domingo, maio 20, 2012

6 anos depois...



Há 6 anos atrás  começava esta "aventura" de partilhar contigo, 
companheiro/a de caminho, 
algumas das coisas que vou rezando, pensndo e escrevendo.
Nem sempre o ritmo da "partilha" é aquele que eu desejo, 
pois a vida é plena de muitas cores e realidades que nem sempre me permitem 
oferecer-te o que colho no Coração de Deus quando, 
com a luz da fé, 
me abro à Sua vontade.

a ti, viandante-peregrino que passas por aqui, 
deixo-te a certeza que por entre os trilhos do quotidiano 
sou teu rimão no caminho
...e levo-te ao Coração de Deus.

domingo, maio 06, 2012

Permanecer...com um coração de Mãe [V Domingo Páscoa]


A Palavra de Deus que nos é servida como alimento neste V Domingo da Páscoa traz ainda agrafado o “perfume pascal” do Domingo passado quando escutámos Jesus a garantir-nos que é “o Bom Pastor, que dá a Vida Eterna às suas ovelhas, que as segura pela mão e que as conhece”(D. António Couto).
É neste “prado verdejante e tranquilo”, mas não passivo, que somos então chamados a deixar ressoar em nós, no mais profundo da nossa inteligência e do nosso coração, esta Palavra agora acabada de proclamar. Convido-vos a reflecti-la como se fosse um tríptico (um ícone em 3 partes). Cada uma das partes nomeei-as assim:

1. Do medo à confiança.
2. Da distracção à fidelidade.
3. Com um coração de Mãe…para Amar até ao fim.
 
1. Do medo à confiança

“Naqueles dias, Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo”. Assim o escutámos na primeira leitura, como que a recordar-nos que a comunidade crente, por um lado é mais do que aquilo que os nossos olhos ou inteligência conseguem alcançar; por outro lado, como que a pôr-nos diante dos olhos aqueles que são os nossos limites, fraquezas, preconceitos e pecados, para nos dizer que só quando oferecemos confiança e acolhimento é que somos verdadeiramente corpo de Cristo, comunidade de discípulos peregrinos na história.
            Se foi assim, no início, com Paulo, deixem-me que diga que não é assim tão diferente no nosso tempo. Ainda hoje, e falo por mim, continuamos a ter muito medo e a oferecer muito pouca confiança. Continuamos demasiadas vezes a sonhar um cristianismo à medida das nossas possibilidades, cercado somente pelas fronteiras das nossas capacidades, tentando tantas vezes neutralizar a acção desconcertante do Espírito Santo que derruba as muralhas do preconceito e alarga as fronteiras do coração a um horizonte novo, infinito, de ternura, compaixão e de comunhão fraterna.

É disto que o nosso tempo tem sede. É isto que na errância dos dias cheios de rotinas (melancólicas e vazias) o homem contemporâneo, nosso irmão, procura…e é isto que tantas vezes, fechados em nós, não lhe damos. 

É certo que um sozinho não muda a história, mas pode iniciá-la. E foi isso que fez Barnabé. Precisamos de ser como ele, e precisamos de mais como ele, isto é, de discípulos que derrubam o medo, integram, geram confiança e constroem comunhão.

À luz disto é caso para nos perguntarmos então:
que medos (ainda) nos habitam e que confiança temos andado a oferecer, a gerar?

2. Da distracção à fidelidade

Para que a confiança e a comunhão vão para além das palavras e se tornem uma realidade sempre a ser gerada e oferecida no nosso quotidiano, o Evangelho convida-nos a uma atitude que é bem o reflexo e o termómetro do nosso ser discípulo: Permanecer. Por 8 vezes no-lo repete o Mestre e recorda-nos que “sem Ele nada podemos fazer”.

É caso também para nos perguntarmos:

Como é que temos permanecido n’Ele?
Este nosso permanecer é criativo, isto é, criador de novidade para os que nos rodeiam e activo na medida em que reacende em nós o fulgor da primeira hora, o sonho e a capacidade de fazer pressentir nos passos já dados o perfume do Espírito que tudo renova?

            permanece quem ama e quem reza.
permanece quem se conhece e reconhece diante de Deus, sem máscaras, e quem se abre em cada dia, sempre mais, à Sua vontade. É que o amor não se improvisa e a vida que não se ajoelha para agradecer, dificilmente descobre os caminhos da gratidão constante e do serviço permanente e alegre.

            Com o convite a permanecer o Mestre desafia-nos a fazer das nossas rotinas quotidianas não um tempo de uma “morte lenta” mas uma oportunidade de crescimento em profundidade e fidelidade. Um tempo para maturar o essencial, viver o fundamental e construir, por entre o fio do tempo, uma relação onde, como dizia S. Ambrósio, "Ele [Cristo] é tudo para nós".


3. Com um coração de Mãe...Para Amar até ao fim!

            S. João, na sabedoria e profundidade que lhe conhecemos, maturada na estrada da fidelidade até à cruz recordava-nos na segunda leitura que “Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas”, para de seguida nos resumir, de um modo simples e absolutamente desconcertante para as nossas matemáticas humanas, o que significa afinal ser discípulo, dizia-nos ele: ser discípulo é “acreditar em Jesus” e “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”.

Aparentemente tão fácil…e no entanto nem sempre a nossa Theo-logia, feita de muitas ideias e às vezes de pouca vida, deixa que o nosso viver seja Teologal, isto é, deste jeito simples, aberto e sem fazer contas.

Nós hoje celebramos o dia da Mãe, e ninguém melhor do que as Mães sabe o que é derrubar os medos, oferecer confiança e permanecer.

Se quiserem, para mim permanecer “é aprender a ter um coração de Mãe”, um coração que não sossega quando na escuridão da noite se pressente um sofrimento por menor que ele seja. Um coração que diariamente repete os mesmos conselhos, não para aborrecer mas para que os possamos interiorizar. Um coração que não se poupa a sacrifícios, tantas vezes temperados com o sal das lágrimas. Um coração que sabe que a fidelidade é amar até ao fim, ou melhor, é amar até depois do fim…tal como o coração de Deus, que mesmo trespassado continua a ser para nós o refúgio de todas as horas, o consolo para todas as lágrimas, a oferta de vida para todas as nossas mortes.

Se permanecer é “oferecer, na fidelidade, a confiança”, então podes contar comigo, e podemos contar uns com os outros, pois o que somos e o que aqui celebramos não é obra nossa, é dom daquele que [hoje] nos diz: “Permanecei em mim, pois sem mim nada podeis fazer”.
BOM DOMINGO!