Por detrás de todo o lamento há
um murmúrio secreto de confiança, há um coração que na noite se abre ao dia e
sussurra “eu confio em ti!”. É desta ‘secreta confiança’ que são feitos muitos
dos nossos gestos, das nossas palavras, gestos, silêncios e decisões. É assim
também quando temos que atravessar a porta do sofrimento humano…Precisamos de
nos descalçar, de formar na ‘arte da escuta’ o nosso coração, precisamos de ‘desposar
a esperança’ com um coração habitado por aquela primavera de quem sabe que o
futuro é desconhecido, mas não é incerto!
Esta semana somos também nós
atravessados por uma esperança que não (des)ilude, uma esperança activa que nos
faz perceber que deixamos marca em tudo e em todos os que tocamos (cf. Mc 1, 29-39). E, assim como
fica ‘tatuada’ na realidade a nossa impressão digital, também em nós deveria
ficar tatuada a ternura de quem sabe que um toque vale mais de mil palavras e
um silêncio (contemplativo e misericordioso) vale por mais de mil imagens, dado
que requer aquele ‘olhos nos olhos’ feito de uma cumplicidade que nasce do amor
e que é habitada pela fidelidade que faz sempre dos pontos finais um ponto de
partida.
Não nos basta, para abraçar a
vida em plenitude e para nos recordar que somos amados, o ‘depois dou-te um
toque’ com que tantas vezes nos comunicamos. Nem nos serve um abraço fugaz ou a
‘pancadinha nas costas’ como se fossemos os eternos ‘amigalhaços da
superficialidade’. Tocar no outro, e tocar o outro, é um dom que não se improvisa.
É uma responsabilidade. É um compromisso, e uma aliança, com aquela ‘ternura
Pascal’ de quem aprendeu a beijar a história sagrada daqueles com quem se cruza…e
só o pode fazer quem deixou que Deus, em Jesus, pudesse abraçar e beijar a sua
fragilidade.
Sim, o nosso Deus é um ‘enamorado
pela nossa pequenez’! Não porque nos queira pequenos, mirrados e sufocados num ‘vale
de lágrimas’, mas porque desde sempre nos sonhou para sermos um (in)finito
abraçado pela Páscoa…
A verdade é que fomos mais
habituados a olhar para Ele como ‘um que nos julga’ em vez de O acolhermos como
‘O único que nos cura’. Mas Deus, quando nos toca, não nos esmaga; e quando a
Sua mão entra na nossa história, não é para nos ‘apontar o dedo’ mas para levantar-nos
e dizer-nos: “Vamos recomeçar? Eu acredito em ti!”.
Porque é Amor, Deus só sabe
recomeçar. E é assim que Deus nos quer nesta semana: a deixar a acomodação e a
suscitar recomeços. Ele quer-nos a ‘dar a mão e a levantar’ aqueles que se deixaram
entrevar (= encher de trevas/escuridão), os que perderam no caminho a linha do
horizonte, os que andam interiormente cheios de ‘diabos’ (= divisão/confusão),…e
tu, em quem vais deixar ‘a tua marca’? E como?...Boa Semana!
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