Somos todos carentes de amor! No mundo dos afetos há palavras que nos curam,
olhares que nos abrem ao infinito, abraços que nos levantam e reconstroem. Tal
como na música, também aqui o silêncio não é ‘ausência’, mas sim o espaço que
medeia o encontro entre o coração e a inteligência, entre o discernimento e a
ação, entre o pensamento e a palavra. É bom lembrar ainda que na vida de todos
os dias há muitas ‘sinfonias’ escritas com um silêncio contemplativo e adorador...são
aqueles momentos em que o céu nos visita num encontro, num aperto de mão, num
abraço que nos ‘desbloqueou’ o coração e a vida.
É também nesta sintonia e sinfonia de afeto que nos cruzamos com a
sublime página do Evangelho de Lucas (Lc 15, 1-32) onde um Pai pródigo de Amor
e misericórdia espera sempre o regresso do seu filho ‘mendigo’ de afeto e de
reconciliação. É uma metáfora da nossa vida interior! Afastar-se do coração do
Pai é desfigurar a nossa identidade. Já não nos sentimos filhos, apenas ‘mendigos’
de pão para a boca...quando o que nos falta afinal é afeto que cure e perdão
que ofereça recomeço. Por entre idas e vindas, facilmente esquecemos que autonomia
não é anarquia e liberdade não significa agir sem pensar ou decidir sem rezar.
O Pai não nos quer famintos, mas saciados; não nos quer dobrados sobre
o peso dos nossos erros ou pecados, mas peregrinos curados pela ternura da sua
infinita misericórdia; jamais nos olha de cima para baixo e sempre nos convida
a levantar para o alto e para longe os nossos olhos e os nossos corações. É que
Deus não nos sonhou pequenos, mas eternos! Na mesa da vida há sempre um prato
que nos espera, há um Pai-inquieto que nunca deixa de acreditar no nosso
regresso, um pai que não dorme e corre para a porta de cada vez que houve o
rumor de passos...esperando que seja aquela ‘a hora derradeira’ em que vai
poder abraçar de dignidade e perdão o ‘mendigo’ que não se acha mais filho.
A caminho da Páscoa, e quando a natureza se veste já com os primeiros
perfumes da primavera, é bom não esquecermos que “quando a Igreja escuta, cura,
reconcilia, torna-se no que ela é, no que ela tem de mais luminoso: uma
comunhão de amor, de compaixão, de consolação; o límpido reflexo de Cristo Ressuscitado.
Nunca distante, nunca na defensiva, livre de severidades, ela pode irradiar a
confiança humilde da fé nos corações humanos” (Ir. Roger de Taizé).
E é assim, por entre a memória e o afeto, por entre exigência e
ternura, que vamos ‘degustando’ cada recomeço, oferecendo e recebendo Páscoa de
cada vez que ousamos dizer: “DÁ-ME UM ABRAÇO...”. BOA SEMANA! ;)
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