Zygmunt Bauman escreveu que “a vida
é muito maior que a soma dos seus momentos”. O dom que nos é dado para viver
não se resume à ‘contabilidade’ superficial dos bons ou maus acontecimentos,
vai além! Em cada encontro, em cada lugar onde estamos, nas pessoas com quem
nos cruzamos, nos caminhos que percorremos, há uma centelha divina que nos
acompanha, ilumina e desafia.
Vem isto a propósito da Palavra
com que Deus nos visita esta semana (Jo 1, 29-34). Jesus faz-se caminho e vem
ao nosso encontro nas circunstâncias em que nos encontramos. Deus sempre gosta
de nos visitar nos locais que habitamos! O ‘extraordinário’ de Deus acontece no
nosso cotidiano, habitualmente na dinâmica de um encontro que suscita
intimidade e seguimento. Tal como João, também nós precisamos estar atentos a
Cristo que passa e aprender a decifrar os ‘sinais’ da Sua presença.
Sabemos que a predileção de Deus
é começar sempre ‘pelas margens’, foi assim naquele encontro no rio Jordão, é
também assim com cada um de nós. Onde houver necessidade de presença, cura,
esperança e libertação, aí está Deus a fazer-se próximo, a transformar a partir
de dentro, a atrair para caminhar juntos! Somente Ele sabe o que somos e o que
precisamos, por isso não hesita um instante em se fazer consolação,
misericórdia, ternura e salvação.
Jesus gosta de estreitar as
margens, de fazer pontes, de iniciar o diálogo, de oferecer perdão, de abrir
horizontes. Como Deus-Peregrino, Jesus oferece comunhão para vencermos a
solidão e a indiferença, unge as nossas feridas e transforma os nossos corações
para que possamos ser vasos de esperança para a humanidade, chama-nos para o
seguirmos pois sabe que, mais do que nunca, o mundo precisa hoje de rostos e de
ternura para (re)aprender a olhar para além da ‘soma dos momentos’ e a degustar
com sabedoria e discernimento o eterno e o instante.
Contemplar, Acolher, Escutar, Seguir
e Imitar Jesus, eis os verbos essências para uma ‘gramática cotidiana’ do nosso
discipulado. Como tenho conjugado estes verbos? Qual o peso que eles têm na
minha vida?
Só podemos ‘ver’ o que João viu quando
estes verbos deixarem de ser apenas ‘infinitivos impessoais’ e se tornarem uma ‘conjugação
pessoal’ de verbos transitivos que unem o cotidiano com o Mistério da Fé. Aí
sim, veremos o ‘Cordeiro’, nos sentaremos em Sua mesa e saborearemos com Ele o
Pão que dá vida e coragem, o Pão que nos transforma em ‘Luz para as nações’. Nessa
hora, nossos olhos se abrirão para ver ‘mais além’ e ‘para o alto’ e o nosso
batismo não terá sido somente ‘uma questão de água’, mas sim o motor decisivo de
uma vida ritmada pelo ‘Fogo-Amor Eterno de Deus’ que permanece em nós e nos faz
Ver-Seguir e Dizer: “Eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. BOA
SEMANA!
Um bom desafio para esta semana pode ser a (re)leitura do nº 262-283 da Exortação Evangelii
Gaudium do Papa Francisco procurando refletir sobre como andas a conjugar os
verbos essenciais da ‘gramática do seguimento de Jesus’. Pode encontrar o texto
do Papa clicando Aqui
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