“De quantas portas fechadas é feita a tua vida?”, é a provocação que
nos acompanha esta semana! Na verdade, o
começo de um Jubileu, agora ‘mais próximo’ e ‘mais dentro’ de nós, é sempre
oportunidade para (re)fazer uma ‘peregrinação interior’.
A porta é muitas vezes invocada como sinal de segurança, de preservação
da intimidade, de salvaguarda do que é privado...muitas vezes é também um sinal
de profunda rejeição! Há portas que nunca se destrancam, outras só se entreabrem
quando se responde à famosa interrogação: “Quem é?”. Que bom seria que antes da
pergunta viesse a afirmativa: “Entre!”. Como metáfora da vida, a porta
recorda-nos o quanto algumas vidas são uma prisão permanente...e há vidas e corações
tão ‘blindados’! Por entre portas trancadas, blindadas ou entreabertas a nossa
vida é um desafio permanente a destrancar, a desblindar...a escancarar.
Não foi em vão que um santo do nosso tempo nos interpelava assim: “Não,
não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo!
Ao Seu poder salvador abri os confins dos estados, os sistemas económicos assim
como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso!
Não tenhais medo! Cristo sabe bem “o que está dentro do homem”. Somente Ele o
sabe!” (João Paulo II)
A misericórdia,
oferta de recomeço para os pecadores e esperança para os frágeis, pede-nos a
capacidade de redescobrir que “a casa de Deus é um abrigo, não uma prisão e a
porta se chama Jesus” (Papa Francisco). Pede-nos sobretudo a ousadia de sair do
templo e fazer o “Jubileu ao contrário”, tal como o sonhou Tonino Bello quando
afirmava que o problema maior das nossas comunidades cristãs não é o de abrir
portas de entrada para os espaços sagrados mas portas que se escancarem do
templo para a praça, seguindo a Cristo-peregrino e tocando todos os ‘estaleiros
quotidianos’ onde cada pessoa continua a ser desfigurada e espera ansiosamente
o regaço, consolo e a ternura do Deus-Amor.
Por estes dias somos chamados a redescobrir que a misericórdia e a alegria são irmãs gémeas. Há uma alegria, a que nasce da fé, que precisamos também de aprender a cantar quotidianamente com estas palavras do grande Profeta da Esperança: "Deus é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a
minha força e o meu louvor. Ele é a minha salvação” (Isaías 12).
Interrogados e desafiados pela pergunta evangélica: “Que devemos fazer?” (Lc 3, 10-18), anima-nos a convicção de que toda a vida é feita de (re)começos, especialmente
quando percebemos que “a misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós.
Ele sente-se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes,
cheios de alegria e serenos” (Papa Francisco). Eis, portanto, os nossos pés que
se colocam a caminho...de Portas abertas e de coração escancarado. Boa Semana!
"Deus só pode dar-nos seu amor, o nosso Deus é ternura" (Cântico de Taizé)
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