terça-feira, fevereiro 23, 2016

DE DENTRO PARA FORA...

Para crescer, é preciso aprender a escutar. Para amar, é preciso dar-se. Para ver, não bastam os olhos, é preciso também o coração. Para caminhar, não basta saber onde se deve ir, é preciso dar passos concretos, ter a ‘ousadia do primeiro passo’...pois, para quem tem fé, o futuro é sempre desconhecido, mas nunca é incerto.

Há vidas tão cinzentas e tão às escuras, há vidas sem ‘cheiro’, sem afeto, de sentimentos reprimidos e de vaidades cada vez mais ‘inchadas’...há vidas que querem saborear apenas ‘o imediato’ e jamais se permitem degustar o Eterno. Há vidas que vivem esmagadas pela ‘fatalidade do passado’ e jamais arriscam voltar-se para o futuro.

O Caminho para a Páscoa é convite à ‘Metanoia’ (conversão). Não se trata só ‘mudar dentro’, mas ‘de dentro para fora’, num movimento que nasce na ‘intimidade mais intima’ e nos lança no encontro com o quotidiano. Um quotidiano que queremos encher de luz, de cor, de ‘perfume’, de coração e sabedoria, de discernimento e ousadia.

A Transfiguração de Jesus vem perguntar-te então: que tipo de homem/mulher queres ser tu: dos que arriscam (como Abraão) ou dos que se resignam numa passividade interminável? É que “Transfigurar” a vida, o nosso quotidiano, é muito mais do que fazer coisas…é, acima de tudo, encontrar um sentido para tudo o que se faz. E Nessa busca Deus é sempre o primeiro a acreditar em Ti, também tu és: “O filho muito amado”.




Talvez possas sussurrar ao coração de Deus esta oração:

Senhor, abre os nossos ouvidos à Tua voz
E rasga os nossos corações
com a ternura da Tua Palavra.
Transfigura os nossos dias,
Com o Teu amor feito Páscoa,
faz brilhar nas nossas trevas a luz do teu perdão,
e faz que os nossos gestos e palavras 
nunca sejam de vaidade e orgulho.
Reveste-nos de coragem para não cairmos na indolência
De quem se resigna a ver a vida passar…
E, no fim, dá-nos a alegria plena de viver para sempre contigo

*Algumas dicas para Transfigurar a vida quotidiana (abraçar +, escutar +, elogiar +, acolher +, contemplar +, rezar +,...)


quinta-feira, fevereiro 11, 2016

...A PÁSCOA CHAMA POR NÓS!


“De quanta rotina foi feita a tua última quaresma?”. Talvez tenhamos que começar por esta provocadora-inquietação para nos definirmos diante de mais uma quaresma que hoje inicia. As rotinas não são necessariamente más, há ‘bons hábitos’ que somos chamados a repetir quotidianamente e, quanto mais os repetirmos, mais aprenderemos a pisar o terreno sagrado de uma vida espiritual transbordante de intimidade com Deus e de comunhão com os irmãos. Quem se cansa da boa rotina do ‘bom dia’, de um abraço demorado, um olhar pleno de ternura, um silêncio afetuoso, uma palavra encorajadora...? São os pequenos-milagres-quotidianos feitos com a simplicidade de um coração habitado pelo Evangelho.

Mas, voltemos às rotinas. Há palavras que de tanto as escutarmos se tornaram, talvez, um refrão para uma determinada ‘dormência espiritual’, deixando-nos como que ‘anestesiados’ e em modo ‘piloto automático’. Uma dessas palavras é ‘Quaresma’, essa nobre senhora vestida de roxo que desperta, pelo menos anualmente, para um ar taciturno e compungido. Outra das rotinas traduz-se na companhia que essa nobre senhora traz consigo: o Jejum, a Oração e a Esmola. Atitudes e práticas cada vez mais ‘neutralizadas’, basta lembrar que para muitos o Jejum virou ‘dieta’, a Oração uma prática ‘zen’ que não compromete muito a vida e a Esmola virou ‘uma ajudinha para os pobres’, de preferência algo que sobre na carteira ou no imenso guarda-roupa lá de casa.

É paradoxal como tudo se vá transformando em ‘rotineiro’ e ‘descartável’! No dia em que (re)descobrirmos que a Oração é para nos ajudar a ter Discernimento, isto é, sabedoria para ‘pesar a vida’ com o que ela tem de essencial e não nos deixarmos manipular; que o Jejum é desafio a educar a nossa vontade, para não vivermos ao sabor da emoção e/ou mergulhados no amargo da desilusão; e que a Esmola é o fruto maduro de um coração cheio de Evangelho que não se deixou vencer pela indiferença...nesse dia ‘perfumaremos o rosto’, sairemos irradiantes para a praça e, com todos os irmãos, cantaremos eternamente o dom da misericórdia do Pai.

Que o nosso coração desperte para que “não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo. (...) será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina” (Papa Francisco, Misericordiae Vultus).


A Páscoa chama por nós...e já vem ao nosso encontro! Traz no seu corpo as marcas da Paixão, nos lábios a Eternidade e no coração um Caminho novo para a casa do Pai que, cheio de afeto e ternura, nos sussurra: “ESPEREI POR TI TODOS OS DIAS. A MESA ESTÁ POSTA. VAMOS FAZER FESTA?!”. 


"Cantarei ao Senhor, enquanto viver;
Louvarei o meu Deus enquanto existir.
Nele encontro a minha alegria
Nele encontro a minha alegria"


segunda-feira, fevereiro 08, 2016

DÁ-ME O TEU ‘NADA’, SEREI O TEU TUDO!

Um dia que tinha sido igual a tantos outros...Aqueles pobres pescadores lavavam, provavelmente, as redes da sua desilusão (Lc 5, 1-11). Aparentemente tudo é derrota... No coração daqueles pobres pescadores tinham-se fechado as portas do futuro, o presente era amargo e o peso do fracasso do passado era demasiado duro para ser verdade. É fácil para nós imaginar o que seria chegar a casa, mais uma vez, sem nada para colocar na mesa!

Não podemos negar que fomos educados para vencer sempre, somos filhos da cultura ‘super-homens’. Vencer foi sempre a palavra de ordem e ‘perder’ um impossível que dá nós no estômago e gera ansiedade. Errar? nem pensar! Somente os outros. Foi assim, aos poucos, que todos nós fomos introduzidos num tempo e cultura onde a vulnerabilidade foi sendo confundida com fraqueza e, como tal, “dos fracos não reza história!”. Sentença maldita que nos foi anestesiando e convencendo que a vulnerabilidade era uma maldição.  
A vulnerabilidade é sempre o começo de qualquer história, da nossa história pessoal, ela nos ensina a não vivermos ‘cheios de nós’, nos desperta para confiar, e nos interpela a alargar as fronteiras do coração e da vida, a deixarmo-nos tocar pela ternura sem termos medo de ser feridos, pois é próprio do amor moldar para curar.

Na voz de Cristo que interpela Pedro, e a sua fragilidade, vai um apelo: “deixa-te tocar. Aceita que não podes tudo sozinho. Reconhece, pelo menos hoje, o que vai dentro de ti...e confia!”. Pedro ouve este sussurro na alma e, surpreendido pela medida do Evangelho, percebe que é hora de recomeçar! De coração aberto e com a simplicidade de quem sabe que só o amor cura e salva, Pedro responde com a mais bela expressão que um coração em festa pode ter quando se encontra com o Deus-Amor: “Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador”.

Com aquele Pe(s)cador Jesus começa uma nova etapa na ‘peregrinação interior’ que é chamado a fazer cada coração humano. O Mestre escolhe um coração inquieto para levar a Paz; Para falar do Céu, escolhe um homem com os pés na terra; Para oferecer Eternidade, escolhe um homem habituado a navegar na noite; Para Perdoar, escolhe um pecador que escutou a Sua voz...é que o Reino de Deus não nos pede, como ponto de partida, que sejamos já perfeitos, pede-nos somente que o coração esteja disponível. É assim também que o Mestre sussurra à nossa alma a medida para esta semana: “Dá-me o teu ‘nada’, serei o teu tudo!”. Aceitas? Boa Semana!