clara: Deus!
Sim esse Deus próximo e fiel, o Deus Santo e santificador, o Deus todo misericordioso e Alegre, o Deus que ri comigo e para mim, o Deus que é consolação no tempo da angústia, refúgio seguro quando tudo parece perdido...o Deus-connosco, o Deus-comigo, o Deus-contigo...Jesus o Rosto divino do Homem e Rosto humano de Deus.
Aliás esta "loucura" só faz sentido assim! se não fosse por Deus, em Deus e com Ele os consagrados na vida da Igreja seriam uma "associação filantrópica", um grupo de "bem fazer"....seriam, na pior das hipóteses, um grupo de "encalhados" que esquizofrenicamente se dedicariam a uma vida de "caridadezinha"...A vida consagrada não é isto! Consagrar-se a Deus não significa isto! E os que se consagram não são "encalhados"!
São isso sim homens e mulheres livres que se entregam por amor a uma vida que so tem razão de ser no Amar...sem medida...sempre...por Ele, com Ele, n'Ele.
é por Eles e com eles que rezo hoje na simplicidade de quem sente que as palavras não dizem tudo:

Deus da ternura e da misericórdia,
Deus de toda a consolação,
eis-me aqui diante de Ti
trago-te todos aqueles e aquelas
que continuas a chamar pelo nome...
Eis-me aqui
para te agrdecer o dom que é para a Tua Igreja
a vida destes homens e mulheres
que descobriram em Ti razão de ser para as sua vidas.
Protege-os no tempo da dificuldade
e sê para eles um refúgio seguro;
Ampara-os no tempo da dúvida
e sê par eles a certeza serena
de que vale a pena continuar o caminho,
a entrega, as noites perdidas, as lágrimas...
Reveste-os Senhor com a Tua misericórdia
para que no tempo da fragilidade
eles possam ser no mundo
sinal do Teu amor terno...paterno...materno!
Que brilhe neles a Tua luz
para que a humanidade ao vê-los creia
que Tu és a Vida, Tu és o Amor, Tu és Deus!...
A todos os consagrados que conheço um forte e terno abraço deste vosso irmão que muito vos admira e estima!
Coragem. "Não tenham medo"!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

isto é p'ra vocês!...

Eu já tinha prometido à B...... e à H.... que um destes dias havia de dedicar-lhes um espaço aqui no Coração...por isso mesmo hoje decidi ir à pesca ao meus (muitos) papéis pequeninos onde vou escrevendo várias coisas...como sou muito organizado(?!) percebem logo que foi dificil "pescar" aquilo que procurava. quero por isso dedicar-lhes as palavras que se seguem por tudo o que elas são:
pelo seu sorriso terno e contagiante,
pela sua serena proximidade e profundidade
e também pela simplicidade das suas lágrimas.

Por isso miguitas aqui fica, na simplicidade das palavras (que não dizem tudo!), o gesto de quem agradece com um coração terno e simples a amizade que vamos construindo, passo a passo, na esperança e na alegria da fé no nosso "Deus Alegre, Louco de amor pela humanidade e esbanjador de Misericórdia":

A amizade
É um pedaço de céu que me invade e me transforma,
que quebra as fronteiras do infinito
e me leva por trilhos nunca antes percorridos…
É um grito na noite dos sem esperança
que ousa transformar a treva em dia
e devolver aos céus o sol roubado pela angústia.
É uma tela onde cabe qualquer cor
desde que a primeira seja amor.
Ela é o terno abraço que te envolve
E te diz que onde eu estou tu estás em mim…
É este tesouro em vasos de barro
que vou regando com as lágrimas da esperança
para que produza em nós frutos de eternidade.
(Leiria, Fevereiro 2006)

Ser Silêncio...


Depois de uns dias muito intensos humana e espiritualmente (pois o meu pai teve um grave acidente de trabalho!...) aqui estou de novo a dar espaço à escrita soltando os sonhos que aqui se transformam em palavras...

Neste tempo pude experimentar a consolação dos amigos e de Deus...telefonaram, escreveram, rezaram...
Dei por mim tão simplesmente a acolher e a agradecer, quase sem dizer nada...pois ao amor e à ternura também se pode responder com a gratidão de um coração em silêncio.

Entre as muitas coisas em que pensei nestes dias,
dei também por mim tantas vezes diante de Deus em silêncio, tão simplesmente para estar com Ele, não lhe queria pedir nada, apenas estar...

Foi assim que uma vez mais descobrir a importância de acolher em silêncio, de estar em silêncio, de "ser silêncio"...
foi assim que ao longos destes dias me abeirei de Deus e mergulhei n'Ele:


"Meus Deus,
venho a Ti no silêncio,
para estar em Ti e conTigo
sei que és o meu refúgio e a minha consolação,
por isso eis-me aqui..."
Sei que para muitos pode parecer pobre rezar assim...mas para mim foi de uma extraordinária riqueza perceber que Ele é mesmo a minha força e o meu refúgio, minha paz e minha consolação, o Meu Deus, a minha Alegria!
p.s. um agradecimento terno e fraterno ao meu caro irmão mais velho Migalhas! Ele sabe porquê...