Nenhuma
história pessoal é um livro já acabado! Somos ‘peregrinos’, a nossa história
sagrada é feita dos ‘milagres’ cotidianos, dos pequenos encontros, do cruzar de
olhares que vencem a indiferença, das batidas do coração algumas vezes aceleradas
outras mais tranquilas...temos muito para narrar, dentro e fora de nós. Se nos déssemos
conta do muito e do belo que acontece dentro de nós todos os dias, talvez os
nossos olhos fossem menos míopes, nossos lábios menos lamurientos, nossas
palavras mais afetuosas, nos gestos mais delicados e nosso coração um altar
onde celebraríamos em cada entardecer a doce alegria da nossa existência.
Gosto
de olhar o tempo do Advento com a tónica do afeto...gosto de contemplar o nosso
Deus-paciente naquele Seu excesso de dom que o faz precipitar-se dos altos céus
para ser conosco, e em nós, o Deus-baixíssimo...um Deus que não se limita à
medida dos homens mas que é plenamente humano! Gosto de ler Deus nas
entrelinhas da vida e ver, de surpresa em surpresa, o seu agir discreto e
silencioso oferecendo uma paz não melancólica ou nostálgica, mas uma paz ativa
que desperta sentidos, convoca a inteligência e pede discernimento. Gosto de
escutar Deus nos seus profetas, os de ontem e os de hoje, e de vê-lo consolar,
acompanhar e despertar o seu Povo...
A
Palavra que nos nutre ao longo desta semana faz-nos entrar num dinamismo de
novidade que transforma os nossos desertos em caminhos, as nossas certezas em
tempo de discernimento, as nossas fragilidades em oportunidade de crescer, as
nossas chagas em ‘tesouro fecundo’ que o tempo cicatriza fazendo delas porta do
futuro. Naquele “Arrependei-vos” (Mt 13, 1-12) com que João nos inquieta nos
desertos que nos habitam está condensada a provocação de Deus a deixarmos que
Ele reine em nós, na nossa vida, em nossas opções, nos nossos afetos...é que
onde Deus reina o humano é pleno, o silêncio torna-se fecundo, o agir não
cansa.
Há
arrependimentos que nos amarguram e torturam, neles há sempre histórias e
acontecimentos que insistimos repetir, ruminar, até nos autodestruirmos e
deprimirmos. Isso não é arrependimento, é apenas um processo de culpa e de
acusação com que lutamos diariamente...e diante do qual nos sentimos sempre
vencidos.
O
arrependimento que nasce da fé não nos coloca ‘contra a parede’, não nos ‘aponta
o dedo’, liberta-nos da culpa e aponta-nos caminhos! Arrepender-se não mata,
converte! E toda a conversão é sempre uma primavera da alma que faz florir a
esperança mesmo no meio do mais rigoroso inverno.
Esta
semana vamos cruzar-nos no caminho com a ‘Cheia de Graça’, Ela nos garante como
‘sacramento da Ternura’ que o segredo é confiar. E toda a conversão começa
sempre com esse gesto sublime de quem aceita entregar tudo nas mãos do único que
nos pode oferecer recomeço. A todos. Sempre! Boa Semana.
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