quarta-feira, dezembro 17, 2014

CIRENEUS DA ALEGRIA!



A alegria cristã é cheia de Páscoa. Atravessa as cruzes da nossa existência com a eternidade, semeando em nós a certeza de que nada, nem ninguém, nos pode separar do Amor (Pascal) de Cristo! Não será estranho, portanto, que a nossa alegria, do coração e da vida, seja ‘Evangelho’ (= Boa e feliz notícia) para o mundo. É assim em cada tempo, e também neste tempo de Advento, nesta semana em que a Alegria invade cada respiro e cada palavra que nos é dada na Palavra.

Ai de nós se a alegria que nos foi dada como dom-para-todos ficasse encerrada nas nossas ‘bafientas’ sacristias ou enclausurada nos nossos apressados preconceitos e julgamentos pouco evangélicos. Quando a alegria não é partilhada, é a Vida que é sufocada! É querer neutralizar o Evangelho que deixa de ser Palavra de Vida e passa a ser ‘letra morta’. Mas a Boa Nova não se deixa aprisionar pelas nossas medidas curtas nem pelas nossas fragilidades. Vai sempre à frente a abrir caminhos de novidade e a consolidar o dinamismo do Reino que se traduz na alegria dos ‘bem-aventurados…’ (Mt 5).

Neste caminho, feito de pés descalços, peregrinando com delicadeza no território sagrado do nosso coração e da nossa vida, guia-nos a certeza de que a alegria cristã não é ‘euforia’ nem ‘utopia’, mas a SERENIDADE de um coração que sabe ler cada tempo como GRAÇA, viver cada situação com SABEDORIA e assumir cada decisão com DISCERNIMENTO. Eis os pilares essenciais da alegria cristã! Pilares que precisam de ser conjugados com os verbos proféticos e fundamentais: “ANUNCIAR aos pobres, CURAR os corações atribulados, a PROCLAMAR a libertação aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, DIFUNDIR o ano da graça do Senhor” (Isaías 61, 1-11).

Sim, para viver a Alegria do Evangelho é preciso ‘compaixonar-se’ e servir, escutar e acolher, denunciar e comprometer-se. A alegria do Evangelho não é festa de uma noite, não se resume num só dia, nem nos afasta da realidade. A alegria do Evangelho tem Rosto, tem Vida, tem nome e habita cada hora…porque nos habita o coração para sempre! É um projeto que nos convoca, um apelo que nos desassossega, um dinamismo que não podemos ignorar ou ‘descafeinar’. Deixar-se abraçar pelo Evangelho é deixar-se transformar em Cireneu da Alegria, sabendo que: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1).

Não há, portanto, alegria maior do que aquela de saber ‘definir-se’ diante da vida! Mergulhados nesta alegria que nos conduz a Belém para sermos ‘contempl-ativos’ da Vida, provocam-nos as interrogações feitas a João Batista, no Evangelho deste Domingo, e que ficam como desafio para nós esta semana: «Quem és tu?...Que dizes de ti mesmo?» (cf. Jo 1, 6-28)…e com que alegria vives tudo isso?...BOA SEMANA!


quinta-feira, dezembro 04, 2014

NÃO TENHO TEMPO!...

Estamos demasiado habituados a pensar todas as coisas a partir de nós. Não somos donos do tempo mas queremos domesticá-lo, e para isso inventámos o relógio. Como se isso ainda não fosse suficiente, já repetimos todos mil vezes na expressão: “Não tenho tempo!”.

Pois bem, eis que o tempo (e o seu Senhor!) se chega a nós. Este é um tempo (kairós = de Salvação e de graça!) para despertarmos e nos darmos conta de que a Salvação continua operante no nosso quotidiano, nas nossas rotinas, até mesmo nos nossos gestos distraídos ou apressados. Sim Ele não vem cá, Ele está cá! Nós é que precisamos de despertar da nossa sonolência para nos deixarmos abraçar, como na primeira hora em que a fé foi semeada em nossos corações, por este abraço que aquece o coração e a vida, que dá liberdade na responsabilidade e que tem como medida (e)terna a fidelidade.

É que o advento não é um ‘ginásio espiritual’ para nos prepararmos para a prática das boas virtudes no Natal. Advento é convite, é chamamento, a levantar os olhos para-além-do-chão e a ver, afinal, que Aquele que nos ama não nos abandonou a uma triste solidão para irmos ‘gemendo e chorando neste vale de lágrimas’. Aliás, jamais poderia fazê-lo! É que o Amor nunca esquece, não se atrasa nem se apressa. Chega sempre na medida e no tempo certo. É por isso que a Palavra de Deus neste Domingo nos ofereceu um imperativo fundamental para não nos distrairmos nem nos perdermos no caminho que a Vida está a percorrer até nós: VIGIAI! (cf. Mc 13, 33-37)

Não se trata de fiscalizar, nem de estar na defensiva. Também não se trata de ‘construir um castelo’ para (vi)vermos a-vida-longe-da-Vida. Trata-se de assumir que a nossa fé em Cristo nunca nos limitou a olhar só para trás nem só para o alto, e sempre nos interpela a olhar também pra frente. Vigiar é, portanto, um outro nome para dizer ‘CUIDAR’…Cuidemos então uns dos outros neste advento. Deixemos que o Único que pode sarar as nossas feridas e derramar nos nossos corações o óleo da consolação e da alegria, nos prepare para vivermos sempre, e de um modo especial neste tempo, dinamizados por este cuidado paterno/materno que tão belamente nos descreve o profeta Isaías: “Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam… Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos” (Is. 63).

Está na hora! Acerta o teu relógio e (re)começa. Não, não vais atrasado! O Amor sempre nos espera. Não está longe da vida. É a Vida. E pelo caminho, nas encruzilhadas por onde fores passando não te canses de semear com um coração paterno/materno esta grande certeza de que fora do amor não há salvação. Bom Advento, com um coração ‘samaritano’…!

De quem vais cuidar neste Advento? e como?...e vais deixar Deus cuidar de ti?...