um espaço de partilha, reflexão, discussão e anuncio do amor misericordioso de um Deus loucamente enamorado por todos os que criou à sua imagem e semelhança...
8 anos
depois [27 Junho 2004 - Ordenação Presbiteral na Sé Nova, Coimbra]
intensificou-se o entusiasmo, a paixão por servir e amar este Deus
"Louco de Amor pela humanidade" e "esbanjador de misericórdia" e de
servir cada homem e mulher (crente ou não) que Deus coloca(r) no meu
caminho.
Na hora
de fazer memória deste amor com que Deus sempre me quis, tenho
naturalmente de cantar de alegria e gratidão a Deus pelo dom: da minha
familia, da minha vida, da fé que Ele me concedeu, de todos os que
activa ou silenciosamente contribuiram para que eu pudesse perceber que o
Mestre me chamava; mas é tempo também de pedir perdão pelos limites,
contradições, que nem sempre deixam ver claro, no que sou e faço, o
Rosto d'Aquele que me chamou.
Como as palavras são sempre poucas para expressar o que só o silêncio sabe dizer, aqui fica a prece da "primeira hora":
«Senhor… Dá-me pés de barro, para que, quando vierem terrenos pedregosos, eu sinta que só Tu és a força e o caminho… Dá-me um olhar cristalino, para que possa ver-Te sempre presente em cada rosto desfigurado, marginalizado,… Dá-me mãos abertas para acolher todos os que são abandonados, vivem na solidão,… Dá-me um coração de carne para amar sem medida, sempre… Dá-me coragem para denunciar a mentira, Humildade para assumir os meus erros, Humor para rir das minhas asneiras, E, quando no fim, como grão de trigo eu cair à terra, a minha Fidelidade e Felicidade, nesta entrega total a Ti, Façam germinar Homens e Mulheres loucamente apaixonados pelo anúncio do Teu Evangelho. Ámen»
Em cada
semente há uma vida pronta a germinar,
a despontar e a crescer. Basta estar
atento à natureza para ver, em cada amanhecer, como ela nos surpreende com
novas fragrâncias, com cores novas…com novos horizontes.
Somos
Buscadores do Reino e semeadores da
Palavra, é esta a missão que o Pai, o (E)terno, nos dá e para a qual nos
convoca. Não somos construtores de um império,
muito menos somos chamados a manter estruturas ou, no pior dos casos, a torná-las
ainda mais rígidas e pesadas…a nossa missão é outra: alargar fronteiras, derrubar
muros, estabelecer uma rede de
relações que “devolvam o homem ao Homem”, que façam ver o (E)terno no tempo.
Para isso precisamos de silêncio e de
tempo.
O Silêncio faz de nós “contemplActivos”, homens e mulheres capazes de
ler, no tempo e na noite, os sinais da salvação que nos abrem à Luz de um dia
novo, de uma vida nova “escondida com Cristo em Deus” (Col. 3,3). O tempo, esse educa-nos para a esperança,
isto é, para a capacidade de acolher o dom e de o deixar germinar; Mas aqui o problema
não é que Deus não saiba esperar [Ele espera-nos
sempre!], o problema maior é que às vezes, nós, já não sabemos (nem queremos) esperar…
pois andamos cansados de tanto correr.
Só quem faz
silêncio e aprende a esperar é que pode colher o fruto, que é dom total
[que vimos crescer e quotidianamente acariciámos].
A espera,
silenciosa e activa, converte-nos em homens e mulheres perfumados com a alegria
da gratidão. Homens e mulheres que encontram na memória (afectiva) uma chave de
leitura para agradecer e projectar, para acolher e partilhar. É que a memória não é o desfiar de um tempo
passado, muito menos um elenco de coisas que o tempo cristalizou, a memória é o jardim onde a ternura e o amor se
abraçam para produzir frutos de sabedoria e abrir o pórtico da esperança. É
por isso que pode recordar somente quem aprende a amar, pois “é dos que amam
que reza a história”.
Neste domingo
cruzam-se, no jardim da memória (e no mais profundo do meu coração!), alguns
factos e uma pessoa, D. Albino Cleto, com quem aprendi a alegria de partilhar o dom. Curiosamente cruza-se também neste
caminho a “Palavra eleita” por ele para pórtico e horizonte da sua primeira
carta pastoral na diocese de Coimbra: “À
sombra dos seus ramos”, de 10 de Junho de 2001. Ali sonhava uma Igreja que fosse uma árvore frondosa, criativa,
dialogante, uma sinfonia de ministérios; Contemplava
“os que estão longe” e desafiava-nos
a sermos e fazermo-nos próximos com a ternura do Coração de Deus, com a Luz do
Espírito, oferecendo(-lhes) Jesus Cristo, Caminho,
Verdade e Vida.
O tempo foi
maturando os caminhos, não se alcançaram todas as metas, despontaram novos
desafios, não encontrámos todas as respostas, mas como Igreja guiou-nos sempre ele
na paixão de servir e amar, com alegria…ao jeito de Jesus e de olhos postos no
Reino.
Nesta
hora em que cai à terra, como “grão de trigo”, o Pastor zeloso, o Amigo e o Irmão
[inteiramente dedicado a amar até ao fim,
numa entrega total que é fruto da “alegria de dar-se”], canto com gratidão o que
D. Albino Cleto foi e fez, com e para todos nós diocese de Coimbra, e digo-lhe
com a proximidade que só o coração é capaz de gerar:
“Obrigado D. Albino, até
ao céu!”
Salmo92(91)
É bom
louvar-te, Senhor,
e cantar salmos ao teu nome, ó Altíssimo!
É bom anunciar pela manhã os teus louvores,
e pela noite, a tua fidelidade, Os justos florescerão como a
palmeira
e crescerão como os cedros do Líbano.
Plantados na casa do Senhor,
florescerão nos átrios do nosso Deus. Até na velhice
continuarão a dar frutos
e hão-de manter sempre a seiva e o frescor,
para proclamar que o Senhor é justo:
Ele é o meu rochedo e nele não há falsidade.
É frequente ver os nossos ritmos
quotidianos acelerarem o ritmo do nosso coração. Corremos de um lado para o
outro, do trabalho para casa, da casa para a universidade,…e no meio de tanta
correria, às vezes, quase sem nos darmos conta [ou a pedir ao céu para que a
consciência disso nunca chegue], andamos a correr para fugir de nós mesmos.
Num tempo marcado por um certo “analfabetismo
emotivo” e por uma amedrontada (in)capacidade para “narrar” a experiência vivida,
a vida vai-se tornando para tantos um universo demasiado complexo de decifrar,
um planeta bastante difícil de habitar e uma realidade dramaticamente difícil de
assumir.
Estamos a tornar-nos, na
dormência dos dias, homens e mulheres monossilábicos, reduzidos a um mero “gosto”
ou “”não gosto” [não sei se já reparas-te que este último, no “universo facebookiano”,
é a anulação da opção anterior!] que
não permite que os nossos olhos vejam para além do horizonte, ou que o nosso
cérebro pense para além do já pensado, ou, pior ainda, que o nosso coração sinta
e ame para além do já amado.
A experiência da fé, feita do
encontro pessoal, afectivo (e não meramente emotivo!) com Jesus alarga e
aprofunda os nossos horizontes débeis e amedrontados a um outro universo onde a complexidade se traduz
numa capacidade de ler a vida em profundidade, onde o planeta a habitar se torna uma escola de vida e onde o quotidiano
se transforma no “santuário” do encontro pessoal, cara a cara, despido de
dramas (ou tragédias!), onde o dom e o servir se conjugam na primeira pessoa
dinamizados pela alegria, revestidos pela esperança e perfumados de Páscoa.
Só descendo (como um mineiro que
busca o bem mais precioso nas profundezas!) é que poderás entender(-Te), só
mergulhando neste vasto oceano da vida é que aprenderás a decifrá-la com palavras
novas, ditas por ti somente, fruto deste “Amor-feito-Encontro” e que te habita
desde sempre…mesmo que tu não saibas, mesmo que tu O negues…
Então a “viagem de regresso” ao
quotidiano, feito de ritmos descompassados, tornar-se-á para ti o tempo de dar um
ritmo novo, sinfónico (e harmónico), ao teu viver.
O “santuário do quotidiano” será
para ti o lugar da beleza e do dom, a mesa da fome de sentido e da sede de
saber, e tudo isso há-de ser guiado pela certeza serena de que, desde a encarnação
de Cristo,…o nosso Coração está em Deus!
Boa
Solenidade do Coração de Jesus.
«Eis o que diz o Senhor: «Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer. Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas». [cf. Oseias 11,1-9]
A memória do coração faz-nos “acampar”
tantas vezes nos recantos mais profundos da gratidão onde, na intensidade de um
coração peregrino em busca da verdade, descobrimos no fio do tempo o “respirar
do (e)terno”.
Descobrir isto é perceber que
a “dança da vida” não é um mero “equilíbrio” entre o passado e o futuro, ela é
encontro quotidiano com o Mistério, cara-a-cara e coração a coração. É por isso
que viver não é desenhar [com linhas indefinidas] o acaso, mas sim construir e
celebrar um sentido, traçar um rumo com determinação, audácia…e sonho.
E quão adormecido anda o sonho…
Limitamo-nos tantas vezes a
aceitar passivamente que o futuro será apenas [e só!] o reflexo da neblina
presente. Resignamo-nos [outras tantas vezes] a olhar o passado como uma
inevitabilidade pesada (e às vezes amarga!) que temos de penosamente carregar.
E quanto ao presente…bem,
quanto a isso, a rotina dos dias lá se vai encarregando de nos tentar convencer
que ele é apenas uma soma de coisas, mais ou menos (com)sentidas.
Entrar na “dança (e)terna da Vida”
que é a Trindade, não se faz simplesmente subindo ao “palco da vida”, é mais
exigente. Pede-te antes que no “palco do quotidiano” aprendas a ser um
viandante que desce, cada vez mais, e sempre mais profundamente, ao coração da
Vida para aprender a “saborear por dentro todas as coisas” e assim, com o
perfume do amor, encetar os passos desta dança nova, (e)terna, que te faz descobrir
que há estrelas no céu mesmo quando é meio dia…e só as descobre e vê, quem se
habituou a “dançar com Deus”, no coração do mundo e do tempo…com um coração de
Criança.
A “dança (e)terna da Vida”
continua.
Diante de ti, e em ti,
Ele começou já os [primeiros]
passos…
com uma “sedução” que não
ilude
mas que te desafia a mais, e a
melhor.
…E tu, arriscas ou vais
continuar nas tépidas rotinas em que sempre vives?