terça-feira, janeiro 23, 2018

O QUE NOS FAZ CRISTÃOS?...


Eis a pergunta que nos pode acompanhar essa semana! Não te apresses em responder... saboreia a interrogação como um convite a fazer uma ‘peregrinação interior’.

O “vinde e vede” (Jo 1, 35-42) com que João nos colocou olhos-nos-olhos com Jesus, tem agora um capítulo novo e decisivo.  Não há discipulado sem intimidade, mas também não há seguimento de Jesus sem conversão. Discipulado e conversão são gêmeos! Duas faces de uma mesma moeda: seguir Jesus, ser como Ele foi, fazer como Ele fez!

É comum escutarmos em discurso religioso (com frequência quase infinita!) a palavra ‘conversão’, em muitos casos, ela tornou-se um jargão/refúgio de ‘disparo automático’. Importa esclarecer que ‘conversão’ não é uma ‘conversa grande’, muito menos algo ‘obscurantista’ do tipo ‘refúgio impermeável para preguiçosos’. A conversão dá trabalho! Ela nasce de uma urgência: “seguir Jesus de modo que o seu Evangelho seja guia concreta da vida; significa deixar que Deus nos transforme, parar de pensar que somos nós os únicos construtores da nossa existência; significa reconhecer que somos criaturas, que dependemos de Deus, do seu amor” (Bento XVI).

Há uma 'urgência do coração' que define prioridades! Naquele “Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus” (Mc 1, 14-20), o Evangelho introduz-nos num tempo e numa realidade nova. Deus convoca-nos para realizarmos, como dizia um grande pedagogo, os 'inéditos possíveis'. Pede-nos que façamos com Cristo o percurso das periferias (Galileia) para o centro (Jerusalém). Não se trata apenas de um itinerário geográfico, nem de meras referências ‘religiosas’, trata-se de um caminho de purificação da vida e da fé. Chegou a hora de abandonar todas as idolatrias (e são sempre tantas dentro de nós!). O ‘Deus Vivo’ pede-nos a coragem da humildade, a determinação do coração, a intimidade que transforma e a profundidade que renova.

A conversão nasce das ‘raízes do coração’. Quando Jesus nos interpela o coração e a vida, e nos recorda que se ‘cumpriu o tempo’, não está com isto a amedrontar-nos, ameaçar-nos ou a dizer-nos que agora tudo tem de ser feito à pressa... Está, isso sim, a fazer ressoar no nosso coração aquela ‘memória’ que nos desperta e recorda que somos nutridos por um amor infinito que nos levanta, acaricia e estimula a fazer caminho. Enquanto caminhava entre nós, recordava-nos o Ir. Roger de Taizé:

“Se soubesse que Deus vem sempre ter contigo...O mais importante é descobrir que Ele te ama, mesmo quando tu pensas que não O amas. Cristo espera ser acolhido por cada um de nós. Se tu não consegues dar-Lhe uma resposta, Ele respeita o teu silêncio. Mas quando te abres e O acolhes, por ação do Espírito Santo, cria dentro de ti uma comunhão íntima com Ele. Na surpresa dessa comunhão, Ele habita no mais fundo da tua alma. A sua presença é tão clara como a tua própria existência. Tens dúvidas? Escavam-se em ti como que buracos de incredulidade? Contudo, permaneces na fidelidade. A dúvida, por vezes, é apenas o outro lado da fé. Na invisibilidade da Sua presença, o Ressuscitado poderia dizer-te: “sei que há dias cinzentos e opacos na tua vida. Conheço as tuas dificuldades e a tua pobreza, mas apesar disso és abençoado, habitado por fontes vivas, fontes de fé escondidas no mais profundo de ti mesmo. A surpresa da presença de Jesus, o Ressuscitado, cria em ti uma morada de luz. Ela ilumina mesmo quando tudo parece envolto em obscuridade e brilha como brasas debaixo da cinza. Por vezes perguntas-te a ti mesmo: o fogo que há em mim vai apagar-se? Não foste tu que o acendeste. Não é a tua fé que cria Deus, não são as tuas dúvidas que O vão lançar para o nada. Lembra-te: o simples desejo de Deus é já o começo da fé. Quando te abres à vida eterna, a confiança da fé começa e não tem mais fim...”. Boa Semana!





segunda-feira, janeiro 08, 2018

QUANDO O CORAÇÃO VÊ...


Somos (e)ternos buscadores de sentido, sabor e significado. Como viandantes, somos ritmados pelo cotidiano que nos interpela e se apresenta diante do coração e da vida como ‘oferta de salvação’. Sim, precisamos ser salvos! Salvos, de dentro para fora, de tudo o que nos sufoca: os medos, as frustrações, a ansiedade, os nossos fracassos, os nossos pecados...enfim, tanta ‘bagagem’ para uma viagem onde só o essencial é necessário!

Gosto de olhar aqueles Magos, de que Mateus nos fala no Evangelho, como homens de coração inquieto, disponíveis e determinados. ‘Magos’ significa, literalmente, “ilustres” ou “grandes”; era a designação dada aos que se dedicavam à astrologia. Sendo ‘buscadores de sinais’, não os exigem. Sabem esperar. Sabem contemplar. Vivem com um coração não se entrega ao superficial.

Como os pastores, também os magos estão ‘nas periferias’. Não é a curiosidade que os move, é a sede da Vida! Eles sabem ver num ‘sinal que brilha na noite’ a convocação para ‘um novo dia’. Quando chega a luz do Céu, a ‘Glória a Deus nas alturas’ canta-se com os ‘pés na terra’, ‘peregrinando’, fazendo de cada passo um caminho sem retorno. O Céu ‘falou’ e o coração soube ‘ver’, agora é a ‘hora dos peregrinos’!
Os Magos interpelam-nos sobre ‘o que vemos’ e ‘o que contemplamos’. Com a sua determinação interrogam-nos sobre ‘o que esperamos’ e ‘com que disposição’. Com que frequência olhamos o Céu? Com que liberdade acolhemos os Seus sinais? Não são interrogações de ‘ocasião’, são o essencial para o nosso seguimento batismal de Jesus!

Não foi em vão que Jesus nos disse um dia: “Os últimos serão os primeiros”. Chegou a hora! Das ‘margens’ para o ‘Coração’, Jesus começa a convocar os ‘peregrinos’. De agora em diante o caminho faz-se passo a passo, dia após dia, seguindo-O com ‘determinada determinação’ (Teresa de Ávila). É uma convocação que vem do alto, que nos pede mergulho profundo ‘nas fontes da Salvação’. É que Isaías tinha razão, e com ele também nós cantamos e Adoramos neste dia:

“Deus é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a minha força e o meu louvor. Ele é a minha salvação. Tirareis água, com alegria, das fontes da salvação. Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome. Anunciai aos povos a grandeza das suas obras, proclamai a todos que o seu nome é Santo. Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai cânticos de alegria e exultai, habitantes de Sião: porque é grande no meio de vós o Santo de Israel» (cf. Is 12, 2-6)