domingo, março 22, 2015

…SÓ SE VÊ BEM COM O CORAÇÃO!

 
Só o Amor sabe esperar e recomeçar, sabe acolher e reconciliar, sabe abrir caminhos de novidade e tornar mais próximo o futuro, a eternidade. Este ‘segredo do Evangelho’ sabe-o somente quem ousa viver com um coração peregrino. Um coração que faz de cada meta um (re)partir, um caminho de discernimento, diálogo, vida! Neste caminho não há quem vá ‘adiantado’ ou ‘atrasado’, porque o amor não tem uma hora marcada, ele, e somente ele, preenche todas as horas, cada gesto, cada respiro.

Podemos imaginar, e a alegria do Evangelho permite-nos isso sempre, como era feliz aquela doce inquietação dos gregos que tinham vindo para ‘Ver Jesus’ (cf. João 12, 20-33). Por entre o olhar e o ver, o que aqueles homens desejam realmente é o encontro. Querem deixar-se encontrar com Jesus, querem deixar-se abraçar pela Sua misericórdia, querem escutar uma palavra que não os julgue mas que os liberte, querem deixar-se contemplar pelo Único que sabe abrir portas onde todos constroem muros.

Com a clareza de Filho e Irmão, Jesus responde à doce inquietação, ao entusiasmo, daqueles gregos não com uma ‘troika’ de leis e medidas disciplinares, mas com uma oferta de sentido para o caminho: ser grão…trigo lançado no coração da humanidade para germinar o dom da Páscoa. Para isso é preciso entrar pela porta da cruz e fazer dessa ‘hora’ um escancarar do pórtico da vida, da vida plena que dá ritmo e sabor a cada gesto quotidiano. É assim que Jesus lhes desvenda e sussurra o segredo do Evangelho: para ser primavera não basta produzir flores, é preciso ter raízes fortes. Profundas. A germinarem no coração da vida.

Tal como o grão de trigo, que lançado à terra morre para produzir fruto abundante, assim também o nosso existir, os nossos caminhos, a nossa busca interior e os nossos gestos concretos devem ser habitados desta ‘fecundidade Pascal’. Não uma fecundidade ‘in vitro’ ou ‘intra muros’, sempre em busca de seguranças que nos façam viver ‘ao ataque na constante defesa’, mas aquela fecundidade dos ‘pés descalços e do coração desnudado’ que sabe suscitar primavera mesmo onde o dia parece mais sombrio ou onde a vida parece já não fazer mais sentido. E, quando na noite mais lúgubre, deixarmos de amaldiçoar a escuridão para bendizer o dom das estrelas, então sim, se abrirão em nós, de dentro para fora, os olhos do coração e veremos a realidade como um constante ‘milagre’, um dom desconcertante e gratuito, que nos oferece em cada partida ‘recomeço’ e em cada chegada ‘o calor do afeto que sabe gerar a Páscoa no coração do outro’. Com razão dizia Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos…”. BOA SEMANA!

Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor, na nossa Jerusalém quotidiana.
Abre os nossos ouvidos à Tua voz
e que os nossos olhos se abram para Te ver, Vivo e presente, no rosto de cada irmão.

Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor, como aqueles estrangeiros que não quiseram calar a sede de verdade que traziam dentro. Que os nossos corações inquietos encontrem em Ti a paz. Que os nossos caminhos mal andados encontrem em Ti um rumo. Que o peso das nossas angústias e desesperos encontrem em Ti a vida e a esperança.

Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor, com um coração de criança, simples e humilde, aberto à Tua Palavra inspiradora e ao Teu amor reconciliador. Que as nossas vidas, Senhor, sejam um grão de trigo que se multiplica e se faz pão abundante para que não falte a cada irmão a alegria Teu amor terno, da Tua Páscoa.

Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor,…


terça-feira, março 10, 2015

DEUS NÃO GOSTA DE PORTAS FECHADAS…

Como ‘nómadas’ e ‘peregrinos’ vamos vivendo, na complexidade do nosso quotidiano, momentos de encontro e de desencontro com Deus e com os outros. Sabemos que a nossa busca interior é feita de recomeços e, anima-nos a certeza de que o caminho que Deus faz para nos procurar é tecido, serenamente, pelo coração do Pai com a filigrana da ternura e da misericórdia.

O Evangelho, esta semana, desnuda-nos e coloca diante dos nossos olhos e do nosso coração a ‘falsificação’ que todos, tantas vezes exterior e/ou interiormente, vamos fazendo da nossa relação com Deus. Da Fé queremos apenas a ‘religião’, do templo apenas um lugar onde ‘incensar’ as nossas vaidades e do átrio da vida um banco para nos sentarmos acomodadamente e podermos, sem sobressaltos, ‘comercializar’ as nossas idolatrias.

Mesmo sabendo que Deus não gosta de portas fechadas, continuamos a querer ‘aprisioná-lo’ por entre os muros que criámos à nossa medida. Queremos um Evangelho ‘emoldurado’, uma vida cristã cheia de ‘reumatismo espiritual’ e, acima de tudo, continuamos a desejar (soberbamente!) que os outros correspondam simplesmente às nossas expectativas…incluindo nessa ‘listinha’ também o próprio Deus! É de tudo isso que Jesus nos liberta esta semana quando ‘joga por terra’ tudo o que nos desumaniza e tudo aquilo que desumaniza a fé e quer fazer dela uma ‘religião de bem comportadinhos’ (cf. João 2,13-25).

Como escreveu sabiamente Don Tonino Bello em 1990: “Hoje o problema mais urgente nas nossas comunidades cristãs não é aquele de ‘inaugurar’ portas que se abrem para dentro do espaço sagrado. O problema mais dramático dos nossos dias é aquele de abrir as portas do interior do templo para a praça. É desta simbologia que temos necessidade! Para nos fazer compreender que o intimismo tranquilizador das nossas liturgias torna-se ambíguo se não se escancara aos espaços do território profano. E para afirmar que o rito deve chegar aos átrios, entrar nos condomínios, deter-se nas paragens e tocar o homem nos seus ‘estaleiros’ quotidianos. Caso contrário será uma fuga perigosa da realidade».

É hora de sair do nosso ‘santuário interior’. É hora de ‘escancarar’ as portas do templo da vida e sair ao encontro de todos os que continuam a não ter lugar na mesa, a não ter o pão quotidiano, a não ter trabalho, saúde…a não ter um abraço e uma palavra de conforto. Todas as portas foram feitas para serem abertas. Quantas em ti ainda continuam fechadas?...BOA SEMANA!

Faz-nos sair do templo, ó Pai,
Do templo das nossas idolatrias,
Dos nossos conformismos e acomodações.

Faz-nos sair do templo, ó Pai,
E conduz-nos pela mão até à praça
Para que possamos anunciar aí
As maravilhas do teu amor,
Sem muros nem defesas,
Sem autoritarismo ou vaidade,
Sem legalismo ou banalidade…

Faz-nos sair do templo, ó Pai,
E de tudo o que nos serve de desculpa
Para não nos comprometermos contigo e com o Reino.

Desassossega-nos,
Chama-nos,
Leva-nos pela mão, pois somos frágeis,
Modela os nossos corações com a Tua ternura
E transforma-nos com a Tua misericórdia.

Faz-nos discípulos missionários
Cheios de alegria pascal nos lábios, no coração e na vida.
Faz-nos sair do templo, ó Pai,…