O
medo torna-nos estéreis, muitos cristãos vivem
‘grávidos’ de um vento paralisante que nada tem a ver com a brisa suave do Espírito que sempre nos
desassossega para alargar horizontes. O Evangelho, graça das graças, é sempre
proposta a ir para além dos medos. Por isso, este nosso ‘mergulho’ semanal na
Páscoa de Cristo, convida-nos em primeiro lugar, a que nos deixemos encantar,
surpreender e comprometer com o dom que nos é feito! Deus coloca em nossas mãos
as sementes (= talentos) do Seu Reino. É desconcertante esta confiança plena de
Deus. Ele não nos quer ociosos, nem afadigados, mas comprometidos. A causa do
Reino não é para acomodados mas para aqueles que acolhem e pressentem, no fio
do tempo, este ‘quotidiana ousadia’ de, como dizia a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen,
‘colocar em cada gesto solenidade e risco’.
Deus
não cobra, dá! A gratuidade, única medida de Deus,
desconcerta-nos e interpela-nos. Como Pai que ama, Deus não hesita em confiar.
E só a confiança pode gerar discípulos! É que Deus não é patrão ou
administrador que premeie injustiças ou o demérito dos ociosos. Porque é Pai e
Senhor de um Reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo, a Sua vontade é
a de fazer germinar, circular e multiplicar os seus dons. Eis-nos então diante
dos verbos fundamentais do agir divino:
dar, germinar, circular multiplicar! Como andamos a conjugar estes verbos em
nós e com a comunidade? Somos como o servo ‘agrilhoado’ pelo medo do regresso
do seu senhor ou somos discípulos entusiasmados e comprometidos em ir ao
encontro do Senhor com as mãos cheias dos dons repartidos, e portanto,
multiplicados?
A
criatividade é o outro nome do amor. Há um apelo
que não nos pode deixar indiferentes: diante de um mundo complexo, cheio de
muitas histórias ‘mal contadas’ e de muitos corações feridos, a confiança que
Deus deposita em nós convoca-nos para uma renovada criatividade, isto é, para
um amor que sabe ser ‘quotidianamente concreto’, atento, vigilante. Não podemos
passar o tempo a desfiar lamentações ou a ‘enterrar’ os dons que Deus coloca em
nossas mãos, de lamento em lamento tornamo-nos facilmente servos amedrontados e
improdutivos… Deus quer-nos inteiros, comprometidos e convertidos, a assumir os
riscos do Amor! E só assume riscos quem não vive ‘à defesa’ ou ao ‘ataque’,
arrisca quem descobriu e assumiu a vida como dom e quem tem a eternidade como
medida justa para ler, saborear e viver todas as coisas.
Semear
é perseverança, multiplicar é fidelidade, colher para repartir é assumir a medida
divina. É assim que, de talento em talento,
Deus assume este ‘escândalo’ de ser o primeiro a confiar em nós e o único que
jamais desiste de nós! E tu, vais multiplicar(-te)?
DESAFIO: Ao longo da semana multiplicar
os nossos gestos de acolhimento, perdão, escuta, ternura,…