De quanta
alegria é feito o nosso caminho quotidiano? Quanta alegria oferecem as nossas
palavras e o nosso olhar? Vivemos num tempo marcado por uma ‘cultura da
insegurança’ que gera em muitos uma estranha nostalgia do passado. Os profetas
da desgraça, que sempre se apresentam nestas circunstâncias, parecem querer
roubar-nos a alegria sincera ao ‘demonizarem’ o mundo contemporâneo...incapazes
de dialogarem, refugiam-se numa vida blindada pelo veneno da amargura de quem
não sabe ver o bom, o bem e o belo; Incapazes de contemplar o milagre da
presença e ação de Deus nos outros, tornam-se pregadores de uma solidão
egoísta; Incapazes de se inclinarem para cuidar da fragilidade humana,
tornam-se ‘fiscais’ com uma moral rígida cheia de absolutos e pouco aberta ao
dinamismo da graça e do discernimento; incapazes de se deixar interrogar pelo
dom, tornam-se idolatras de um deus criado à sua imagem e semelhança, a quem
servem mais por medo do que por amor.
É bom não esquecermos que a
alegria não se improvisa! A alegria cristã é fruto do encontro, um encontro Pascal
que muda a vida com a radicalidade da simplicidade, do serviço e da
fraternidade. Não é alienação, é compromisso!
Vem tudo isto a propósito do
Evangelho que nos acompanha esta semana (Mt 5, 1-12). Em que consiste afinal a
felicidade? O Evangelho faz-nos ver que é feliz aquele que abre o coração a
Deus, aquele que se deixa ‘desnudar’ dos ‘absolutos que nos desfiguram’ e
aceita caminhar na lógica da vulnerabilidade.
Para vencer a lógica do egoísmo somos
chamados à pobreza; para vencer a indiferença o evangelho nos convoca para a
compaixão; diante da agressividade o Evangelho nos interpela a viver o discernimento;
diante das injustiças o Evangelho nos estimula à lógica da profecia e do
compromisso; Se no caminho houver erros, falhas ou pecados o Evangelho coloca-nos
diante da lógica do dom; diante da ‘mundanização’ e do desiquilíbrio o
Evangelho nos chama a viver por inteiro no coração de Cristo; por fim, diante
de todas as guerras (por dentro ou por fora) o Evangelho nos interpela a
assumir a não violência como medida de sabedoria para fazer pontes e
reconstruir o diálogo. Não se trata de uma lógica ‘perversa’ ou simplesmente ‘do
avesso’, trata-se de um caminho espiritual que nasce do encontro com
Cristo-Vivo e só se torna efetivo quando em nossos corações reinarem os mesmo
sentimentos que habitam o d’Ele.
A alegria cristã não é ‘piegas’,
muito menos ‘romântica’ como se fosse uma ‘cena perfeita’ de filme com final ao
‘estilo americano’, em tarde de domingo chuvoso com lareira acesa, manta e
chocolate...A alegria cristã nasce do encontro e se fortalece e redescobre no
discipulado! Ela tem essa capacidade paradoxal de se deixar experimentar, e de
se fazer presente, mesmo no meio do mais árido dos desertos. É por isso que a
alegria cristã nunca é alienação, nem dá ressaca! Ela é dinamismo e opção, é
decisão e compromisso, é seguimento! E se ela estiver no início de tudo, não
precisaremos de ‘esperar o fim’ para a saborear...ela nos dará o sabor e o saber
em cada passo e fará do milagre da nossa existência uma ‘alegria completa’...quotidianamente!
Boa Semana!