Um dia que tinha sido igual a
tantos outros...Aqueles pobres pescadores lavavam, provavelmente, as redes da
sua desilusão (Lc 5, 1-11). Aparentemente tudo é derrota... No coração daqueles
pobres pescadores tinham-se fechado as portas do futuro, o presente era amargo
e o peso do fracasso do passado era demasiado duro para ser verdade. É fácil
para nós imaginar o que seria chegar a casa, mais uma vez, sem nada para
colocar na mesa!
Não podemos negar que fomos
educados para vencer sempre, somos filhos da cultura ‘super-homens’. Vencer foi
sempre a palavra de ordem e ‘perder’ um impossível que dá nós no estômago e
gera ansiedade. Errar? nem pensar! Somente os outros. Foi assim, aos poucos,
que todos nós fomos introduzidos num tempo e cultura onde a vulnerabilidade foi
sendo confundida com fraqueza e, como tal, “dos fracos não reza história!”.
Sentença maldita que nos foi anestesiando e convencendo que a vulnerabilidade era
uma maldição.
A vulnerabilidade é sempre o começo
de qualquer história, da nossa história pessoal, ela nos ensina a não vivermos ‘cheios
de nós’, nos desperta para confiar, e nos interpela a alargar as fronteiras do
coração e da vida, a deixarmo-nos tocar pela ternura sem termos medo de ser
feridos, pois é próprio do amor moldar para curar.
Na voz de Cristo que interpela
Pedro, e a sua fragilidade, vai um apelo: “deixa-te tocar. Aceita que não podes
tudo sozinho. Reconhece, pelo menos hoje, o que vai dentro de ti...e confia!”.
Pedro ouve este sussurro na alma e, surpreendido pela medida do Evangelho, percebe
que é hora de recomeçar! De coração aberto e com a simplicidade de quem sabe
que só o amor cura e salva, Pedro responde com a mais bela expressão que um
coração em festa pode ter quando se encontra com o Deus-Amor: “Senhor,
afasta-Te de mim, que sou um homem pecador”.
Com aquele Pe(s)cador Jesus começa uma
nova etapa na ‘peregrinação interior’ que é chamado a fazer cada coração
humano. O Mestre escolhe um coração inquieto para levar a Paz; Para falar do Céu,
escolhe um homem com os pés na terra; Para oferecer Eternidade, escolhe um
homem habituado a navegar na noite; Para Perdoar, escolhe um pecador que escutou
a Sua voz...é que o Reino de Deus não nos pede, como ponto de partida, que
sejamos já perfeitos, pede-nos somente que o coração esteja disponível. É assim
também que o Mestre sussurra à nossa alma a medida para esta semana: “Dá-me o
teu ‘nada’, serei o teu tudo!”. Aceitas? Boa Semana!
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