Iniciámos no passado Domingo a semana, ‘Santa’ e ‘Maior’,
marcados pelo grande sinal (e mistério!) da Vulnerabilidade
omnipotente do Amor que salva. A narração da Paixão, pórtico com que Deus
nos introduz no ‘mistério de Jerusálem’, despertou-nos para O escutarmos como
discípulos (Isaías 50, 4-7). Ao nosso redor as marcas da Paixão tornaram-se (ainda
mais) visíveis na tragédia do ataque às igrejas Coptas, como que a
sussurrar-nos ao coração a verdade que teimamos em não aceitar: ‘se o grão de
trigo não morrer, não produzirá fruto’. Sim, o Evangelho não rima com poder,
com altivez ou agressividade; também não é paz indolente ou acomodação; não
responde ‘na mesma moeda’, nem se blinda...
Encontrar-se com o Evangelho significa desnudar-se, isto é,
entrar num excesso de dom e num desassossego de Amor que nos faz ver, tocar e celebrar
cada realidade com a mesma ternura e misericórdia com que Deus vê e toca o
nosso frágil barro. Foi assim em todo caminho quaresmal, é assim de um modo
mais intenso nesta noite em que iniciamos o Tríduo Pascal.
O que celebramos hoje não é somente um rito ou uma Tradição!
Celebramos um Deus que nos escancara e introduz na Sua intimidade. Um Deus que
nos oferece comunhão e nos comunga naquilo que são as nossas dores e angústias,
feridas e pecados, sonhos e projetos...Um Deus que nos pede que deixemos Suas
mão acariciar nossos pés cansados ou acomodados (Jo 13, 1 -35). Um Deus que nos
pede coragem e criatividade para fazer do mundo ‘uma casa de irmãos’ onde todos
se sintam, no Amor, ungidos, sarados, salvos.
O Sonho de Deus para a Humanidade vem (re)lembrar-nos, de um
modo especial nesta noite, que o Amor não se improvisa. O Amor cristão é
concreto, beija as chagas do nosso sofrimento, enxuga as lágrimas das nossas
dores, abraça os nossos desesperos para nos fazer sentir o calor e a
proximidade de uma esperança que não engana, toca a nossa fragilidade e pecado
sem medo de ‘sujar as mãos’ e, no fim, olhando-nos de baixo para cima, lava os
nossos pés cansados e senta-nos na mesa onde o ‘Amor de todo o amor’ sacia as
nossas fomes de sentido. Não é apenas um milagre. É a opção de Deus por nós!
Nesta noite, diante dos nossos olhos habituados ao
superficial e diante do nosso coração tantas vezes inquieto, (re)inicia-se a ‘revolução
da ternura’. Ele, o Rosto do Amor que salva, revela-nos que o único poder que o
Amor tem é o serviço, sua omnipotência está na delicadeza com que toca cada
história, cada pessoa...o Seu milagre de Amor está no apelo que nos faz a
sermos, com Ele e como Ele, Pão que se reparte para que o mundo tenha a Vida...
Para avançar, Ele pede-nos uma resposta. Não se trata de uma condição mas sim
de assumir uma identidade! Aceitas?...Que o perfume da Páscoa preencha já estes
teus primeiros passos do caminho!
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