Só o Amor sabe esperar e recomeçar, sabe acolher e reconciliar, sabe
abrir caminhos de novidade e tornar mais próximo o futuro, a eternidade. Este ‘segredo
do Evangelho’ sabe-o somente quem ousa viver com um coração peregrino. Um
coração que faz de cada meta um (re)partir, um caminho de discernimento,
diálogo, vida! Neste caminho não há quem vá ‘adiantado’ ou ‘atrasado’, porque o
amor não tem uma hora marcada, ele, e somente ele, preenche todas as horas, cada
gesto, cada respiro.
Podemos imaginar, e a alegria do Evangelho permite-nos isso sempre,
como era feliz aquela doce inquietação dos gregos que tinham vindo para ‘Ver
Jesus’ (cf. João 12, 20-33). Por entre o olhar e o ver, o que aqueles homens desejam
realmente é o encontro. Querem deixar-se encontrar com Jesus, querem deixar-se
abraçar pela Sua misericórdia, querem escutar uma palavra que não os julgue mas
que os liberte, querem deixar-se contemplar pelo Único que sabe abrir portas
onde todos constroem muros.
Com a clareza de Filho e Irmão, Jesus responde à doce inquietação, ao
entusiasmo, daqueles gregos não com uma ‘troika’ de leis e medidas disciplinares,
mas com uma oferta de sentido para o caminho: ser grão…trigo lançado no coração
da humanidade para germinar o dom da Páscoa. Para isso é preciso entrar pela
porta da cruz e fazer dessa ‘hora’ um escancarar do pórtico da vida, da vida
plena que dá ritmo e sabor a cada gesto quotidiano. É assim que Jesus lhes desvenda
e sussurra o segredo do Evangelho: para ser primavera não basta produzir
flores, é preciso ter raízes fortes. Profundas. A germinarem no coração da vida.
Tal como o grão de trigo, que lançado à terra morre para produzir fruto
abundante, assim também o nosso existir, os nossos caminhos, a nossa busca
interior e os nossos gestos concretos devem ser habitados desta ‘fecundidade Pascal’.
Não uma fecundidade ‘in vitro’ ou ‘intra muros’, sempre em busca de seguranças
que nos façam viver ‘ao ataque na constante defesa’, mas aquela fecundidade dos
‘pés descalços e do coração desnudado’ que sabe suscitar primavera mesmo onde o
dia parece mais sombrio ou onde a vida parece já não fazer mais sentido. E,
quando na noite mais lúgubre, deixarmos de amaldiçoar a escuridão para bendizer
o dom das estrelas, então sim, se abrirão em nós, de dentro para fora, os olhos
do coração e veremos a realidade como um constante ‘milagre’, um dom
desconcertante e gratuito, que nos oferece em cada partida ‘recomeço’ e em cada
chegada ‘o calor do afeto que sabe gerar a Páscoa no coração do outro’. Com razão
dizia Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos…”. BOA SEMANA!
Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor, na nossa
Jerusalém quotidiana.
Abre os nossos ouvidos à Tua voz
e que os nossos olhos se abram para Te ver, Vivo e presente, no rosto de cada irmão.
Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor, como
aqueles estrangeiros que não quiseram calar a sede de verdade que traziam
dentro. Que os nossos corações inquietos encontrem em Ti a paz. Que os nossos
caminhos mal andados encontrem em Ti um rumo. Que o peso das nossas angústias e
desesperos encontrem em Ti a vida e a esperança.
Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor, com um
coração de criança, simples e humilde, aberto à Tua Palavra inspiradora e ao
Teu amor reconciliador. Que as nossas vidas, Senhor, sejam um grão de trigo que
se multiplica e se faz
pão abundante para que não falte a cada irmão a alegria Teu amor terno, da Tua
Páscoa.
Faz-nos ir ao Teu encontro, Senhor,…