domingo, agosto 06, 2017

O AMOR, ESCUTAI-O!


De quanta escuta é feita a tua vida?...

A fé cristã vive da escuta. Sempre que escutamos reencontramo-nos! É difícil escutar...vivemos hoje tão freneticamente cheios de ruído à nossa volta que facilmente nos acomodamos e cedemos à ‘tentação do barulho’...sempre que deixo de escutar, desumanizo-me.

Na grande peregrinação da fé, escutar não é atitude passiva, é o ‘coração do encontro’ com um Deus que é diálogo, comunhão, Trindade. Só escuta quem é capaz de amar...o orgulhoso ‘não tem tempo’, ‘não pode’ e ‘não sabe’ escutar...Também não basta ter ouvidos, para escutar é preciso ter coração (bom!), um coração que se (co)move, que se deixa ‘ferir’ e não se entrega à indiferença, um coração mais disposto a abraçar do que  a julgar...Se a escuta fosse o paradigma do nosso cotidiano, seriamos menos juízes e mais irmãos; ousaríamos mais, em vez de sermos ‘escravos do medo’; e, como a fé nasce da escuta, nosso discipulado e seguimento de Jesus seria mais criativo, mais cheio da alegria do ‘Reino’ e menos cheios das lamentações!

É a escuta que transfigura a vida! A Palavra de Deus que nos alimenta esta semana desperta-nos, mais uma vez, para essa urgência da “Escuta que faz seguir”(Mt 17, 1-9)...O encontro com Aquele que é a Luz dos Povos (LG) vence as nossas escuridões interiores e impede-nos que cedamos à tentação de estacionarmos no já conquistado. O Encontro com Jesus exige desapego. O Seu seguimento pede-nos 'determinação batismal', isto é, encher o cotidiano com um novo sabor e uma nova luz, não foi á toa que Ele nos disse que era ‘o Pão da vida’, a ‘Luz do mundo’!

O tempo que vivemos, a história que habitamos, não se compadece com um ‘cristianismo de escuridão’...É preciso ir além, ir mais longe, ir mais profundamente! Este (re)começo só pode ser feito a partir da escuta. É nela que os nossos passos ganham a densidade do (e)terno.


Olhos contemplativos, mente que reflete e coração aberto...eis o ‘mapa existencial’ para uma oportuna revisão de vida. Em tempo de férias e de (re)começos talvez seja o momento para  ‘transfigurar as nossas rotinas’...recomeçamos com uma pergunta: De quanta escuta é feita a tua vida?. Boa semana! Boas Férias!


"Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
“Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança"


(Khalil Gibran, in O Profeta)

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