Distraídos e anestesiados somos
devorados pelo relógio que nunca para! Bauman diz que vivemos num tempo em cuja
identidade ou é de ‘turista’ ou de ‘vagabundo’, as referências e decisões sólidas
tornaram-se fluídas e, não obstante a tragicidade de tudo isso, somos cada vez
mais indiferentes...
Com seus ritos e dogmas a
indiferença vai fazendo caminho entre nós: na falta do ‘bom dia’, na omissão de
gentileza, na falta de apreço pelo que o outro é, no modo como nos olhamos
pessoal ou coletivamente...estamos, lentamente, a ‘demonizar’ e a esquecer o
humano. A nossa memória, quase potenciada ao infinito pela nova religião (do
latim ‘religare’) chamada tecnologia, é afinal cada vez mais curta e os nossos “terabytes
emocionais”, que deveriam ser espaço (e)terno para o (re)encontro, o diálogo e
a partilha, estão cada vez mais monossilábicos e vazios, dando lugar a um
sentimentalismo epidérmico e perigoso.
Precisamos, urgentemente, (re)aprender
a arte de cuidar e contemplar. Precisamos de silêncio e de um coração de
criança para reaprender afetos. Se nos falta encanto para ver o novo,
precisamos reaprender a contemplar o quotidiano e a ver em cada instante ‘o
milagre’ de um caminho feito de escuta, decisão, ousadia e criatividade. Nenhum
de nós é um monólogo. Muito menos somos cinzentos! As cores da vida, e do
coração, dão-nos a possibilidade de nos tornarmos ‘semeadores da ternura’ e (re)construtores
da esperança.
Cada vida é um (re)começo! Uma
história tecida com a filigrana de tantos encontros, palavras, silêncios, gestos,
olhares. Sim, podemos recomeçar sempre. Todos os dias. A ternura abre portas
onde só vemos paredes, um olhar planta infinito onde só vemos limites, um gesto
abre ao futuro onde antes só se via passado, um abraço desperta acolhimento
onde antes só se via recusa, e o coração...bom, esse faz-nos sussurrar a Vida
onde se via apenas morte!
Quando nos faltar a coragem, ou
o medo parecer mais forte, vamos olhar-nos olhos nos olhos ainda mais
intensamente, vamos deixar que nossos corações se (re)encontrem e, na
cumplicidade que só o Amor desperta, vamos sussurrar um ao outro: “Vou cuidar
de ti! Não temas! Dá-me um abraço”.
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