Não há nada mais vulnerável no mundo do que o Amor. No
entanto, toda essa sua vulnerabilidade nos revela um paradoxo
extraordinariamente belo: na sua fragilidade (omni)potente o Amor cria, cura,
liberta, transforma, converte. Basta ver o que pode o abraço amoroso do pai
após uma queda quando somos pequenos; e quem já esqueceu o calor da ternura da
mãe que vigiava, de noite, o nosso respirar enquanto dormíamos? Ficarão para
sempre impressas na nossa alma as palavras e as carícias que enxugaram as
nossas lágrimas quando se feriram os nossos joelhos nas primeiras quedas da
infância; continuaremos a ‘degustar eternamente’ o colo que sempre foi amparo
quando os medos pareciam mais fortes que a coragem.
O amor adianta-se sempre para perdoar. Cria laços e desperta
recomeços. Faz-nos dançar, pular e cantar de alegria. Faz-nos ajoelhar para
agradecer e servir. Faz-nos caminhar porque desperta sonhos e alimenta
projetos. Faz-nos calar, pois sabe acolher, escutar e discernir. Faz-nos parar
para contemplar, pois nos ensina a ver o eterno no instante. Cheio de beleza, e
com o perfume do afeto, o amor faz-nos peregrinos em busca da sabedoria que
nasce do encontro com a verdade. Faz-nos discípulos quando se revela a nós como
Amor-Pascal, Amor-Crucificado, Amor-Ressuscitado.
É com este Amor, que faz novas todas as coisas (Apoc. 21,
5), que nos abraça a Palavra desta semana! Mais que um ‘mandamento’, é uma
‘identidade nova’. No tempo e na história, não haverá nunca outro modo de
conhecer e reconhecer um discípulo de Cristo a não ser por este Amor-Pascal que
tudo renova, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1 Cor 13). Naquele “Como eu
vos amei” do Mestre, está o início da maior revolução da história da humanidade
(Jo 13). Não poderemos mais viver ‘na defesa’ ou ‘no ataque’, não mais
poderemos separar ‘maniqueísticamente’ o mundo entre ‘os bons’ e ‘os maus’,
jamais se poderá grampear com o Amor-Pascal palavras como poder, luxo,
auto-suficiência...
O Amor-Pascal é sempre oferta de recomeço, Ele mesmo sabe
que estamos ainda titubeando no caminho! Só Ele nos pode despertar da
acomodação e entusiasmar a fazer caminho.
Estamos diante da ‘porta da fé’ (actos 14, 27), que se abre
de dentro para fora, e nos interpela a derrubar as nossas idolatrias com a
força vulnerável do único Amor que salva. Um Amor que não é novela, nem a
banalidade do ‘happy end’ de hollywood.
No Amor-Pascal estamos sempre no (re)começo, pois “Jesus
Cristo quer [que sejamos] uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no
meio da fragilidade” (AL 308). Um amor que não toque a fragilidade, que não
abrace as periferias, que não se deixe ‘sujar’... não é amor cristão! Um Amor
assim não é utopia, é Evangelho! Boa Semana.
Sem comentários:
Enviar um comentário