É próprio do Amor surpreender, ajoelhar-se, cuidar,
envolver e ‘ressuscitar’. O Amor vai sempre na frente porque não tem pretensão
de ser o primeiro, mas sim porque quer abrir caminhos para que quem é amado
possa atingir a meta. Se vai na frente, é para rasgar horizontes de novidade.
Se vai ao lado, é para ritmar a fidelidade e fortalecer os passos. Se vai
atrás, é para recordar que a misericórdia é sempre maior que qualquer das
nossas fragilidades e para nos estimular a olhar na direção justa. Já o disse
aqui algumas vezes: quem vive de passado é museu, quem se deixa abraçar pelo Amor
olha-se sempre com futuro!
O nosso encontro com Evangelho leva-nos, esta
semana, a ‘sair derrotados’ das nossas lógicas curtas e tantas vezes
mesquinhas. Habituados e acomodados a uma ‘justa retribuição’ que responde ao
mal com o mal, somos ‘derrotados’ pela pedagogia do coração de Deus: o Amor
responde ao mal com fidelidade e à ofensa com perdão, com oferta de recomeço. É
dura para nós esta lógica!!!
Se o sonho de Deus nos revela que somos criados
para ‘produzir frutos de eternidade’ (Mateus 21, 33-43) não podemos então contentar-nos
com uma vida mesquinha. Só se vinga quem é incapaz de amar. Quem ama sabe ler a
história com serenidade, sem preconceitos e sem superficialidade, e sabe ainda
que o desamor nunca é ‘resposta’ mas sempre caminho que conduz a uma solidão
existencial que nos afasta dos outros…porque nos afasta de nós.
Para dar fruto é preciso abater os muros que cercam
o nosso coração, as muralhas que nos colocam sempre na ‘defensiva’ ou no ‘ataque’,
os olhares míopes de quem vê sempre no raiar do sol uma ameaça à nossa ‘escuridão
interior’. É que o Amor não desiste…e nem resiste! Porque é dom total, ele é
sempre uma oferta livre e compartilhada daquela sabedoria que vê em cada
recomeço uma ‘primavera existencial’. Não é assim o coração de Deus?! Porque não
cria resistências e porque a sua ‘inteireza’ está na fidelidade, Deus que é
Amor nunca se cansa de se inclinar, de nos procurar, de nos levantar e sarar. É
o primeiro a confiar e o único que não desiste! Pede-nos apenas que ‘a vinha que
somos’ (= símbolo da vida ritmada e abraçada pela ternura de Deus) não seja um
espaço cercado pelo ‘arame farpado’ da nossa indiferença mas sim um recinto
aberto, sem muros ou esquemas de 'defesa-ataque', onde todos possam entrar e saborear
no calor da mesa e do coração ‘o vinho novo’, a aliança nova e eterna de um
Amor que é salvação, vida abundante. Para todos. Para sempre! Pois para quem
ama a 'eternidade' é a medida e é (re)começo, nunca um fim…Boa Semana
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