segunda-feira, dezembro 16, 2013

VOU (D)ESCREVER-TE UM SEGREDO…

Há em todos nós um ‘sussurrar do coração’ que, lentamente, vai germinando um desejo muito profundo de encontro, de uma esperança nova, de um tempo novo. Todos sabemos, e experimentámos já, o valor de uma carícia, de um beijo ou de um abraço. Sabemos também o que é ‘pressentir’ a chegada de alguém a quem amamos. Mas, sabemos também o que é aguardar no silêncio a sua chegada. Fazer caminho de Advento, deixar que a esperança dê firmeza aos nossos passos, constância o nosso coração, discernimento ao nosso agir, implica fazer esta longa viagem que nos leva, de silêncio em silêncio, ao Encontro com Aquele que é a Palavra. Implica, principalmente, deixarmo-nos envolver pela ternura de um silêncio que não nos esmaga ou recrimina, mas antes nos recria, refaz, ‘ressuscita’, porque o silêncio que nasce da fé nunca é de acusação, mas de misericórdia, ternura, recomeço, alegria…

E é na alegria, no Júbilo (= ‘coração que dança’), que nos fazem entrar as leituras que escutámos neste domingo e que nos ‘abrem a porta’ desta semana. Em todos nós, há silêncios que precisam de ser ‘iluminados’, há noites que precisam de ‘(re)nascer’ para puderem dar lugar ao dia, há ‘fronteiras’ que continuam a precisar de ser alargadas, redesenhadas, para que ‘dilatando’ o coração possamos também aumentar o amor que colocamos em cada gesto, palavra ou pensamento. A um ‘povo desalentado’, Deus envia um ‘profeta e consolador’ que os convida à alegria que ‘ressuscita’ a vida, que gera novidade, sobretudo onde a vida se fez ‘deserto’ e se tornou auto-convencimento de que mudar/melhorar é impossível....

Deus surpreende sempre! Entra na nossa vida e ‘recicla’ todos os esquemas mentais feitos só de ‘eus’ e abre-nos a um ‘nós’ que gera partilha, fraternidade, confiança, comunidade. É para isso que é preciso ter ‘coragem’ e ‘não temer’, porque a alegria de quem tem fé, de quem ousa acreditar e confiar(-se), é uma alegria sempre ‘irradiante’, contagia, transforma. É a alegria amadurecida no silêncio, dada à luz pela ‘conversão’, uma alegria que suscita a esperança e robustece o amor.

A alegria não se pode ‘programar’. Programamos o divertimento mas não a alegria. Ela é ‘gerada’ de cada vez que fazemos escolhas bem discernidas, é gerada em vidas que se deixam trabalhar pelas ‘mãos do amor’, em olhares que não se deixam vencer pela indiferença, em corações que não se apegam ao ódio ou ao rancor…(só) compreendem bem este ‘mistério’ os pobres! Sim, só os que vivem com ‘um coração de pobre’ é que sabem ‘pressentir’ e ‘degustar’ este vibrar quotidiano das ‘cordas do coração’ tocadas pelo amor sempre (e)terno de Deus…

Os sinais da (Verdadeira) Alegria são bem claros: Abrem-se os olhos para ver a realidade com um coração novo; Desentorpecem-se as pernas para caminhar com determinação, sem lamentações do passado e sem medo do futuro; Rompe-se a surdez e abrem-se os ouvidos para que não sejamos indiferentes ao grito dos pobres que clamam por dignidade, justiça, amor; Somos curados das ‘lepras’ para nos lembrar que o nosso corpo é a ‘carne de Cristo’, casa da graça e dos afectos, e tudo isto é ‘boa nova’, anuncio aos pobres, porque a alegria que nasce da fé nunca é auto-referencial, é sempre ‘eucarística’ e com-partilhada (cf. Mt 11, 2-11). É que a alegria não é um evento, nem uma data na agenda, ela é um Encontro, quotidiano, com rostos e com história, com memória e cheia de futuro, tecida com a ternura de uma carícia e celebrada com o júbilo de um (re)nascimento.

Falei no início que ia (d)escrever-te um segredo, ora aqui vai: A alegria é um ‘segredo’ que trazes dentro, e que se multiplica e valoriza de cada vez que Lhe dizes: «seja FESTA a Vossa vontade!» (Don Tonino Bello). Por estranho que te pareça, a alegria, para ser verdadeira, nasce sempre do silêncio e passa sempre pela cruz. Não existe sem ela, e vive sempre abraçada a ela! É por isso, que a alegria de que te falo (e que te habita) é uma ‘alegria Pascal’, atravessa os ‘vales da morte’ levando nos lábios a Palavra da Vida; Porque só sabe servir, faz suas as ‘chagas’ do irmão; Porque é (e)ternamente peregrina aceita entrar em todas as casas, mesmo que seja já o ‘entardecer’; E, como é filha do silêncio e irmã da pobreza, é sempre ‘pão repartido’ com os indigentes de amor; É recomeço para quem se descobre pecador!

Não há, portanto, alegria maior, do que a de sabermos «que a vinda do Senhor está próxima», tão próxima…que Ele está já no meio de nós! Consegues vê-Lo?...BOA SEMANA!
 

domingo, dezembro 01, 2013

Entrar na ‘dança’ do Encontro…- I Domingo Advento




Gosto de olhar a vida como uma ‘dança’, cheia de movimento, de ritmos mas também de silêncio, daquele silêncio atento ao detalhe, onde a elegância se desenha com a simplicidade da ternura.



A dança exige sempre a sensibilidade, isto é, um coração capaz de escutar, capaz de se deixar abraçar e envolver até ao mais profundo para ‘ressuscitar’, a partir de dentro, aquele ‘primeiro instante’ da criação. A dança move e comove. Faz ver o belo e semeia o infinito. Desperta o sonho e enraíza a esperança…e é na Esperança que se faz a ‘gestação’ do Encontro, com o Outro, com os outros. É também de Encontro, de Caminho, de Movimento (= dança) que nos falam as leituras com que ‘abrimos a porta’ deste Advento 2013.



Vigiar, estar atento, perscrutar nos outros, no tempo e na história, o ‘perfume’ e a presença de Deus, aprender a mergulhar no quotidiano, a plenos pulmões, para converter as ‘espadas da indiferença’ em corações fecundos, as ‘lanças do ódio’ em sementes de paz, as ‘guerras’ (dentro e fora de nós) em gestos de fraternidade, de comunhão, de compaixão (1ª Leitura).



É preciso que a (nossa) noite, já pintada de luz pela filigrana das estrelas, possa ‘dar à luz’ um novo dia, tecido de esperança e de encontro(s). Um dia, uma vida, beijada pelo futuro e capaz de ‘germinar’ no quotidiano, tantas vezes rotineiro, aquela ‘vontade firme’ de fazer de cada encontro um milagre de vida, de escuta, de atenção, de…



Recorda-nos o Papa Francisco, na exortação publicada esta semana, que “o Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com o seu sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado”(EG 88) e chama a este ‘encontro’ a “reconciliação com a carne dos outros”.



Sim, precisamos de nos ‘deixar tocar’ sem medo de nos deixarmos ‘ferir’. Sim, precisamos de amar sem medo de ‘sujar as mãos’. Sim, precisamos de mudar sem medo ‘do que virá’…porque o futuro não é amanhã, é hoje! É preciso gerar o encontro e não dar ‘encontrões’, é preciso escutar sem ‘devorar’ as palavras, é preciso ‘dar Cristo’ a quem tem fome de vida…e é preciso dar pão a quem não tem de comer! Assim como o amor não se improvisa, assim também o Encontro não pode ser uma ‘abstração’, uma ‘ideia piedosa’. Para gerar o Encontro é preciso ‘estar’ e ‘ser’, é preciso dar…e dar-se!



Se o advento é convite à ‘vigilância’ (= redobrar a ‘atenção do coração’), ele é, na sua raiz mais profunda, um convite ao (re)encontro. É desafio a ‘revestir-se do Senhor Jesus Cristo’ (2ª leitura) para ‘assimilar’ os seus sentimentos, imitar o seu agir e, viver com o Pai e o Espírito, um amor que se faz ‘dança (e)terna’, celebração, encontro que converte a vida e transforma o coração.



F. Nietzsche escreveu um dia que «só acreditaria num Deus que soubesse dançar», o que ele não sabia é que Deus dança mesmo! E Deus dança em nós, e connosco, quando a nossa ousadia não teme pedir-Lhe:



“Senhor, ensina-nos o lugar que, no eterno romance iniciado entre Ti e nós, ocupa o baile especial da nossa existência. Revela-nos a grande orquestra dos teus desígnios, na qual Tu semeias notas estranhas, na serenidade do que Tu queres. Ensina-nos a vestir todos os dias a nossa condição humana como um vestido de baile que nos fará amar por Ti todos os seus pormenores, como jóias que não podem faltar. Faz-nos viver a nossa vida, não como um jogo de xadrez, em que todos os movimentos são calculados, não como uma partida em que tudo é difícil, não como um teorema que nos faz quebrar a cabeça, mas como uma festa sem fim em que se renove o encontro contigo. Como um baile, como uma dança, entre os braços da tua graça, na música universal do amor” (Madeleine Delbrêl).





DESAFIO:

Um Advento cheio de ‘presenças’! Em cada dia da semana escolher uma pessoa por quem rezar, a quem ligar/visitar, etc...BOA SEMANA! ;)