um espaço de partilha, reflexão, discussão e anuncio do amor misericordioso de um Deus loucamente enamorado por todos os que criou à sua imagem e semelhança...
segunda-feira, novembro 18, 2013
segunda-feira, novembro 04, 2013
A ‘MATEMÁTICA’ DE ZAQUEU E O ‘GPS’ DE DEUS …
Há 2 dias, no telejornal, falavam das dificuldades a nível familiar com a ‘nova
matemática’ que hoje é ensinada nas escolas. Vem isto a propósito de Zaqueu, o ‘homem
de pequena estatura’ de que nos fala o Evangelho (Lc 19,
1-10). É um
homem de bolsos grandes e de coração pequeno, é um homem ‘mirrado’ porque é um
saqueador da dignidade dos outros. É rosto de um sistema que oprime, que
amordaça os mais débeis, que obedece a uma lógica onde o ‘humano’ e o ‘dom’ não
têm vez nem voz.
A matemática de Zaqueu obedece a uma lógica muito semelhante à que vivemos
hoje: num ambiente dominado pela ‘lógica de mercado’, as pessoas são ‘números’
que se podem ‘manipular’ ou ‘ignorar’, consoante o que é mais conveniente, ou, para
agravar esta ‘lógica da indiferença’, elas são consideradas apenas como uma percentagem
(a dos desempregados, por exemplo) que é preciso ‘diminuir’ mas que em cada dia
se vê aumentar!
É com esta lógica matemática, que lhe faz ‘mirrar’ o coração e que lhe
estreita os horizontes de vida, que Zaqueu se torna um errante. Anda à procura,
de Deus e de si …é um ‘peregrino sem rosto’ e ‘sem alcance’ no meio de uma
multidão que não lhe abre espaço para olhar mais longe e ver mais profundamente.
Às vezes também nós caminhamos ‘sem lógica’, sem rumo,…com os nossos bolsos
cheios de passado mas com um coração que teima em não se abrir ao futuro. Esta ‘matemática
de Zaqueu’ é tantas vezes a nossa…Ele não sabe partilhar, não se deixa ajudar,
vive em fuga, numa ‘ilha de solidão’ onde parece não mais haver porta para se
entrar e lugar à mesa para dialogar.
Mas às contas de Zaqueu, à sua ‘matemática quotidiana’, cheia de rotinas
que não se abrem ao infinito, faltava um ‘olhar novo’, ampliador de horizontes,
transformador de corações. É o olhar de Jesus! É nele que nos devemos concentrar.
Jesus vai a caminho, é a última etapa do percurso iniciado em Lucas
9,51-62. O encontro olhos-nos-olhos, a conversa com Zaqueu, não é um ‘acidente’ de percurso!
Jesus anda à ‘procura do que estava perdido’, o ‘GPS’ divino anda a ‘reconfigurar’ os caminhos da
humanidade, anda a ‘ampliar’ os horizontes, obrigando-nos também a ‘desenhar
com as cores do amor’ novos mapas para o encontro, para a partilha, para o
perdão…enfim, um desafio constante à nossa capacidade de ser, de dar e de gerar
afecto. Sem colocar etiquetas, sem trancar portas.
E é à mesa, lugar da memória e da hospitalidade do coração, que a ‘matemática’
de Zaqueu se ‘converte’ e que ele percebe, finalmente, porque é que o ‘GPS’
divino não podia ‘mudar o rumo’ quando o que era preciso era ‘mudar o coração’.
A ‘nova matemática’ de Zaqueu («vou dar aos pobres metade dos meus bens
e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais») traz-nos também
‘dificuldades’, habituados que estamos a uma ‘matemática do passado’ (somar
para nós, subtraindo aos outros). Ainda por cima, não se aprende na escola mas à
mesa! É feita de encontro, de escuta, com os pés na terra. Dá-nos um ‘mapa’
novos dos outros e de nós.
É verdade que é ‘debaixo para cima’ que olhamos o céu, mas não será olhando
‘de cima para baixo’, empoleirados nas árvores do nosso egoísmo e indiferença,
que poderemos encher de futuro e de eterno cada gesto, cada palavra, cada
passo, cada caminho… somente olhos-nos-olhos (com Deus e com os outros). Para
isso é preciso abrir a porta…e deixar que o Outro se sente à nossa mesa.
domingo, novembro 03, 2013
Zaqueu...
Procuro-Te
por entre uma multidão
que caminha e se atropela
entre ciclos de vaidade e confusão
procuro-Te e não Te Vejo,
onde estás?
e assim, por entre uma amálgama de gente,
busco o Teu rosto, sem Te ver
procuro o Teu olhar, sem o merecer
desejo o Teu amor, para me não perder...
e num gesto derradeiro,
em sobressalto,
um velho sicómoro
é lugar caricato para me encarrapitar
ao menos para ter o gosto de Te ver passar...
nesta demanda de um velho peregrino
que quer caminhar,
mesmo sem entender o caminho,
ali estou,
mais perto do céu, nas alturas,
…e nunca me senti tão pequeno.
Sou eu,
Eu sei que Tu o sabes,
Me conheces e sondas,
E no cruzar de olhares,
Desmoronas a pequenez do meu querer,
E do crer de tantos dias rotineiros.
Quero ficar em ti,
que caminha e se atropela
entre ciclos de vaidade e confusão
procuro-Te e não Te Vejo,
onde estás?
e assim, por entre uma amálgama de gente,
busco o Teu rosto, sem Te ver
procuro o Teu olhar, sem o merecer
desejo o Teu amor, para me não perder...
e num gesto derradeiro,
em sobressalto,
um velho sicómoro
é lugar caricato para me encarrapitar
ao menos para ter o gosto de Te ver passar...
nesta demanda de um velho peregrino
que quer caminhar,
mesmo sem entender o caminho,
ali estou,
mais perto do céu, nas alturas,
…e nunca me senti tão pequeno.
Sou eu,
Eu sei que Tu o sabes,
Me conheces e sondas,
E no cruzar de olhares,
Desmoronas a pequenez do meu querer,
E do crer de tantos dias rotineiros.
Quero ficar em ti,
na tua casa,
Hoje!
A minha alma estremece e vibra,
atónita talvez,
No desconcerto de ter o Tudo em mim,
Comigo, no meu lar,
E mesmo sem falar digo que sim!
O meu coração pequeno,
Tantas vezes pródigo de Deus e de mim,
Teima em não se calar:
“a medida de Deus é amar”
E como címbalo sonoro
Rompe a mudez da vida,
Triste e aborrecida,
E num dar-me sem medida
Convida-me a partilhar.
Hoje!
A minha alma estremece e vibra,
atónita talvez,
No desconcerto de ter o Tudo em mim,
Comigo, no meu lar,
E mesmo sem falar digo que sim!
O meu coração pequeno,
Tantas vezes pródigo de Deus e de mim,
Teima em não se calar:
“a medida de Deus é amar”
E como címbalo sonoro
Rompe a mudez da vida,
Triste e aborrecida,
E num dar-me sem medida
Convida-me a partilhar.
Na multiplicação por quatro
Vão as fronteiras quebradas
dum orgulho “em-mim-mesmado”
que se abriu à novidade
da eterna claridade
de um Deus em mim “acampado”.
e na alegria do encontro
com o Fiel peregrino,
nesta casa de Zaqueu,
quem desceu daquele sicómoro,
atónito e transformado,
já percebi…que fui eu!
sexta-feira, novembro 01, 2013
SANTIDADE...um convite à transgressão?!
«Os
Santos,
Nascidos do amor à
Vida,
viveram um amor nunca
acabado
…fiéis até à morte ao
Amor-Crucificado».
A santidade é um
caminho feito de quotidiano, não se improvisa, nasce da
fidelidade gerada e desejada em todos os dias. Nasce de um coração que se
alegra por semear eternidade em cada acontecimento e em cada pessoa. Nasce da
fé, do encontro com o Deus-Amor que nos habita e nos ‘habilita’ a sermos
“santos como Ele é Santo”.
A santidade é, para tantos, ‘inconveniente’, dado
que é uma
provocação a não nos acomodarmos. Ela é 'perigosa' por causa do bem que faz despontar, pela
gratuidade que semeia, pela sabedoria com que ensina a viver, isto é, pelo
'discernimento' que ajuda a ler a vida com Esperança e a projectá-la com
Fidelidade. É ‘perigosa’ também pela 'sabedoria do coração' que suscita e que
faz olhar a vida como uma constante 'peregrinação'...é por isso que a Santidade nunca
é light... Ela desinstala-nos...sempre!
«Os pobres em espírito, os humildes, os que
choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de
coração, os que promovem a paz, os que sofrem perseguição por amor da justiça»
de que nos fala o Evangelho (Mt 5, 1-12) não são uma espécie de ‘super-homens’
ou ‘super-mulheres’ de um passado lá longe, também não são ‘extraterrestre… os Santos são sempre ‘intraterrestres’! Vivem o Evangelho com
os pés na terra! Eles, vivendo no coração do mundo, comungaram dos mesmos
sofrimentos, dúvidas, falhas e medos que nós experimentamos diariamente…mas
decidiram quebrar a ‘solidão autonómica’
e abrir-se, como dizia S. Máximo, à Theo-nomia,
isto è, àquela liberdade onde é Deus quem dá ritmo, saber e sabor ao caminho de
cada dia. É por isto, e por muito mais, que a santidade é sempre um convite à transgressão. Ela é desafio
permanente, como o ressoar de um campanário, a superar ‘medidas curtas’, a
olhar a realidade como dom e a vivê-la no ‘excesso do dom’.
A santidade nunca se contenta com um cumprimento ‘escrupuloso’
da lei, supera sempre todo e qualquer legalismo, pois o seu centro é a ‘lógica
do dom’. É também por isto que a santidade não se coaduna, nunca, com maiorias
ou consensos alargados (como agora é moda dizer-se na política!). A santidade é
sempre livre para obedecer e humilde para discordar. É profecia de comunhão e adversária da solidão. É escola de servos e nunca promotora de vaidade.
A santidade não se incensa nem se lamenta, não ataca
nem defende, mas Escuta, Dialoga e Entusiasma! É que a
Santidade é o respirar da vida a plenos pulmões, ou seja, é aquela sintonia e sinfonia de uma vida que se torna, cada vez mais, ‘a casa do Amor’.
A santidade é, então, a Páscoa feita quotidiano!
A santidade não é uma conquista pessoal mas desafio/chamamento
à perseverança e à confiança filial, porque os santos são os que não desistem de recomeçar, são os que
vivem ancorados na misericórdia infinita de Deus. São aqueles que aprenderam a
dizer a Deus, com a vida, “seja FESTA a Tua vontade!” (Don Tonino Bello). São
os que descobriram a sua condição de Filhos (1 Jo 3, 1-3), não como uma ‘ideia’ ou uma ‘boa
intenção futura’, mas na carne, no coração e na inteligência, no quotidiano…os
santos são os que se colocam a caminho, com determinação, sem medo e sem
reservas, de coração aberto…como aquela multidão incontável (Apoc. 7, 2-4.9-14),
que vinda da grande tribulação, se encontra agora com o Cordeiro para se deixar
conduzir por Ele.
Celebramos hoje a
solenidade de “todos os santos”, isto é, a certeza que nos vem da fé de que
entre o tempo e a eternidade não há descontinuidade mas uma comunhão de vida,
de vida (e)terna, uma vida que se faz cântico permanente à Santidade de Deus.
Celebramos a
multidão de homens e mulheres que deram ‘carne’, rosto e voz ao Evangelho. Alguns
são da nossa família, nossos amigos e conhecidos.
Celebramos a
alegria da fé e a certeza de que não caminhamos sozinhos. Somos da Família de
Deus. Somos A Família de Deus, Templo de Deus, chamados a viver de olhos
abertos e coração disponível o Evangelho.
E para que possamos ser mais
santos e mais irmãos, para que possamos alegrar-nos e exultar, viver e partilhar
a verdade com “esta
geração dos que procuram o Senhor” (Salmo 24) peçamos-Lhe com fé:
Queremos ser Santos, Senhor,
queremos recomeçar,
com um coração novo e disponível,
aberto à Tua Palavra e comprometido com os irmãos.
Dá-nos, Senhor, um coração simples para Te contemplar,
um coração generoso para Te acolher,
um coração sábio para Te procurar em todas as
situações.
Livra-nos, Senhor, do medo e da acomodação,
Livra-nos do conformismo de quem acha que ‘já não vale
a pena’.
Dá-nos um coração entusiasmado,
cheio de alegria em procurar-Te,
com a ternura de um coração materno
com o entusiasmo de uma criança,
com a sabedoria dos idosos,
com a audácia dos jovens,
com a determinação dos mártires,
com a fidelidade dos santos.
Dá-nos, Senhor,
Um coração que sabe esperar…
…um coração que sabe esperar-Te.
É por tudo isto,
então, que a santidade é SEMPRE um convite à transgressão…pois cada baptizado, mesmo não sendo um ‘fora-da-lei’, é sempre aquele que vai (e
se dá) para além dela. Boa Festa…Todo(s)
Santo(s), é o que te desejo!
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