Estamos
demasiado habituados a pensar todas as coisas a partir de nós. Não somos donos
do tempo mas queremos domesticá-lo, e para isso inventámos o relógio. Como se
isso ainda não fosse suficiente, já repetimos todos mil vezes na expressão: “Não
tenho tempo!”.
Pois
bem, eis que o tempo (e o seu Senhor!) se chega a nós. Este é um tempo (kairós
= de Salvação e de graça!) para despertarmos e nos darmos conta de que a Salvação
continua operante no nosso quotidiano, nas nossas rotinas, até mesmo nos nossos
gestos distraídos ou apressados. Sim Ele não vem cá, Ele está cá! Nós é que
precisamos de despertar da nossa sonolência para nos deixarmos abraçar, como na
primeira hora em que a fé foi semeada em nossos corações, por este abraço que
aquece o coração e a vida, que dá liberdade na responsabilidade e que tem como
medida (e)terna a fidelidade.
É
que o advento não é um ‘ginásio espiritual’ para nos prepararmos para a prática
das boas virtudes no Natal. Advento é convite, é chamamento, a levantar os
olhos para-além-do-chão e a ver, afinal, que Aquele que nos ama não nos
abandonou a uma triste solidão para irmos ‘gemendo e chorando neste vale de
lágrimas’. Aliás, jamais poderia fazê-lo! É que o Amor nunca esquece, não se
atrasa nem se apressa. Chega sempre na medida e no tempo certo. É por isso que
a Palavra de Deus neste Domingo nos ofereceu um imperativo fundamental para não
nos distrairmos nem nos perdermos no caminho que a Vida está a percorrer até
nós: VIGIAI! (cf. Mc 13, 33-37)
Não
se trata de fiscalizar, nem de estar na defensiva. Também não se trata de ‘construir
um castelo’ para (vi)vermos a-vida-longe-da-Vida. Trata-se de assumir que a
nossa fé em Cristo nunca nos limitou a olhar só para trás nem só para o alto, e
sempre nos interpela a olhar também pra frente. Vigiar é, portanto, um outro
nome para dizer ‘CUIDAR’…Cuidemos então uns dos outros neste advento. Deixemos que
o Único que pode sarar as nossas feridas e derramar nos nossos corações o óleo da
consolação e da alegria, nos prepare para vivermos sempre, e de um modo
especial neste tempo, dinamizados por este cuidado paterno/materno que tão
belamente nos descreve o profeta Isaías: “Nunca os ouvidos escutaram, nem os
olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele
esperam… Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro;
somos todos obra das vossas mãos” (Is. 63).
Está
na hora! Acerta o teu relógio e (re)começa. Não, não vais atrasado! O Amor
sempre nos espera. Não está longe da vida. É a Vida. E pelo caminho, nas
encruzilhadas por onde fores passando não te canses de semear com um coração
paterno/materno esta grande certeza de que fora do amor não há salvação. Bom
Advento, com um coração ‘samaritano’…!
De quem vais cuidar neste Advento? e como?...e vais deixar Deus cuidar de ti?...
Sem comentários:
Enviar um comentário