quarta-feira, junho 27, 2012

Por tudo o que passou: Obrigado. Por tudo o que há-de vir: SIM!

8 anos depois [27 Junho 2004 - Ordenação Presbiteral na Sé Nova, Coimbra] intensificou-se o entusiasmo, a paixão por servir e amar este Deus "Louco de Amor pela humanidade" e "esbanjador de misericórdia" e de servir cada homem e mulher (crente ou não) que Deus coloca(r) no meu caminho.

Na hora de fazer memória deste amor com que Deus sempre me quis, tenho naturalmente de cantar de alegria e gratidão a Deus pelo dom: da minha familia, da minha vida, da fé que Ele me concedeu, de todos os que activa ou silenciosamente contribuiram para que eu pudesse perceber que o Mestre me chamava; mas é tempo também de pedir perdão pelos limites, contradições, que nem sempre deixam ver claro, no que sou e faço, o Rosto d'Aquele que me chamou.

Como as palavras são sempre poucas para expressar o que só o silêncio sabe dizer, aqui fica a prece da "primeira hora":

«Senhor…
Dá-me pés de barro, para que,
quando vierem terrenos pedregosos,
eu sinta que só Tu és a força e o caminho…
Dá-me um olhar cristalino,
para que possa ver-Te sempre presente
em cada rosto desfigurado, marginalizado,…
Dá-me mãos abertas para acolher
todos os que são abandonados,
vivem na solidão,…
Dá-me um coração de carne para amar sem medida,
sempre…
Dá-me coragem para denunciar a mentira,
Humildade para assumir os meus erros,
Humor para rir das minhas asneiras,
E, quando no fim,
como grão de trigo eu cair à terra,
a minha Fidelidade e Felicidade,
nesta entrega total a Ti,
Façam germinar Homens e Mulheres
loucamente apaixonados
pelo anúncio do Teu Evangelho. Ámen»

domingo, junho 17, 2012

À sombra dos seus ramos…


Em cada semente há uma vida pronta a germinar, a despontar e a crescer. Basta estar atento à natureza para ver, em cada amanhecer, como ela nos surpreende com novas fragrâncias, com cores novas…com novos horizontes. 


            Somos Buscadores do Reino e semeadores da Palavra, é esta a missão que o Pai, o (E)terno, nos dá e para a qual nos convoca. Não somos construtores de um império, muito menos somos chamados a manter estruturas ou, no pior dos casos, a torná-las ainda mais rígidas e pesadas…a nossa missão é outra: alargar fronteiras, derrubar muros, estabelecer uma rede de relações que “devolvam o homem ao Homem”, que façam ver o (E)terno no tempo. Para isso precisamos de silêncio e de tempo.

O Silêncio faz de nós “contemplActivos”, homens e mulheres capazes de ler, no tempo e na noite, os sinais da salvação que nos abrem à Luz de um dia novo, de uma vida nova “escondida com Cristo em Deus” (Col. 3,3). O tempo, esse educa-nos para a esperança, isto é, para a capacidade de acolher o dom e de o deixar germinar; Mas aqui o problema não é que Deus não saiba esperar [Ele espera-nos sempre!], o problema maior é que às vezes, nós, já não sabemos (nem queremos) esperar… pois andamos cansados de tanto correr.

Só quem faz silêncio e aprende a esperar é que pode colher o fruto, que é dom total [que vimos crescer e quotidianamente acariciámos].

A espera, silenciosa e activa, converte-nos em homens e mulheres perfumados com a alegria da gratidão. Homens e mulheres que encontram na memória (afectiva) uma chave de leitura para agradecer e projectar, para acolher e partilhar. É que a memória não é o desfiar de um tempo passado, muito menos um elenco de coisas que o tempo cristalizou, a memória é o jardim onde a ternura e o amor se abraçam para produzir frutos de sabedoria e abrir o pórtico da esperança. É por isso que pode recordar somente quem aprende a amar, pois “é dos que amam que reza a história”.


Neste domingo cruzam-se, no jardim da memória (e no mais profundo do meu coração!), alguns factos e uma pessoa, D. Albino Cleto, com quem aprendi a alegria de partilhar o dom. Curiosamente cruza-se também neste caminho a “Palavra eleita” por ele para pórtico e horizonte da sua primeira carta pastoral na diocese de Coimbra: “À sombra dos seus ramos”, de 10 de Junho de 2001. Ali sonhava uma Igreja que fosse uma árvore frondosa, criativa, dialogante, uma sinfonia de ministérios; Contemplava “os que estão longe” e desafiava-nos a sermos e fazermo-nos próximos com a ternura do Coração de Deus, com a Luz do Espírito, oferecendo(-lhes) Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida

O tempo foi maturando os caminhos, não se alcançaram todas as metas, despontaram novos desafios, não encontrámos todas as respostas, mas como Igreja guiou-nos sempre ele na paixão de servir e amar, com alegria…ao jeito de Jesus e de olhos postos no Reino.

Nesta hora em que cai à terra, como “grão de trigo”, o Pastor zeloso, o Amigo e o Irmão [inteiramente dedicado a amar até ao fim, numa entrega total que é fruto da “alegria de dar-se”], canto com gratidão o que D. Albino Cleto foi e fez, com e para todos nós diocese de Coimbra, e digo-lhe com a proximidade que só o coração é capaz de gerar: 

“Obrigado D. Albino, até ao céu!”



Salmo 92(91)
É bom louvar-te, Senhor, e cantar salmos ao teu nome, ó Altíssimo!  É bom anunciar pela manhã os teus louvores,   e pela noite, a tua fidelidade, Os justos florescerão como a palmeira e crescerão como os cedros do Líbano.  Plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Até na velhice continuarão a dar frutos e hão-de manter sempre a seiva e o frescor, para proclamar que o Senhor é justo: Ele é o meu rochedo e nele não há falsidade.
 

sexta-feira, junho 15, 2012

O nosso coração está em Deus…


É frequente ver os nossos ritmos quotidianos acelerarem o ritmo do nosso coração. Corremos de um lado para o outro, do trabalho para casa, da casa para a universidade,…e no meio de tanta correria, às vezes, quase sem nos darmos conta [ou a pedir ao céu para que a consciência disso nunca chegue], andamos a correr para fugir de nós mesmos.

Num tempo marcado por um certo “analfabetismo emotivo” e por uma amedrontada (in)capacidade para “narrar” a experiência vivida, a vida vai-se tornando para tantos um universo demasiado complexo de decifrar, um planeta bastante difícil de habitar e uma realidade dramaticamente difícil de assumir.

Estamos a tornar-nos, na dormência dos dias, homens e mulheres monossilábicos, reduzidos a um mero “gosto” ou “”não gosto” [não sei se já reparas-te que este último, no “universo facebookiano”, é a anulação da opção anterior!] que não permite que os nossos olhos vejam para além do horizonte, ou que o nosso cérebro pense para além do já pensado, ou, pior ainda, que o nosso coração sinta e ame para além do já amado.


 A experiência da fé, feita do encontro pessoal, afectivo (e não meramente emotivo!) com Jesus alarga e aprofunda os nossos horizontes débeis e amedrontados a um outro universo onde a complexidade se traduz numa capacidade de ler a vida em profundidade, onde o planeta a habitar se torna uma escola de vida e onde o quotidiano se transforma no “santuário” do encontro pessoal, cara a cara, despido de dramas (ou tragédias!), onde o dom e o servir se conjugam na primeira pessoa dinamizados pela alegria, revestidos pela esperança e perfumados de Páscoa.

Só descendo (como um mineiro que busca o bem mais precioso nas profundezas!) é que poderás entender(-Te), só mergulhando neste vasto oceano da vida é que aprenderás a decifrá-la com palavras novas, ditas por ti somente, fruto deste “Amor-feito-Encontro” e que te habita desde sempre…mesmo que tu não saibas, mesmo que tu O negues…

Então a “viagem de regresso” ao quotidiano, feito de ritmos descompassados, tornar-se-á para ti o tempo de dar um ritmo novo, sinfónico (e harmónico), ao teu viver.
O “santuário do quotidiano” será para ti o lugar da beleza e do dom, a mesa da fome de sentido e da sede de saber, e tudo isso há-de ser guiado pela certeza serena de que, desde a encarnação de Cristo,…o nosso Coração está em Deus!

Boa Solenidade do Coração de Jesus.  



«Eis o que diz o Senhor: «Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer.
Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas».
[cf. Oseias 11,1-9]




domingo, junho 03, 2012

A dança (e)terna da Vida…



A memória do coração faz-nos “acampar” tantas vezes nos recantos mais profundos da gratidão onde, na intensidade de um coração peregrino em busca da verdade, descobrimos no fio do tempo o “respirar do (e)terno”.

Descobrir isto é perceber que a “dança da vida” não é um mero “equilíbrio” entre o passado e o futuro, ela é encontro quotidiano com o Mistério, cara-a-cara e coração a coração. É por isso que viver não é desenhar [com linhas indefinidas] o acaso, mas sim construir e celebrar um sentido, traçar um rumo com determinação, audácia…e sonho.

E quão adormecido anda o sonho…

Limitamo-nos tantas vezes a aceitar passivamente que o futuro será apenas [e só!] o reflexo da neblina presente. Resignamo-nos [outras tantas vezes] a olhar o passado como uma inevitabilidade pesada (e às vezes amarga!) que temos de penosamente carregar.

E quanto ao presente…bem, quanto a isso, a rotina dos dias lá se vai encarregando de nos tentar convencer que ele é apenas uma soma de coisas, mais ou menos (com)sentidas.


Entrar na “dança (e)terna da Vida” que é a Trindade, não se faz simplesmente subindo ao “palco da vida”, é mais exigente. Pede-te antes que no “palco do quotidiano” aprendas a ser um viandante que desce, cada vez mais, e sempre mais profundamente, ao coração da Vida para aprender a “saborear por dentro todas as coisas” e assim, com o perfume do amor, encetar os passos desta dança nova, (e)terna, que te faz descobrir que há estrelas no céu mesmo quando é meio dia…e só as descobre e vê, quem se habituou a “dançar com Deus”, no coração do mundo e do tempo…com um coração de Criança.

A “dança (e)terna da Vida” continua.

Diante de ti, e em ti,
Ele começou já os [primeiros] passos…
com uma “sedução” que não ilude
mas que te desafia a mais, e a melhor.

…E tu, arriscas ou vais continuar nas tépidas rotinas em que sempre vives?


«Senhor, ensina-nos o lugar
que, no eterno romance
iniciado entre Ti e nós,
ocupa o baile especial
da nossa existência.
Revela-nos a grande orquestra dos teus desígnios,
na qual Tu semeias notas estranhas,
na serenidade do que Tu queres.
Ensina-nos a vestir todos os dias
a nossa condição humana
como um vestido de baile
que nos fará amar por Ti
todos os seus pormenores, como jóias
que não podem faltar.
Faz-nos viver a nossa vida,
não como um jogo de xadrez,
em que todos os movimentos são calculados,
não como uma partida em que tudo é difícil,
não como um teorema
que nos faz quebrar a cabeça,
mas como uma festa sem fim
em que se renove o encontro contigo.
Como um baile,
como uma dança,
entre os braços da tua graça,
na música universal do amor»  [Madeleine Delbrêl]