terça-feira, abril 26, 2016

NÃO É UTOPIA...É EVANGELHO!


Não há nada mais vulnerável no mundo do que o Amor. No entanto, toda essa sua vulnerabilidade nos revela um paradoxo extraordinariamente belo: na sua fragilidade (omni)potente o Amor cria, cura, liberta, transforma, converte. Basta ver o que pode o abraço amoroso do pai após uma queda quando somos pequenos; e quem já esqueceu o calor da ternura da mãe que vigiava, de noite, o nosso respirar enquanto dormíamos? Ficarão para sempre impressas na nossa alma as palavras e as carícias que enxugaram as nossas lágrimas quando se feriram os nossos joelhos nas primeiras quedas da infância; continuaremos a ‘degustar eternamente’ o colo que sempre foi amparo quando os medos pareciam mais fortes que a coragem.


O amor adianta-se sempre para perdoar. Cria laços e desperta recomeços. Faz-nos dançar, pular e cantar de alegria. Faz-nos ajoelhar para agradecer e servir. Faz-nos caminhar porque desperta sonhos e alimenta projetos. Faz-nos calar, pois sabe acolher, escutar e discernir. Faz-nos parar para contemplar, pois nos ensina a ver o eterno no instante. Cheio de beleza, e com o perfume do afeto, o amor faz-nos peregrinos em busca da sabedoria que nasce do encontro com a verdade. Faz-nos discípulos quando se revela a nós como Amor-Pascal, Amor-Crucificado, Amor-Ressuscitado.


É com este Amor, que faz novas todas as coisas (Apoc. 21, 5), que nos abraça a Palavra desta semana! Mais que um ‘mandamento’, é uma ‘identidade nova’. No tempo e na história, não haverá nunca outro modo de conhecer e reconhecer um discípulo de Cristo a não ser por este Amor-Pascal que tudo renova, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1 Cor 13). Naquele “Como eu vos amei” do Mestre, está o início da maior revolução da história da humanidade (Jo 13). Não poderemos mais viver ‘na defesa’ ou ‘no ataque’, não mais poderemos separar ‘maniqueísticamente’ o mundo entre ‘os bons’ e ‘os maus’, jamais se poderá grampear com o Amor-Pascal palavras como poder, luxo, auto-suficiência...


O Amor-Pascal é sempre oferta de recomeço, Ele mesmo sabe que estamos ainda titubeando no caminho! Só Ele nos pode despertar da acomodação e entusiasmar a fazer caminho.


Estamos diante da ‘porta da fé’ (actos 14, 27), que se abre de dentro para fora, e nos interpela a derrubar as nossas idolatrias com a força vulnerável do único Amor que salva. Um Amor que não é novela, nem a banalidade do ‘happy end’ de hollywood.


No Amor-Pascal estamos sempre no (re)começo, pois “Jesus Cristo quer [que sejamos] uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade” (AL 308). Um amor que não toque a fragilidade, que não abrace as periferias, que não se deixe ‘sujar’... não é amor cristão! Um Amor assim não é utopia, é Evangelho! Boa Semana.



quarta-feira, abril 13, 2016

O (A)MAR DE POSSIBILIDADES...



Há perguntas que nos acompanham uma vida inteira! São elas que dinamizam cada amanhecer e nos trazem aquela ‘doce certeza’ que preenche cada gesto quotidiano com a Esperança que nasce da Fé. No caminho, cada encontro é um Milagre, cada olhar uma contemplação do Mistério, cada abraço um ‘sacramento quotidiano’ que converte e fortalece a vida com o dom sempre vulnerável da ternura Pascal!

É neste (a)mar, cheio de Vida Pascal, que o Crucificado-Ressuscitado nos encontra esta semana e nos convida a estreitar tudo aquilo que nos distancia das margens, a abandonar em modo definitivo o mar da desilusão, da ‘vida velha’ em que todos insistimos viver, para mergulharmos mais profundamente nesse (a)mar novo onde Ele não nos deixa sucumbir na amargura de insiste apenas (sobre)viver num ‘ruminar’ constante do passado.

No (a)mar da vida e da história pessoal de cada um de nós há caminhos novos que é preciso percorrer com determinação! E Deus quer-nos cheios de futuro. Para Ele somos um (a)mar de possibilidades, um infinito de amor cheio de muitos ‘sins’ para dar ao projeto de Eternidade que Ele desenha em cada passo do nosso caminho e no mais profundo do nosso coração.

Deus-Amor, cujo Rosto contemplamos em Jesus, não nos quer acomodados a repetir um passado estéril ou o peso de uma rotina que não nos converta a vida e o coração. Na hora de correr o risco de abraçar o que é ‘novo’, Deus é o primeiro a tomar a iniciativa em Jesus! Vem ao nosso encontro para alimentar a nossa ‘mendicidade’ com o único ‘Pão e Peixe’ que nos devolve a consciência de que somos Filhos. É assim que Deus (re)começa esta nossa passagem (=Páscoa) no (a)mar.

“Ninguém pode ser condenado para sempre, essa não é a lógica do Evangelho” (Papa Francisco). Determinante para Deus é sempre o caminho que está ainda por fazer! Deus esconde o nosso passado no coração de Cristo e n’Ele abre para nós caminhos novos onde o perdão e a ternura, a vida e o sonho ‘dançam’ prazerosamente a suave melodia do reino novo de Justiça, Paz e Alegria no Espírito Santo. É assim que Ele nos quer! Ritmados pela Páscoa e a fazer de cada encontro um (a)mar de possibilidades.

Deus gosta de horizontes largos! Seja nas margens do Jordão, no mar de Tiberíades ou no mais profundo do nosso ser. É aí que acontece sempre a ‘sedução’ e o fascínio daquele ‘primeiro encontro’ e ‘primeiro olhar’ que muda a vida, converte o coração e nos faz discípulos para sempre.

No (a)mar da vida, Cristo continua a vir ao nosso encontro. Com Seu Amor Pascal fixa em nós o Seu olhar e interpela-te: “Tu, amas-Me?”. Somente o Amor se antecipa e acolhe...e só Ele pode oferecer recomeço (Jo 21, 1-19)! BOA SEMANA!



segunda-feira, abril 04, 2016

MISERICÓRDIA: O AMOR QUE NÃO DESISTE DE RECOMEÇAR!

Caro Tomé,
Há já muito tempo que ando para te escrever. Sempre tive muita curiosidade em falar contigo mas tenho andado tão a correr que só me recordo que temos de marcar um encontro nesta altura do ano! No Domingo, uma vez mais, ouvi falar de ti. Estranha aquela forma como te chamavam (“Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo” - Dídymos é, na verdade, a tradução literal em grego do aramaico Toma’ [= «Gémeo»]). E percebi como há, afinal, um ‘parentesco’ que nos une.

Também eu sou teu gémeo no meio das minhas ‘incredulidades quotidianas’, quando me recuso a aceitar que na vida há uma dimensão de ‘Mistério’ que não chegarei mais a compreender plenamente e, como tal, não adianta nada insistir e persistir em querer ‘ver’ tudo ou ‘tocar’ (= dominar) todas as realidades. 
Também eu sou teu gémeo quando me ‘tranco’ na casa sempre cómoda de não acreditar no testemunho dos outros, achando ‘mil vezes’ que só eu posso ter razão e ser a última palavra sobre determinada matéria, assunto…e bem sabes também quantas vezes vivo de ‘opiniões’ e sem ‘ideias’ ou ‘ideais’!
Também eu sou teu gémeo quando me esqueço que no quotidiano nem tudo são ‘sinais’ mas que a vida é sempre um ‘Milagre’.
Também eu sou teu gémeo, neste dia e nesta hora, quando me deixo ‘vencer’ por este Amor-Divino (= Misericórdia) que não me acusa, nem me recusa, mas me dá a possibilidade de recomeçar a estrada da Fé e da confiança.
Também eu sou teu gémeo quando a minha oração são as tuas palavras: “Meu Senhor e meu Deus!”.

Sabes, Tomé, partilho contigo algumas mudanças que o Mestre, e a Sua Páscoa, têm realizado em mim:

Vou descobrindo, cada vez mais, que a misericórdia de Deus é o amor que ‘não resiste’ (= não cria obstáculos) e que ‘não desiste’ (= sempre pronto a recomeçar). E tenho procurado, em cada dia e passo-a-passo, crescer na confiança. Sei o quanto é difícil amar com um coração com ‘cicatrizes’, fruto de algumas mágoas que durante muito tempo carreguei dentro de mim, mas posso dizer-te que é muito libertador aceitar a ‘vitória’ do perdão; Afinal só o amor pode curar, e fechar, as mágoas, fazendo de cada ‘cicatriz’ um convite a amar mais, a amar sempre.
Vou descobrindo, também, desde que aceitei ser discípulo, que a Fé não é uma questão de ‘medo de Deus’ mas é a porta para entrar no Amor de Deus, no Seu coração, e para ‘acampar’ aí, deixando que em cada dia, em cada respiro, esse Amor dê ritmo, forma, saber e sabor a cada coisa que sou e faço. 
Com a tua experiência de discípulo deves, portanto, imaginar quantas outras coisas tenho descoberto: tenho andado a aprender a ‘ler’ no rosto de cada pessoa a ‘imagem de Deus’, a pouco e pouco vou também descobrindo a Igreja como ‘A casa do(s) Ressuscitado(s)’…e, sabes, desde que descobri que o medo em mim só terá o espaço que eu lhe quiser dar, tenho tido uma alegria imensa, infinita e serena, no meu coração que em cada dia me vai dando coragem, determinação e audácia para perdoar, para recomeçar, para anunciar. 
Olha Tomé, ouvindo o Evangelho neste Domingo, pensava também no facto do meu coração se estar a transformar, a pouco e pouco, como o teu naquele cenáculo onde Ele te encontrou fechado e cheio de medo [Jo 20, 19-31]. 
Com o ‘perfume do Espírito Santo’ e com a ‘vitória do Amor sobre a morte’ também em mim se começam a escancarar as portas, a abrir caminhos novos, desenhados pela alegria de crer e pelo entusiasmo de comunicar esta Fé que é dom e missão, que é compromisso responsável com o irmão…porque afinal, Crer e Amar, não são apenas sinónimos, são uma identidade e uma condição para quem aceita o ‘escândalo’ de ser discípulo d’Aquele que é o ‘Amor de todo o amor’.

Meu caro Tomé, esta carta já vai longa. Sei que por estes dias andas cheio de entusiasmo a falar d’Ele, a doar em nome d’Ele o perdão e a consolação de Deus aos que se sentem sós, cansados, esquecidos. Aqui, onde vivo o meu quotidiano, irei tentar fazer o mesmo, pois até nisso quero ser teu gémeo. Em breve voltarei a escrever-te! Um abraço. E boa páscoa também para ti meu irmão.

*P.S. Tomé, sempre que houver ‘actualizações’ (= Páscoa) na tua condição de discípulo não hesites em partilhá-las, mesmo que seja no facebook, pois nunca se sabe o quanto isso pode ser útil, dinamizador, para tantos outros ‘teus gémeos’ que habitam o 'continente digital' ;)