um espaço de partilha, reflexão, discussão e anuncio do amor misericordioso de um Deus loucamente enamorado por todos os que criou à sua imagem e semelhança...
O Natal recorda-nos que Deus fez
uma escolha: escolheu ser pobre. Não cedeu aos caprichos do Império Romano, símbolo
do poder que subjuga e escraviza; Não cedeu aos caprichos religiosos de quem
desejava um deus encerrado num templo e ‘domesticado’ pela vontade dos homens;
Não cedeu à ‘falsa esperança’ de ser um poderoso guerreiro com ‘ódios de
estimação’; Não cedeu aos preconceitos nacionalistas de ser ‘um deus só para
alguns eleitos’; Não cedeu à falsa expectativa de se apresentar como um ‘deus-sádico’;
não cedeu à tentação de se fazer conhecer como um deus ‘onipotente-vingativo’...
Subvertendo todas as lógicas, e
purificando todas as nossas (falsas!) expectativas, em Jesus, Deus revela-se como
um Deus de Ternura e Misericórdia, um Deus que não se cala diante da injustiça,
um Deus que faz das periferias o centro, um Deus que nos traz uma paz que não é
anestesia, nem ‘paz de cemitério’, mas compromisso em restituir dignidade; um
Deus que se apresenta aos homens como fiel companheiro de viagem pelas estradas
da vida, um Deus que rejubila com as nossas conquistas, um Deus que beija e
cura as nossas feridas, um Deus que nos liberta de ‘tudo o que pesa dentro de
nós’ e, com a força do perdão, nos ensina que toda a vida é feita de recomeços...Um
Deus ‘pequenino’ que deseja tornar ‘grande’ o nosso existir.
Diante do presépio, e a partir
dele, há uma lógica ‘subversiva’ que nos interpela. Ali, Deus recorda-nos que a
experiência de fé nunca pode ser ‘superficial’ ou ‘banal’, pede-nos que não nos
deixemos ‘convencer’ por uma religiosidade da ‘aparência’ e provoca-nos a tocar
todas as feridas da humanidade, a caminhar delicadamente no território sagrado
que é cada pessoa, a escutar ‘divinamente’, antepondo a misericórdia ao julgamento.
A partir de Belém, daquela manjedoura
onde Ele assumiu nossa carne, o Céu não nos pede para ‘sermos bonzinhos’, mas
sim para sermos humanos, plenamente humanos, tão humanos...que com Cristo, e em
Cristo, nos tornemos divinos. FELIZ NATAL!
Trazemos dentro de nós o poder
de transformar vidas: palavras que salvam, gestos que curam, olhares que
libertam, toques que transformam. É com esta perspectiva que mergulho neste
Advento! É com esta ‘vigilância’ (não policial, mas evangélica!) que aceito
percorrer um caminho que será tecido pela filigrana da fé e dos afetos, da
Esperança e do Silêncio.
Muitos confundem o advento com ‘imobilização’
pensando que ele é (apenas) tempo de espera. Mas esperar (ou ter Esperança!)
exige de nós atitude, determinação, exige que o nosso coração se mova, que
nossos olhos se abram, que nossos lábios aprendam a sussurrar e a degustar cada
palavra com a ternura que converte. Advento não é ficar ‘estacionado’ na
garantia de que Deus continua a agir, a mover-se para nós e em nós. O Advento
pede-nos que acolhamos o “Verbo procedente do Silêncio” (Inácio de Antioquia). É
caso para nos perguntarmos, agora que iniciou mais um ano litúrgico: onde
estava no último advento? De onde estou (re)partindo neste Advento?...
A Palavra da Vida, que escutámos
no último Domingo, recordava-nos que o primeiro passo do nosso Advento deve ser
a confiança. Temos um Pai! Um Pai que nos procura, um oleiro que nos molda sem
nos esmagar, um Pai-peregrino que nos acompanha, consola e, mesmo diante das
nossas rebeldias, não recua...antes se apressa para nos envolver num (e)terno
abraço que nos aquece o coração e nos (re)lembra que na vida da fé o ‘milagre
do recomeço’ dá solidez aos nossos passos.
Para perscrutarmos os sinais da
Sua presença, e corrermos para Seus braços, a boa notícia do Evangelho
recordava-nos que precisamos ‘vigiar’. E o que é afinal essa vigilância? Esse é
o segundo passo do nosso caminho. Vigiar significa essencialmente estar
desperto, estar acordado...não deixar que a ‘sonolência espiritual’ feche os
olhos do nosso coração e da nossa vida. Advento é caminho para o Encontro! Se adormecermos,
não faremos esta peregrinação que nos mostrará que “Ele está no meio de nós”!
Com todos estes desafios diante
da vida, inteligência e do coração e, relendo alguns números da Evangelii
Gaudium do Papa Francisco, onde diz: “O Evangelho convida-nos sempre a abraçar
o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que
interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria
contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito
carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço,
da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus
convidou-nos à revolução da ternura. (...) o desafio que hoje se nos apresenta
é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham
de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem
compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os
cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão
solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não
humanizam nem dão glória a Deus” (Evangelii Gaudium nº 88-89), dei por mim a
pensar: e se o nosso Advento de 2017 fosse tempo para uma redescoberta do Pai Nosso?...Boa Semana!
O
que te proponho:
1.
Começa por escrever/colocar no teu diário, num papel em cima da tua mesa de
trabalho ou noutro local à tua escolha, o texto do Pai Nosso.
2.
Pelo menos 3x ao dia, para 5 minutos e reza tranquilamente.
3.
Se quiseres podes seguir este esquema, começando em cada Domingo e deixando que
ele faça eco no teu caminho semanal:
I Domingo – Tomo consciência da
presença de Deus em minha vida como um Pai que molda, transforma e santifico o
Seu nome sendo ternura e consolação para os outros.
“Pai
Nosso que estais nos céus,
santificado
seja o vosso Nome”
II Domingo – Preparo o meu
coração para acolher e construir o Reino procurando ser honesto, acolhedor de
quem pensa diferente de mim e aprendendo a dialogar com serenidade.
“Venha
a nós o vosso Reino,
seja
feita a vossa vontade assim na terra como no céu”
III Domingo – Vivo a Alegria do
Evangelho tendo durante esta semana um gesto concreto de partilha.
“O
pão nosso de cada dia nos dai hoje”
IV Domingo – Celebro o dom do
Natal de Jesus procurando reconciliar-me, com Deus e com os outros.
“Perdoai-nos
as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
e
não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal.