Quem já viveu a experiência do sofrimento sabe bem como é a inquietação do
coração quando, durante a noite, vigia para que o outro que sofre não se sinta
só e tenha tudo o que necessitar. Ser ‘visitado’ pelo sofrimento é entrar numa
escola onde se (re)aprende o que é verdadeiramente humano. Os pequenos gestos,
que se tornam em gestos decisivos e fundamentais; as pequenas carícias, que
devolvem a esperança e são um bálsamo para as dores; as palavras que ganham outra
densidade, pois diz-se apenas o essencial e o silêncio gera uma cumplicidade
que se traduz em olhos que contemplam…mesmo se inundados pelas lágrimas. Perto ou
longe tu já viveste esta experiência!
Parto desta experiência vital para te falar de um dos segredos mais belo do
Evangelho: Acreditar na vida depois do nascimento! Sim, quando Jesus nos fala
do seu Reino como ‘semente lançada à terra’ (Marcos 4, 26-34), fala-nos desta capacidade de semear
(e enraizar!), no que é finito, a eternidade. Fala-nos de um dom que se planta
com liberdade, que germina e cresce com a vulnerabilidade da ternura de quem
sabe acompanhar e que produz um fruto que se torna alimento e abrigo para os
que de coração humilde sabem ver (e acolher!), no tempo, essa novidade que
converte a vida: o Evangelho!
A semente plantada no coração do mundo és tu. Sou eu. Somos nós! E, uma vez
que todas as grandes transformações acontecem de dentro para fora, consegues já
ver o que Deus está a semear em ti e contigo? Com razão alguém disse um dia “só
quem acredita no que é pequeno, sabe ver o que Deus faz!”…e tu, Acreditas na
vida depois do nascimento? Deixo-te com uma história que talvez já conheças,
mas que é sempre bom (re)ler…e ACREDITAR! Boa Semana!
«No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebés. O primeiro
pergunta ao outro:
- Acreditas na vida depois do nascimento?
- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos
aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais
tarde.
- Que estupidez, não há vida após o nascimento. Como seria essa vida?
- Eu não sei exactamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui.
Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É
totalmente ridículo! O cordão umbilical alimenta-nos. Eu digo somente uma coisa:
A vida após o nascimento está excluída, o cordão umbilical é muito curto.
- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente
do que estamos habituados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas
encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia
prolongada na escuridão.
- Bem, eu não sei exactamente como será depois do nascimento, mas
com certeza veremos a mamã e ela cuidará de nós.
- Mamã? Acreditas na mamã? E onde ela supostamente está?
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela
tudo isso não existiria.
- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamã, por isso é claro que não
existe nenhuma.
- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la
cantando, ou sente, como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a
vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela...»