domingo, abril 06, 2014

A MORTE É "UMA PORTA ESCANCARADA"…




É inevitável o morrer. Nem um belo par de óculos de sol, como aqueles que vemos em todos os funerais, pode ‘ocultar’ ou ‘disfarçar’ esta realidade. Somos humanos, marcados pelo ‘dom da fragilidade’ mas também abraçados pela fé que ‘germina’ em nós o ‘dom da eternidade’. Sim, o Evangelho, Boa notícia que desperta a Vida e que dá firmeza aos nossos passos, vem ao nosso encontro, como foi ao encontro de Lázaro (Jo 11, 1-45), para nos ‘fazer sair' dos círculos viciosos de morte que tantas vezes habitamos, isto é, das nossas palavras ‘mal-ditas’, dos nossos olhares preconceituosos, das ‘etiquetas’ que facilmente colocamos, da indiferença consentida e repetida, do ‘desamor’ e da ‘amargura’ com que tantas vezes nos olhamos e olhamos o mundo.


«Uma vida ‘cheia de morte’ ou uma morte ‘cheia de Vida’?». Eis, portanto, a provocação que nos faz o Evangelho neste Domingo. Recorda-te que o Evangelho nunca nos acusa! O Evangelho estimula-nos a redescobrir sempre o melhor de nós e dos outros, desafia-nos a (re)construir com simplicidade cada encontro, gesto, palavra ou silêncio com ‘o perfume da eternidade’. É que confrontar-se com a Vida, deixar-se abraçar por ela e habitar um diálogo que vá para além da banalidade, implica não ter medo de ‘dar nome às nossas mortes’ e desperta-nos para aquele ‘essencial’ que nasce da fé e que abraça a vida por inteiro, como no diálogo de Jesus com Marta: «Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?”». Talvez nos possa então acompanhar esta semana uma pergunta: «de quanta Vida é feita a minha ‘morte’ quotidiana?».


Viver é, portanto, não adiar a ‘eternidade’, porque ela está cá, em nós e no meio de nós. Aqui. Agora! A gerar, dentro e fora de nós, a Páscoa e a despertar em nós o Reino. É que a eternidade não é um prémio (para os ‘bonzinhos’!!!) no fim da vida, ela é a ‘opção’ e o ‘estilo’ com que somos chamados a acolher, viver e celebrar a Vida. Em cada dia. Todos os dias. E nada disto é um dinamismo de ‘fuga angélica’ p’rá frente, muito pelo contrário. Revestir de eternidade cada respiro, cada tempo, encontro, gesto ou palavra significa necessariamente comprometer-se a ‘ressuscitar’ os que andam mortos pela angústia, pelo desespero, pelo ‘não-futuro’...É transformar todos os verbos passivos com que, tantas vezes, definimos a nossa existência numa ‘polifonia’ de verbos ativos de quem se sabe gerado, por amor e no amor, para uma vida bem-aventurada (Mt 5). Aquele ‘sai para fora’ com que Jesus ‘atravessa’ e ‘desafia’ a morte do seu amigo Lázaro, é o grito que ‘rompe a nossa surdez’, que desbloqueia os nossos corações fechados e que, fazendo-nos abrir os olhos, amplia os nossos horizontes e fronteiras existenciais para além do tempo e da história. É uma ‘convocação’ para a Vida! É compromisso com o quotidiano. É que onde há amor, não há morte que possa vencer…pois cada túmulo será, apenas e só, uma porta escancarada para aquela Vida (e)terna que nos dá, e a que sempre nos convida, o Evangelho.


Vem aí a Páscoa! «Somos chamados a ‘sair do túmulo’, pois Cristo não se resigna aos sepulcros que construímos com as nossas escolhas de mal e de morte» (Papa Francisco). Vais tu resignar-te? Desejo-te uma  boa ‘saída’, Boa Semana!