domingo, dezembro 24, 2017

UM NATAL 'SUBVERSIVO'...


O Natal recorda-nos que Deus fez uma escolha: escolheu ser pobre. Não cedeu aos caprichos do Império Romano, símbolo do poder que subjuga e escraviza; Não cedeu aos caprichos religiosos de quem desejava um deus encerrado num templo e ‘domesticado’ pela vontade dos homens; Não cedeu à ‘falsa esperança’ de ser um poderoso guerreiro com ‘ódios de estimação’; Não cedeu aos preconceitos nacionalistas de ser ‘um deus só para alguns eleitos’; Não cedeu à falsa expectativa de se apresentar como um ‘deus-sádico’; não cedeu à tentação de se fazer conhecer como um deus ‘onipotente-vingativo’...

Subvertendo todas as lógicas, e purificando todas as nossas (falsas!) expectativas, em Jesus, Deus revela-se como um Deus de Ternura e Misericórdia, um Deus que não se cala diante da injustiça, um Deus que faz das periferias o centro, um Deus que nos traz uma paz que não é anestesia, nem ‘paz de cemitério’, mas compromisso em restituir dignidade; um Deus que se apresenta aos homens como fiel companheiro de viagem pelas estradas da vida, um Deus que rejubila com as nossas conquistas, um Deus que beija e cura as nossas feridas, um Deus que nos liberta de ‘tudo o que pesa dentro de nós’ e, com a força do perdão, nos ensina que toda a vida é feita de recomeços...Um Deus ‘pequenino’ que deseja tornar ‘grande’ o nosso existir.

Diante do presépio, e a partir dele, há uma lógica ‘subversiva’ que nos interpela. Ali, Deus recorda-nos que a experiência de fé nunca pode ser ‘superficial’ ou ‘banal’, pede-nos que não nos deixemos ‘convencer’ por uma religiosidade da ‘aparência’ e provoca-nos a tocar todas as feridas da humanidade, a caminhar delicadamente no território sagrado que é cada pessoa, a escutar ‘divinamente’, antepondo a misericórdia ao julgamento.


A partir de Belém, daquela manjedoura onde Ele assumiu nossa carne, o Céu não nos pede para ‘sermos bonzinhos’, mas sim para sermos humanos, plenamente humanos, tão humanos...que com Cristo, e em Cristo, nos tornemos divinos. FELIZ NATAL!



terça-feira, dezembro 05, 2017

O RISCO DO ENCONTRO...


Trazemos dentro de nós o poder de transformar vidas: palavras que salvam, gestos que curam, olhares que libertam, toques que transformam. É com esta perspectiva que mergulho neste Advento! É com esta ‘vigilância’ (não policial, mas evangélica!) que aceito percorrer um caminho que será tecido pela filigrana da fé e dos afetos, da Esperança e do Silêncio.

Muitos confundem o advento com ‘imobilização’ pensando que ele é (apenas) tempo de espera. Mas esperar (ou ter Esperança!) exige de nós atitude, determinação, exige que o nosso coração se mova, que nossos olhos se abram, que nossos lábios aprendam a sussurrar e a degustar cada palavra com a ternura que converte. Advento não é ficar ‘estacionado’ na garantia de que Deus continua a agir, a mover-se para nós e em nós. O Advento pede-nos que acolhamos o “Verbo procedente do Silêncio” (Inácio de Antioquia). É caso para nos perguntarmos, agora que iniciou mais um ano litúrgico: onde estava no último advento? De onde estou (re)partindo neste Advento?...

A Palavra da Vida, que escutámos no último Domingo, recordava-nos que o primeiro passo do nosso Advento deve ser a confiança. Temos um Pai! Um Pai que nos procura, um oleiro que nos molda sem nos esmagar, um Pai-peregrino que nos acompanha, consola e, mesmo diante das nossas rebeldias, não recua...antes se apressa para nos envolver num (e)terno abraço que nos aquece o coração e nos (re)lembra que na vida da fé o ‘milagre do recomeço’ dá solidez aos nossos passos.

Para perscrutarmos os sinais da Sua presença, e corrermos para Seus braços, a boa notícia do Evangelho recordava-nos que precisamos ‘vigiar’. E o que é afinal essa vigilância? Esse é o segundo passo do nosso caminho. Vigiar significa essencialmente estar desperto, estar acordado...não deixar que a ‘sonolência espiritual’ feche os olhos do nosso coração e da nossa vida. Advento é caminho para o Encontro! Se adormecermos, não faremos esta peregrinação que nos mostrará que “Ele está no meio de nós”!

Com todos estes desafios diante da vida, inteligência e do coração e, relendo alguns números da Evangelii Gaudium do Papa Francisco, onde diz: “O Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura. (...) o desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus” (Evangelii Gaudium nº 88-89), dei por mim a pensar: e se o nosso Advento de 2017 fosse tempo para uma redescoberta do Pai Nosso?...Boa Semana!


O que te proponho:

1. Começa por escrever/colocar no teu diário, num papel em cima da tua mesa de trabalho ou noutro local à tua escolha, o texto do Pai Nosso.

2. Pelo menos 3x ao dia, para 5 minutos e reza tranquilamente.

3. Se quiseres podes seguir este esquema, começando em cada Domingo e deixando que ele faça eco no teu caminho semanal:

I Domingo – Tomo consciência da presença de Deus em minha vida como um Pai que molda, transforma e santifico o Seu nome sendo ternura e consolação para os outros.

“Pai Nosso que estais nos céus,
santificado seja o vosso Nome”

II Domingo – Preparo o meu coração para acolher e construir o Reino procurando ser honesto, acolhedor de quem pensa diferente de mim e aprendendo a dialogar com serenidade.

“Venha a nós o vosso Reino,
seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”

III Domingo – Vivo a Alegria do Evangelho tendo durante esta semana um gesto concreto de partilha.

“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”

IV Domingo – Celebro o dom do Natal de Jesus procurando reconciliar-me, com Deus e com os outros.

“Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal.