terça-feira, outubro 21, 2014

...PORQUE O AMOR NUNCA SE ATRASA!



Quem vive ritmado pelo Amor sabe que nenhuma espera será longa porque a vida, 'respirada' a plenos pulmões, é sempre capaz de desenhar no tempo os caminhos que conduzem para além dele...É assim, com a delicadeza da ternura, que o Amor vai semeando esta 'epifania do essencial'.

Esperei por Ti,
na viagem do tempo,
no amanhecer de cada estação.

Ao cair de cada folha no outono,
no alegre despontar da vida
na aurora de todas as primaveras,
no pôr do sol de cada verão,
na travessia serena de cada inverno…

Esperei por Ti,
sem pressa e sem medo,
porque o Amor nunca se atrasa.

E dancei contigo em todas as praças da Vida
embalado pelo perfume suave de um abraço
Que fazia de nós uma só carne.

Esperei por Ti,
para beijar e abraçar a tua história,
derramando em cada uma das tuas feridas
o bálsamo da paz e a delicadeza da ternura
que enche de futuro cada passo
e que amplia as fronteiras do coração.

Esperei por Ti,
sem pressa e sem medo,
porque o Amor nunca se atrasa.

E, as encruzilhadas do tempo,
sabendo que Te esperava,
fizeram de teu coração um diamante
para que brilhassem nele todas as cores da Vida
e pudesses vir ao meu encontro
trazendo no peito a doce luz
que nenhuma noite pode apagar.

Descalço,
corri ao Teu encontro,
beijei-te na fronte para te dar a paz
e, naquela hora de graça,
o tempo tornou-se apenas um instante
que agora nos abraça 'para sempre'
…e nos faz casa um para o outro.

Esperarei por Ti,
sem pressa e sem medo,
porque o Amor nunca se atrasa.





segunda-feira, outubro 20, 2014

…A ‘OUTRA FACE’ DA MOEDA!



Os fariseus e os herodianos andavam equivocados. Só sabiam ler a vida ‘pela metade’. Por isso, era-lhes muito difícil levantar o olhar do coração de modo a buscar caminhos de dignidade para o povo que o Senhor escolheu. Viviam mais preocupados em ‘anular’ ou em ‘desnudar’ a Cristo, do que em conhecê-lo e segui-lo! Acontece com eles o que tantas vezes acontece connosco, ‘sacralizamos’ o que é indigno e ‘dessacralizamos’ o que é divino. Por outras palavras, vivemos a nossa experiência de fé ancorados no auto-consumo da superficialidade com que lemos a vida, os acontecimentos e no modo como nos comprometemos com a história. Vemos mas não contemplamos, ouvimos mas não escutamos, exigimos sem nos comprometer e vivemos sempre de mãos limpas porque incapazes de amar.
O encontro com o Evangelho revela-nos a nossa identidade e convoca-nos para uma pertença. Habituados que estamos às ‘leis do mercado’ que geram, cada vez mais, uma ‘desfiguração do humano’, também nós entramos facilmente na lógica perversa dos fariseus e herodianos: “É lícito ou não pagar tributo a César?”. Mas a questão fundamental nunca é essa! É verdade que o bem comum merece-nos sempre empenho real e contributo ético, mas também exige de nós denuncia profética, compromisso que gere autonomia responsável e não dependências indignas. Habitando um tempo tão complexo como aquele em que vivemos, as nossas análises do ‘deve’ e do ‘haver’ têm de ser secundarizadas em favor de uma outra lógica que vá além dos ‘impérios’ e da ‘divinização do poder’. É preciso recomeçar ‘a partir de baixo’, com a vulnerabilidade da ternura e com a força sempre renovadora de um serviço que nos compromete em levantar e aliviar todos os crucificados da terra. Não é ideologia ‘partidária’ nem ‘politização do Evangelho’, trata-se do Amor (pro)activo que brota da incarnação daquele que sendo rico se fez pobre (2 Cor 8, 9).
A questão, portanto, não é “quanto vale o que dou?” mas sim “em que(m) é que invisto o que partilho?”. Não se trata de ‘economia’ mas de ‘dignidade’, e esta última não tem preço, não se negoceia nem se pode suprimir. Mais, no limite trata-se de confiança (= Fé!), trata-se de rever não só a nossa ética pessoal mas também a nossa ética social, porque quando o Evangelho não se faz vida, não adiante dizer que somos discípulos. No máximo somos apenas, como os fariseus e os herodianos, ‘míopes mercadores do essencial’ que não souberam ver a outra face da moeda. Que a Palavra nos desperte da contemplação acomodada da ‘divinização do mal e da banalidade’ e, se queremos ‘dar a César o que é de César’, viremos ‘a moeda’ e aprendamos a ver nela o rosto do irmão, essa sim a ‘face justa’ da moeda! Bom Domingo!



segunda-feira, outubro 06, 2014

O AMOR NÃO DESISTE…NEM RESISTE!



 É próprio do Amor surpreender, ajoelhar-se, cuidar, envolver e ‘ressuscitar’. O Amor vai sempre na frente porque não tem pretensão de ser o primeiro, mas sim porque quer abrir caminhos para que quem é amado possa atingir a meta. Se vai na frente, é para rasgar horizontes de novidade. Se vai ao lado, é para ritmar a fidelidade e fortalecer os passos. Se vai atrás, é para recordar que a misericórdia é sempre maior que qualquer das nossas fragilidades e para nos estimular a olhar na direção justa. Já o disse aqui algumas vezes: quem vive de passado é museu, quem se deixa abraçar pelo Amor olha-se sempre com futuro!

O nosso encontro com Evangelho leva-nos, esta semana, a ‘sair derrotados’ das nossas lógicas curtas e tantas vezes mesquinhas. Habituados e acomodados a uma ‘justa retribuição’ que responde ao mal com o mal, somos ‘derrotados’ pela pedagogia do coração de Deus: o Amor responde ao mal com fidelidade e à ofensa com perdão, com oferta de recomeço. É dura para nós esta lógica!!!

Se o sonho de Deus nos revela que somos criados para ‘produzir frutos de eternidade’ (Mateus 21, 33-43) não podemos então contentar-nos com uma vida mesquinha. Só se vinga quem é incapaz de amar. Quem ama sabe ler a história com serenidade, sem preconceitos e sem superficialidade, e sabe ainda que o desamor nunca é ‘resposta’ mas sempre caminho que conduz a uma solidão existencial que nos afasta dos outros…porque nos afasta de nós.

Para dar fruto é preciso abater os muros que cercam o nosso coração, as muralhas que nos colocam sempre na ‘defensiva’ ou no ‘ataque’, os olhares míopes de quem vê sempre no raiar do sol uma ameaça à nossa ‘escuridão interior’. É que o Amor não desiste…e nem resiste! Porque é dom total, ele é sempre uma oferta livre e compartilhada daquela sabedoria que vê em cada recomeço uma ‘primavera existencial’. Não é assim o coração de Deus?! Porque não cria resistências e porque a sua ‘inteireza’ está na fidelidade, Deus que é Amor nunca se cansa de se inclinar, de nos procurar, de nos levantar e sarar. É o primeiro a confiar e o único que não desiste! Pede-nos apenas que ‘a vinha que somos’ (= símbolo da vida ritmada e abraçada pela ternura de Deus) não seja um espaço cercado pelo ‘arame farpado’ da nossa indiferença mas sim um recinto aberto, sem muros ou esquemas de 'defesa-ataque', onde todos possam entrar e saborear no calor da mesa e do coração ‘o vinho novo’, a aliança nova e eterna de um Amor que é salvação, vida abundante. Para todos. Para sempre! Pois para quem ama a 'eternidade' é a medida e é (re)começo, nunca um fim…Boa Semana