sábado, dezembro 16, 2006

“a Menina que vê mais longe”...

"Lá nos encontrámos uma vez mais..."
Assim começa mais uma bela história da minha vida. é a história de mais um encontro que me marcou.
Fui para celebrar o natal com elas, sabia que alguém queria conversar comigo antes e celebrar o encontro com o "Deus esbanjador de misericórdia" no sacramento da reconciliação. Assim aconteceu.
Começou a festa: jantar melhorado, sinais exteriores de festa, grande algazarra na casa...foi então que depois disto subimos à sala de cima, e não é uma metáfora bíblica para aludir á ultima ceia, foi assim de facto. Subimos para no piso superior celebrarmos a eucaristia, o encontro com o Deus da simplicidade, da ternura, com o Deus-Connosco.
ela entrou, discreta como sempre...fixei nela o olhar...algo se passava...mais do que estar triste ela tinha a tristeza no olhar, o peso dos dias ou noites mal dormidas e mal amadas, trazia no olhar a marca da cruz e da dor, um olhar triste e perturbado, inquieto...distraído e confuso! Assim estava "a menina dos olhos tristes" (vamos chamar-lhe assim!).
no fim da eucaristia prendas para todos, oferta da casa. todas começavam a sair e eu chamei-a pelo nome: "..., podes chegar aqui!". por momentos senti que ela paralisou...talvez para ela tenha parado o mundo...ou se calhar talvez agora ele tivesse começado a girar...
Disse-lhe: "estou aqui! se quiseres falar sobre os teus olhos tristes...estou disponível para te ouvir", e acrescentei: "lembras-te do livro que te prometi? trouxe-o comigo, chama-se "o caminho da imperfeição", é a tua prenda de Natal”.
Naquele momento senti, embora a medo, que ela se tornou um barco que levantou a âncora e agora queria começar uma viagem: não para longe ou perto, mas para dentro"...lá nos sentámos...falámos muitos (eu procurei sobretudo ouvir!).
Ela estava um pouco atrapalhada pois não sabia bem se tratar-me por “tu” se por “sr. Padre”, no meio da confusão lá decidimos que o “sr.” É outro e que eu não sou mais do que um irmão, daí que o tu seja o mais acertado!
Entre alguns desânimos, algumas angústias e medos, lá fomos lendo o livro da vida...disse-me que já nem tinha força para chorar...que para ela já não havia solução...estranhamente quando falava das coisas simples e belas, das histórias de cumplicidade e de ousadia, esboçou um sorriso, mais adiante outros... chorou também breves lágrimas, pouco mais que duas, enquanto partilhava o vazio, o medo,...no final de tudo dei-lhe então um abraço demorado e terno, disse-lhe que estava disposto a fazer caminho com ela...e a “menina dos olhos triste”, com um ar confiante de uma “criança que começa a dar os primeiros passos” lá me disse: “vamos tentar! Vou tentar!”. Cá fora já alguém nos esperava. No frio da noite (ou melhor, do dia que já tinha começado há algum tempo!) ela foi descansar e eu lá me enfiei no carro a caminho de casa. Eu estava radiante, Feliz!
Enquanto viajava rezei, cantei também(só um louco é que faz isto!!!), e percebi como sou cada vez mais feliz por, na minha pobreza e simplicidade, dar tempo e coração à escuta.
Com a “Menina dos olhos tristes” apanhei uma vez mais um “banho” de humildade... A menina dos olhos tristes ensinou-me a ser pequenino, aprendi com ela a estar mais atento aos dramas de quem tendo tudo se sente nada...aprendi sobretudo a deixar-me surpreender por este Deus que habita no coração dos homens e mulheres que ele vai colocando no meu caminho.
A “menina dos olhos tristes” tem agora um outro brilho no olhar: a esperança de quem sente e sabe que não está só! Desde esse dia que a “baptizei” como “a Menina que vê mais longe”...é assim que carinhosamente irei tratá-la e acompanhá-la!

quarta-feira, dezembro 13, 2006

um coração que já não espera!?...(ainda a propósito do advento)


Como Criança, sentado à beira mar,
eis-me aqui, ò Deus,
a contemplar-Te no silêncio...
sabes muitas vezes ando quase esquizofrenicamente
a correr de um lado para outro,
pensando que sou eu a salvação que tantos anseiam e esperam...
e bem sabes como nesses dias é o meu umbigo o centro do mundo!
outras vezes, ò Deus, o meu coração já não sabe esperar em Ti, já não tem tempo para esperar em Ti...
e no entanto vem-me sempre à lembrança a convicção de que
um coração que já não espera é um coração que deixou de amar,
que deixou de estar aberto à surpresa,
é um coração que perdeu o encanto pelas coisas pequenas...
Por isso, uma vez mais conTigo e diante de Ti,
aqui me tens:
contemplativo no silêncio,
na expectativa de quem sabe esperar,
a viver este tempo da Esperança
na alegria e na simplicidade
de uma criança que se senta à beira mar
e que sabe que, ao longe, o horizonte
é apenas um ponto de chegada para uma nova partida...

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Imaculada e Senhora do Advento


Virgem.
Sempre Virgem.
Sem pecado concebida.
A Ti, Jovem donzela de Nazaré,
Em quem vem habitar o Deus da Vida,
Chegam estes rogos, estes prantos…
São clamores e cantos,
São gritos de uma fé firme,
São hinos de uma voz trémula.
A Ti, Senhora do Advento,
Confio todos os meus tormentos,
O que sou e o que hei-de ser…
Em Ti, eu quero ver
O meu Redentor Vivo,
Feito homem,
Deus-Menino…
Ele, Princípio e Fim,
Fruto do amor de Deus
Que incarna com teu SIM!