Os fariseus e os herodianos
andavam equivocados. Só sabiam ler a vida ‘pela metade’. Por isso, era-lhes
muito difícil levantar o olhar do coração de modo a buscar caminhos de
dignidade para o povo que o Senhor escolheu. Viviam mais preocupados em
‘anular’ ou em ‘desnudar’ a Cristo, do que em conhecê-lo e segui-lo! Acontece
com eles o que tantas vezes acontece connosco, ‘sacralizamos’ o que é indigno e
‘dessacralizamos’ o que é divino. Por outras palavras, vivemos a nossa
experiência de fé ancorados no auto-consumo
da superficialidade com que lemos a vida, os acontecimentos e no modo como
nos comprometemos com a história. Vemos mas não contemplamos, ouvimos mas não
escutamos, exigimos sem nos comprometer e vivemos sempre de mãos limpas porque
incapazes de amar.
O encontro com o Evangelho revela-nos
a nossa identidade e convoca-nos para
uma pertença. Habituados que estamos
às ‘leis do mercado’ que geram, cada vez mais, uma ‘desfiguração do humano’,
também nós entramos facilmente na lógica perversa dos fariseus e herodianos: “É lícito ou não pagar tributo a César?”.
Mas a questão fundamental nunca é essa! É verdade que o bem comum merece-nos
sempre empenho real e contributo ético, mas também exige de nós denuncia
profética, compromisso que gere autonomia responsável e não dependências
indignas. Habitando um tempo tão complexo como aquele em que vivemos, as nossas
análises do ‘deve’ e do ‘haver’ têm de ser secundarizadas em favor de uma outra
lógica que vá além dos ‘impérios’ e da ‘divinização do poder’. É preciso
recomeçar ‘a partir de baixo’, com a
vulnerabilidade da ternura e com a força sempre renovadora de um serviço que
nos compromete em levantar e aliviar todos os crucificados da terra. Não é
ideologia ‘partidária’ nem ‘politização do Evangelho’, trata-se do Amor
(pro)activo que brota da incarnação daquele que sendo rico se fez pobre (2 Cor 8, 9).
A questão, portanto, não é “quanto vale o que dou?” mas sim “em que(m) é que invisto o que partilho?”.
Não se trata de ‘economia’ mas de ‘dignidade’, e esta última não tem preço, não
se negoceia nem se pode suprimir. Mais, no limite trata-se de confiança (=
Fé!), trata-se de rever não só a nossa ética pessoal mas também a nossa ética
social, porque quando o Evangelho não se faz vida, não adiante dizer que somos
discípulos. No máximo somos apenas, como os fariseus e os herodianos, ‘míopes
mercadores do essencial’ que não souberam ver a outra face da moeda. Que a Palavra nos desperte da contemplação
acomodada da ‘divinização do mal e da banalidade’ e, se queremos ‘dar a César o
que é de César’, viremos ‘a moeda’ e aprendamos a ver nela o rosto do irmão,
essa sim a ‘face justa’ da moeda! Bom Domingo!
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