segunda-feira, outubro 23, 2017

VAIS CONTINUAR A FAZER CONTAS?...


Diante de um mundo complexo (e desafiador!), vemos como a maioria das pessoas tem uma tendência natural para ‘quantificar’ a vida e os seus acontecimentos. Diz-se que hoje tudo tem um preço...até a ética (segundo alguns!). Tornámos o existir uma espécie de ‘exercício matemático’ onde o que vale é ‘somar’...uma matemática estranha que tem feito da vida uma ‘correria imensa’ onde o saber e o sabor de cada dia se esfumam cada vez mais, tornando o dom maior que é o viver um ‘fardo’ em vez de um ‘milagre (e)terno’.

Para não continuarmos errantes e distraídos, pensando que o quotidiano é insignificante, a Palavra que a cada Domingo nos ressuscita, vem esta semana despertar-nos das nossas lamentações e provocar o nosso coração para mais um passo nesta peregrinação que é a vida.

É que a vida não se resume somente ao que os nossos olhos vêem! Por isso, diante da artimanha montada para surpreender e contradizer Jesus (Mt 22, 15-21), dá-se o ‘milagre do sentido’: enquanto os fariseus e os herodianos se unem para continuar a ‘fazer contas’, pensando que na vida só vale somar, o Mestre surpreende-os colocando-os diante do essencial: ‘afinal, quais são as prioridades da tua vida? O que faz com que os teus dias sejam um dom?’...

É bom lembrar que “dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” não é uma ‘oposição’ de poderes...até porque o único poder do Amor é servir! A expressão significa essencialmente: não criar idolatrias. Por outras palavras, onde há discernimento não há espaço para manipulação, nem para ‘ódios de estimação’, muito menos para uma ‘paz podre’.

Com a sabedoria de Pai e Pastor, neste dia mundial das missões, o Papa Francisco interpelou-nos (re)lembrando que: “a missão da Igreja não é a propagação duma ideologia religiosa, nem mesmo a proposta duma ética sublime. (...) Por meio da proclamação do Evangelho, Jesus torna-Se sem cessar nosso contemporâneo, consentindo à pessoa que O acolhe com fé e amor experimentar a força transformadora do seu Espírito de Ressuscitado que fecunda o ser humano e a criação, como faz a chuva com a terra (...). O mundo tem uma necessidade essencial do Evangelho de Jesus Cristo. Ele, através da Igreja, continua a sua missão de Bom Samaritano, curando as feridas sanguinolentas da humanidade, e a sua missão de Bom Pastor, buscando sem descanso quem se extraviou por veredas enviesadas e sem saída. ”. Mas também nos advertiu ao recordar que: “uma Igreja autorreferencial, que se compraza dos sucessos terrenos, não é a Igreja de Cristo, seu corpo crucificado e glorioso. Por isso mesmo, é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”.


Na lógica sempre humanizadora do Evangelho, “dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” significa não ceder à tentação de ficar mudo diante da injustiça, não fechar os olhos diante dos ‘corações aflitos’, não hipotecar o coração deixando que algo possa mais do que o Amor...E Tu, vais continuar a fazer ‘contas’? BOA SEMANA!


segunda-feira, outubro 09, 2017

NÃO BASTA SER SEMENTE...


Se fosses uma semente, o que serias?...pode parecer-te estranho começar assim a semana, mas quem não se questiona, definha...e morre! Viver, é saborear em cada interrogação a possibilidade de deixar germinar o dom. Há sementes que germinam para ‘sufocar’ a vida (e hoje parecem ser tantas!); outras sabendo que a vida se constrói (e se partilha!) de dentro para fora, preferem permanecer na sua ‘esterilidade’...é mais cómodo assim!

A Palavra que desperta o coração e nos dá a Vida, coloca-nos esta semana diante da pedagogia de Deus. Não se trata de uma ‘pedagogia da resistência’ nem de uma ‘pedagogia da sobrevivência’, pois Deus não é adolescente e aos Seus olhos nenhum de nós é uma ameaça. A Palavra coloca-nos diante da ‘pedagogia do recomeço’...Deus sabe (só Ele sabe!) que nas entrelinhas da vida, no modo como vamos tecendo e habitando o cotidiano, são muitas as contradições nos habitam. Ele sabe os propósitos e a determinação com que damos em cada amanhecer o primeiro passo...mas também conhece a fragilidade para onde confluem os trilhos percorridos de pés descalços, mãos vazias e coração trémulo.

Deus sabe que o Seu Amor nos escandaliza! Quantas vezes tentamos domesticá-lo. No entanto, o Divino Amante, não hesita, nem por um instante, em habitar as nossas contradições com este paradoxo de ser Tudo para o nosso nada, Perdão para o nosso pecado, Vida na nossa morte, Paz para nossa inquietude.

Nos vinhateiros da parábola (Mt 21, 33-43), que Jesus nos sussurrou ao coração, estamos representados também nós cheios das nossas inseguranças passadas, agrilhoados nos nossos absolutos do tempo presente e nas nossas tentativas insanas de sufocar o futuro, esquecendo que ele será sempre dom e nunca ameaça.  

Não se trata, apenas, de ser semente...é preciso frutificar! É por isso que Deus não desiste. Também no seu tempo Jesus encontrou resistências, corações surdos e cegos. Não esqueçamos que o medo gera sempre fanatismos e violência...no tempo de Jesus, foi o medo que cristalizou atitudes e trancou os corações. E onde há medo, a liberdade será sempre escrava.

Deus quer-nos livres. Habitados pela gratidão de quem olha para a frente (e para o alto!) sabendo que a peregrinação da vida se vive de coração aberto, perfumando de ternura e compaixão os corações aflitos, ungindo com o dom da paz os viandantes cansados e sendo regaço acolhedor para todos os que se sentem indignos e órfãos.


Diante do nosso coração e da nossa inteligência coloca-se um desafio ‘cotidianamente solene’: Em cada semente, uma promessa. Em cada promessa, uma aliança. Em cada aliança, frutificar. Foi isso que lhe pedimos ao concluir a missa este domingo, rezando: “Senhor, neste sacramento em que saciais nossa fome e nossa sede, fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos n’Aquele que recebemos”...ainda te lembras? BOA SEMANA!