sexta-feira, dezembro 25, 2009

vale a pena pensar Nisto...


"Acordai: diz-nos o Evangelho. Vinde para fora, a fim de entrar na grande verdade comum, na comunhão do único Deus. Acordar significa, portanto, desenvolver a sensibilidade para com Deus, para com os sinais silenciosos pelos quais Ele quer guiar-nos, para com os múltiplos indícios da sua presença. Há pessoas que se dizem «religiosamente desprovidas de ouvido musical». A capacidade de perceber Deus parece quase uma qualidade que é recusada a alguns. E, realmente, a nossa maneira de pensar e agir, a mentalidade do mundo actual, a gama das nossas diversas experiências parecem talhadas para reduzir a nossa sensibilidade a Deus, para nos tornar «desprovidos de ouvido musical» a respeito d’Ele. E todavia em cada alma está presente de maneira velada ou patente a expectativa de Deus, a capacidade de O encontrar. A fim de obter esta vigilância, este despertar para o essencial, queremos rezar, por nós mesmos e pelos outros, por quantos parecem ser «desprovidos deste ouvido musical» e contudo neles está vivo o desejo de que Deus Se manifeste.(...)
A maioria dos homens não considera prioritárias as coisas de Deus. Estas não nos premem de forma imediata. E assim nós, na grande maioria, estamos prontos a adiá-las. Antes de tudo faz-se aquilo que se apresenta como urgente aqui e agora. No elenco das prioridades, Deus encontra-Se frequentemente quase no último lugar. Isto – pensa-se – poder-se-á realizar sempre. O Evangelho diz-nos: Deus tem a máxima prioridade. Se alguma coisa na nossa vida merece a nossa pressa sem demora, isso só pode ser a causa de Deus.(...)
Deus é importante, a realidade absolutamente mais importante da nossa vida. É precisamente esta prioridade que nos ensinam os pastores. Deles queremos aprender a não deixar-nos esmagar por todas as coisas urgentes da vida de cada dia. Deles queremos aprender a liberdade interior de colocar em segundo plano outras ocupações – por mais importantes que sejam – a fim de nos encaminharmos para Deus, a fim de O deixarmos entrar na nossa vida e no nosso tempo. O tempo empregue para Deus e, a partir d’Ele, para o próximo nunca é tempo perdido. É o tempo em que vivemos de verdade, em que vivemos o ser próprio de pessoas humanas. (...)
Pois bem, hoje também existem almas simples e humildes que habitam muito perto do Senhor. São, por assim dizer, os seus vizinhos e podem facilmente ir ter com Ele. Mas a maior parte de nós, homens modernos, vive longe de Jesus Cristo, d’Aquele que Se fez homem, de Deus que veio para o nosso meio. Vivemos em filosofias, em negócios e ocupações que nos enchem totalmente e a partir dos quais o caminho para a manjedoura é muito longo. De variados modos e repetidamente, Deus tem de nos impelir e dar uma mão para podermos sair da enrodilhada dos nossos pensamentos e ocupações e encontrar o caminho para Ele. Mas há um caminho para todos. Para todos, o Senhor estabelece sinais adequados a cada um. Chama-nos a todos, para que nos seja possível também dizer: Levantemo-nos, «atravessemos», vamos a Belém, até junto d’Aquele Deus que veio ao nosso encontro. Sim, Deus encaminhou-Se para nós. Sozinhos, não poderíamos chegar até Ele. O caminho supera as nossas forças. Mas Deus desceu. Vem ao nosso encontro. Percorreu a parte mais longa do caminho. Agora pede-nos: Vinde e vede quanto vos amo. Vinde e vede que Eu estou aqui. Transeamus usque Bethleem: diz a Bíblia latina. Atravessemos para o outro lado! Ultrapassemo-nos a nós mesmos! Façamo-nos viandantes rumo a Deus dos mais variados modos: sentindo-nos interiormente a caminho para Ele; mas também em caminhos muito concretos, como na Liturgia da Igreja, no serviço do próximo onde Cristo me espera.(...)
Senhor Jesus Cristo, Vós que nascestes em Belém, vinde a nós! Entrai em mim, na minha alma. Transformai-me. Renovai-me. Fazei que eu e todos nós, de pedra e madeira que somos, nos tornemos pessoas vivas, nas quais se torna presente o vosso amor e o mundo é transformado".

(Papa BENTO XVI, Homilia Noite Natal, 24 Dezembro 2009)

Ele está...


Rompei em brados de alegria,
exultai ó puros de coração,

abram-se os olhos dos que cegaram no tempo

por entre escolhos de esperança desvanecida,

encham-se de ternura os corações pois Aquele que é,
que era e que vem
está no meio de nós.

cessem os gemidos dos sem rumo
,
para os sem-abrigo chegou a casa,
no desnorte dos viandantes Ele faz-se caminho,
por entre as mentiras do mundo
chega Aquele que é a Verdade.

Rompei
aleluias por entre os carreiros,
cantai glória a Deus, ó rudes e humilhados,
soe a vossa voz como trombetas por entre os montes,

Ele está no meio de nós
.

e vós todos os marginalizados,
vinde a Belém, vinde à porfia,
mesmo sem ritmo ou sem história para contar,

pois Ele quer fazer história convosco,
não apenas um somar de dias,

mas um hino permanente de amor
onde salvação e beleza,
ternura e compaixão
se hão-de entrelaçar para rasgar horizontes

é Ele, Aquele que é sempre Novo
que chega uma vez mais
e tu,
mesmo que duvides,
mesmo com medo,
mesmo em pecado,
vem...
...pois é em Ti que Ele
quer montar para sempre a Sua tenda.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Mensagem natalícia do Bispo de Coimbra

O Rosto da Esperança
Natal é tempo de esperança.
As crianças esperam presentes. Os adultos esperam saúde, contam com um bom encontro de família, aguardam um telefonema dos amigos, fazem votos para que “no próximo ano cá estejamos todos”. Enfim, crianças ou adultos, todos esperamos alegria.Esperança não é optimismo infundado de alguém que diz “pode ser que tenhamos sorte”. A verdadeira esperança apoia-se em razões: a fidelidade de quem prometeu, o amor que nos liga àquele de quem se espera.Para os cristãos, a esperança fundamenta-se no amor que Deus nos tem, sobretudo aos que sofrem. O Natal é tempo de esperança porque celebramos um acontecimento em que Deus cumpriu o que tinha prometido. E ultrapassou a promessa: Prometera um Messias salvador e veio Ele próprio, no mistério de um Filho divino em condição humana.Disse-nos que não esperássemos dele sorte ou facilidades, mas sim o seu grande amor por nós e o remédio para a principal raiz dos males: o nosso egoísmo, o mau proceder, o apego ilusório ao que é passageiro...Para isso Ele nos prometeu ensinamento, ajudas e acompanhamento... Mas, onde estão essas ajudas? Essa salvação do Deus feito Menino? Passado o Natal, não ficará tudo na mesma?A esperança de quem tem fé é esperar na noite. Ouve-se a voz de quem grita “Estou aqui! Sou Deus! Conta comigo!”Quem está no escuro quer ver o rosto de Quem promete... Ora esse rosto é cada um de nós, quando, tocados por Ele, fazemos como Ele: amamos, vamos ao encontro, estamos presentes!Por isso o Natal é um convite a sermos o rosto do amor, os pés de Deus que vai, as mãos de Deus que faz.. Que cada um de nós realize gestos que respondam à esperança de quem precisa uma ajuda generosa a quem necessita, uma mensagem personalizada a quem nos esqueceu, uma presença sincera junto de quem vive só... e eis que ele descobrirá em nós o rosto da quem esperava, o sorriso do Menino do Presépio!E eis que nós, que respondemos à esperança do irmão, sentimos no coração a inesperada alegria de a ter dado aos outros!A recebê-la e a difundi-la, que todos experimentemos a esperançosa alegria do Natal.
+ Albino Cleto

domingo, novembro 29, 2009

Deus "vem"…

No Advento a liturgia repete-nos com frequência e garante-nos, quase que a vencer a nossa natural desconfiança, que Deus "vem":


vem para estar connosco, em qualquer situação; vem para habitar no meio de nós, para viver connosco e em nós; vem preencher as distâncias que nos dividem e nos separam; vem para nos reconciliar com Ele e entre nós. Vem à história da humanidade, bater à porta de cada homem e mulher de boa vontade, para dar aos indivíduos, às famílias e aos povos o dom da fraternidade, da concórdia e da paz.


Por isso, o Advento é por excelência o tempo da esperança, no qual os crentes em Cristo são convidados a permanecer em expectativa vigilante e laboriosa, alimentada pela oração e pelo compromisso efectivo do amor. Que o aproximar-se do Natal de Cristo encha os corações de todos os cristãos de alegria, de serenidade e de paz!
Para viver de maneira mais autêntica e frutuosa este período de Advento, a liturgia exorta-nos a olhar para Maria Santíssima, e a encaminharmo-nos idealmente com ela para a Gruta de Belém. Quando Deus bateu à porta da sua jovem vida, ela recebeu-o com fé e com amor. Daqui a alguns dias contemplá-la-emos no mistério luminoso da sua Imaculada Conceição. Deixemo-nos atrair pela sua beleza, reflexo da glória divina, para que "o Deus que há-de vir" encontre em todos um coração bondoso e aberto, que Ele possa encher com os seus dons.
(BENTO XVI, 3 de Dezembro de 2006)

terça-feira, novembro 17, 2009

Zaqueu...

Procuro-Te por entre uma multidão
que caminha e se atropela
entre ciclos de vaidade e confusão

procuro-Te e não Te Vejo,
onde estás?

e assim, por entre uma amálgama de gente,
busco o Teu rosto, sem Te ver
procuro o Teu olhar, sem o merecer
desejo o Teu amor, para me não perder...

e num gesto derradeiro,
em sobressalto,
um velho sicómoro
é lugar caricato para me encarrapitar
ao menos para ter o gosto de Te ver passar...

nesta demanda de um velho peregrino
que quer caminhar,
mesmo sem entender o caminho,
ali estou,
mais perto do céu, nas alturas,
…e nunca me senti tão pequeno.

Sou eu,
Eu sei que Tu o sabes,
Me conheces e sondas,
E no cruzar de olhares,
Desmoronas a pequenez do meu querer,
E do crer de tantos dias rotineiros.

Quero ficar em ti, na tua casa,
Hoje!
A minha alma estremece e vibra,
atónita talvez,
No desconcerto de ter o Tudo em mim,
Comigo, no meu lar,
E mesmo sem falar digo que sim!

O meu coração pequeno,
Tantas vezes pródigo de Deus e de mim,
Teima em não se calar:
“a medida de Deus é amar”
E como címbalo sonoro
Rompe a mudez da vida,
Triste e aborrecida,
E num dar-me sem medida
Convida-me a partilhar.


Na multiplicação por quatro
Vão as fronteiras quebradas
dum orgulho “em-mim-mesmado”
que se abriu à novidade
da eterna claridade
de um Deus em mim “acampado”.

e na alegria do encontro
com o Fiel peregrino,
nesta casa de Zaqueu,
quem desceu daquele sicómoro,
atónito e transformado,
já percebi…que fui eu!

sexta-feira, novembro 13, 2009

Descalça-Te...

Fica a partilha de um pequeno texto-oração que escrevi há dias iluminado pela meditação feita a partir do Livro do Êxodo Capítulos 3 e 4

Descalça as sandálias…
Toca o chão de Deus,
Deixa que o teu coração palpite
e se desassossegue.

Descalça as sandálias…
Toca o chão dos homens,
deixa que teus pés se firam,
que as suas misérias não colham em ti
o fruto da indiferença,
que os seus anseios não tenham em ti
simplesmente o retorno de um eco vazio e estéril.

Descalça as sandálias…
bebe em cada passo
o amargo cálice da paixão do mundo
contempla cada rosto
vês neles o futuro?

Descalça as sandálias…
Serás profeta,
guia e pastor
do pequeno rebanho.

Descalça as sandálias…
Para rasgares horizontes de eternidade
a cada passo dado,
a cada abraço partilhado,
a cada fardo aliviado.

Descalça as sandálias…
pisas o chão de Deus.
Prostra-te,
Adora-O,
Ele está aqui
Neste fogo eterno
Que aquece sem consumir…
Escutas a sua voz?...

sexta-feira, outubro 23, 2009

Uma Revolução...de Amor!

Coloco aqui um texto do Cardeal Van Thuan, que hoje, particularmente hoje, me faz rezar e saborear ainda mais o mistério deste "Deus Excesso de Amor". que te ajude também a ti, que passas por esta porta do Coração de Deus, a rezar e a agradecer o dom da Eucaristia.

relata o cardeal Van Thuan num dos seus escritos:

“Pôde celebrar a missa na prisão?”, é uma pergunta que frequentemente me fazem.(…) e quando respondo “sim”, surge de imediato a pergunta seguinte: “Como pôde encontrar o pão e o vinho?”. Quando fui preso, tive de viajar de imediato, de mãos vazias. No dia seguinte, foi-me permitido escrever para arranjar as coisas necessárias: roupa, dentífrico…escrevi então ao meu destinatário: “por favor, mande-me um pouco de vinho, como remédio contra o mal de estômago”. Os fiéis compreenderam o que significava: mandaram-me uma pequena garrafa de vinho de missa, com o rótulo “remédio contra o mal de estômago”, e hóstias escondidas num frasco contra a humidade. (…) Nunca poderei exprimir a minha grande alegria: todos os dias, com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da mão, celebro a minha missa. Às 21h30, hora em que era preciso apagar as luzes e todos deviam dormir, inclino-me sobre a cama para celebrar a missa, de cor, e distribuo a comunhão passando a mão debaixo da rede mosquiteira. (…) lembro-me de ter escrito: “tu acreditas numa única força: a Eucaristia, o Corpo e o Sangue do Senhor, que te dará a vida”(…) ofereço a missa, unido ao Senhor: quando distribuo a comunhão, entrego-me juntamente ao Senhor para fazer de mim alimento para todos. Isso significa que estou totalmente ao serviço dos outros. Todas as vezes que ofereço a missa, tenho a oportunidade de estender as mãos e de me pregar na cruz com Jesus, de beber com Ele o cálice amargo. Todos os dias, lendo e ouvindo as palavras da consagração, confirmo com todo o coração e com toda a alma um novo pacto, um pacto eterno entre mim e Jesus, mediante o seu Sangue misturado ao meu.
Jesus na cruz iniciou uma revolução. A vossa revolução deve começar na mesa eucarística e, a partir daí, ser levada adiante. Deste modo, vós podereis renovar a humanidade.
(cf. Francisco Xavier Van Thuan, Cinco Pães e dois peixes, pp. 42-45)

quinta-feira, outubro 22, 2009

Rir...

hoje apetece-me rir...
rir de mim
rir com os outros,
simplesmente rir.


e entre tragos de riso...
saber sempre que Deus nos criou para a alegria!

Bendito seja Ele.

domingo, outubro 18, 2009

Dia Mundial das Missões

"é como Pobres que nos dirigimos a Deus nesta noite...Desafio-vos irmãos para a missão que há-de começar na porta ao lado da vossa...visitai os vossos vizinhos, falai-lhes de Cristo...com eles evangelizai a vossa rua...depois o vosso bairro...evangelizemos a nossa amada diocese...e partamos pelo mundo se Deus a isso nos chamar"
(D. Albino Cleto, Vigilia Missionária, Sé Nova - Coimbra 17 Outubro)

sexta-feira, outubro 16, 2009

Ir às fronteiras de mim...

sem perder a Graça mas sempre pronto para a oferecer.
sem medo de me ferir e sempre disponível para curar.

sem medo de fazer e sempre pronto para aprender.

livre de tudo e por am@r preso a todos.

quinta-feira, setembro 17, 2009

De regresso...

Com muito que contar, com o coração cheio de Deus e de alegria, aqui estou, regressado da missão no nordeste do Brasil...
porque trago o mundo dentro de mim, partilharei por estes dias algumas das surpresas do coração de Deus nos trilhos percorridos na cidade chapadinha, entretanto fica uma foto para os mais curiosos...

...porque o mais belo do mundo, já dizia o poeta, são as crianças.

sexta-feira, junho 19, 2009

ANO SACERDOTAL (1)


Também eu encontrei o coração

do meu Senhor e Rei,

do meu irmão e amigo.

Portanto, como poderia não rezar?

Sim, rezarei, porque, com firmeza o digo,

o Seu coração pertence-me. [...]

(palavras atribuídas a S. Boaventura)

sexta-feira, junho 05, 2009

A Desilusão Relacional...

A vida é feita de surpresas.
Algumas verdadeiramente supreendentes (dom de Deus) outras naturalmente desconcertantes.

A Relação inter-pessoal é profundamente exigente, obriga-me a conhecer o outro não de forma interesseira mas numa atitude interessada. Desafia-me a perceber quem ele é, quais as suas expectativas e anseios mais profundos, os seus medos e as suas alegrias,...enfim, é desafio permanente a ser com o outro numa atitude responsável, delicada e dedicada. implica uma escuta atenta e demorada, mais do que uma relação do tipo "Jornal da Noite TVI" (ao jeito de Manuela Moura Guedes)...

Estranha-me por isso que continuemos (até no seio da Igreja) a não entender que "só quem se deixou ferir pelas dores do outro, pelos seus anseios, por tudo o que ele é e está a ser" é que tocou verdadeiramente o humano. só quem foi capaz de colher as lágrimas copiosas de um qualquer pranto, só quem foi capaz de intuir nos olhos tristes a dor que vai dentro, ou numa simples palavra o desassossego de "quem quer partir e já não pode ficar" é que verdadeiramente tocou o humano e o Divino. Foi assim o nosso Cristo! Talvez por isso custe ainda a muitos aceitá-lo assim, despido de todas as armas, desarmado de todo o poder, servindo, apenas e só, a compaixão do Pai.

Por estes dias tive a oportunidade de reflectir e rezar tudo isto a partir da experiência daquilo a que chamo "desilusão relacional"...Felizmente que a Igreja não se pode confundir com a pessoa X ou Y, mas uma realidade é certa...quanto mais desiludidos mais distantes, e quanto mais distantes mais determinados a partir...é assim o ciclo da "desilusão relacional", quando o Papa Paulo VI falava que a Igreja era "perita em humanidade" tinha toda a razão...pena é que quem governa, entre desnortes e confusões, entre indecisões permanentes e ritmos atabalhoados, sem rumo e sem projecto, numa esquizofrenia pastoral do tipo bombeirista (olhando para o imediato sem perscrutar o futuro!), se canse com coisa nenhuma e esqueça o fundamental...mantendo supostamente uma "lucidez que resolve tudo" com uma banalidade tal...que questiona qualquer cristão mais atento e comprometido. Como não há-de questionar-se um padre?...

quarta-feira, maio 20, 2009

o Pastor frágil...

Tornamo-nos companheiros de Cristo
desde que mantenhamos firme até ao fim a confiança inicial (carta aos Hebreus 3, 14)


há dias em que a Palavra nos desafia e convoca, com uma tal intensidade que polariza o que de melhor há em nós e escancara todas as portas fechadas, todas as resistências renovadas, todas as teimosias enraizadas. Foi assim hoje no meu encontro matinal com a Palavra.

Como preparação próxima para o ano Sacerdotal que aí vem decidi-me desde ontem a começar uma lectio divina que durante este mês me dispusesse a entrar de consciência mais alegre e ainda mais renovada, sobre o grande dom e mistério, que Deus me fez de me chamar a servir a Sua Igreja e o Baptismo dos meus irmãos no ministério ordenado.

O próprio Deus fez questão então de me brindar com este pedaço que transcrevi acima.

Como Companheiro de Cristo o Padre é companheiro de todos os baptizados, é o que re-parte o Pão e a Palavra, o Perdão e a Consolação, mas essencialmente é o que re-parte a Vida e-terna que constantemente lhe é oferecida e comunicada pelo próprio Deus...

Dei por mim a meditar nestas e noutras realidades e percebo-me também como um companheiro frágil para quem às vezes a confiança em Deus nem sempre é total. Por teimosia é sempre mais fácil achar que "Tudo é claro" e que "só eu sei".

A Confiança leva-me a recentrar as coisas e a dizer: "com a Luz de Deus tudo é mais claro" e "Deus é que sabe!"...

Foi muito bom rezar esta manhã também a necessidade de perdão constante que, como companheiro frágil, eu próprio vou sentindo e celebrando sacramentalmente com regularidade...aliás estou profundamente convencido pela fé que o padre não é mais do que um Pastor frágil que como Jesus ama os seus até ao fim e por eles dá a vida, para que a tenham em abundância. é sobre isto que rezarei por estes dias...

Que o Ano sacerdotal que aí vem nos dê a todos (a mim, desde logo) a consciência da nossa fragilidade para que re-descubramos que só Deus é a nossa força e por isso: Tornamo-nos companheiros de Cristo desde que mantenhamos firme até ao fim a confiança inicial.

Senhor Jesus,
eterno companheiro de Viagem,
peregrino e hóspede neste pastor frágil que sou,
consciente do que sou e do que me chamas a ser,
venho a Ti,
rogar a misericórdia,
Como pródigo que regressa a casa,
Como viandante transviado
que te resdescobre como Caminho,
Como ovelha tresmalhada
que quer encontrar repouso e conforto nos teus ombros,
como o amigo morto
que por Ti quer receber a vida
e saborear a ressurreição.
venho a Ti, Pastor Belo,
como irmão e companheiro,
beber na fonte da ternura e da graça,
que é o teu coração rasgado,
a força para a minha fraqueza,
o perdão para o meu pecado,
a ousadia para minha tibieza,
a santidade para uma vida nova, Ressuscitada...e Ressuscitadora.
Jesus, Filho de Deus vivo,
tem misericórdia de mim.

segunda-feira, maio 18, 2009

JPII - o Servo de Deus


Se fosse vivo completaria hoje mais um aniversário. Teve nos jovens sempre uma paixão e uma esperança próprias de quem se deixa guiar sempre, e sem hesitações, pela mão bondosa e terna de Deus. Um Homem, um Cristão, um Padre, um Bispo e um Papa que me marcou profundamente...muito do que sou ,e dos desafios que vou sendo capaz de acolher, e que procuro com fé humilde, esperança alegre e amor dedicado e delicado realizar, devo-o ao testemunho bondoso, alegre, fiel e santo deste Homem-de-Deus e Homem-com-os-homens que foi João Paulo II. Paz à sua alma. Na gratidão da memória vai também a gratidão do cORAÇÃO.

domingo, maio 17, 2009

o Rei Cristo...

No Cristo de braços escancarados à cidade há um coração que palpita e é manancial de salvação, uma torrente de graça, ternura e amor.
Abeirar-se do coração de Jesus, porta escancarada pelo próprio Deus para que possamos entrar e demorar-nos na sua intimidade, é abeirar-se daquele Deus que é amor, daquele amor que jamais passará. Dum amor fiel, santo e humilde que sempre nos espera, renova, conver-te e faz amar.
Esperar no coração do Rei Cristo, significa perceber á luz do evangelho que o Mestre não nos chama a sermos os maiores...mas tão-somente nos desafia a sermos melhores...ousados porque em nós habita aquele Espírito que nos recorda tudo quanto Ele disse e fez e porque esse mesmo Espírito, qu enos faz clamar: "Abbá, Pai" vem em auxílio da nossa fraqueza.
é deste Rei, o Cristo, que nos abeiramos quando decidimos entrar no e pelo seu coração em Deus. o “Deus dos humildes, auxiliador dos oprimidos, sustentador dos fracos, protector dos abandonados, salvador dos desesperados” (Judite 9, 11).

quarta-feira, maio 13, 2009

Totus Tuus

Totus tuus ego sum
et omnia mea Tua sunt.
Accipio te in mea omnia.
Praebe mihi cor Tuum, Maria.

terça-feira, abril 28, 2009

"rosto e atitude maiores"...


"Cada noite é sempre um desafio a pré-sentir a luz...
...e há noites que são profundamente luminosas"


Este podia ser um bom começo para falar do nascer do sol,
de um dia radiante de luz ou simplesmente de uma noite estrelada.
Para mim é o mote que me leva a rezar (e a oferecer, pois Ele me fez instrumento) o dom do perdão.
Estou convencido que se cada homem ou mulher
por um instante (ainda que breve!) fosse capaz de parar
e de se deixar envolver (e "ferir") pelo perdão de Deus
seriam homens e mulheres com "rosto e atitude maiores"...
só o perdão converte e faz amar.
só o perdão tem o encanto, a sedução,
de mobilizar o que de melhor habita o coração do homem e da mulher
e de vencer os medos com a ousadia de quem se faz ao caminho...
...de quem se sabe sempre peregrino, desinstalado.
o perdão torna-nos "atrevidos"...rasga horizontes e quebra barreiras.
talvez a Igreja que somos seja "pouco atrevida"
e "às vezes de rosto e atitude menores"
porque nem sempre o perdão
está no início de cada passo ou atitude...
Porque...se o perdão está no inicio do que és ou fazes...
tudo à tua volta muda...porque tu mudas-te!

domingo, abril 12, 2009

Júbilo Pascal

Alegra-te
porque o amor
venceu todas as mortes!
rejubila e canta de Alegria
porque o Teu Senhor está vivo!
prostra-te em Adoração
diante do Teu Salvador
e acolhe em Ti o dom da Vida plena,
da Vida que ninguém pode calar,
da vida que só Ele é e pode dar.

grita pelos carreiros, vielas e atalhos,
grita nas encruzilhadas e caminhos
aos viandantes no tempo:
Ele está Vivo!

n'Ele, por Ele e com Ele
o Amor é mais forte do que a morte.
n'Ele, por Ele e com Ele
o Amor de Deus tem um Rosto.
n'Ele, por Ele e com Ele
és Testemunha, Discípulo e Apóstolo,
daquele amor que jamais passará...
pois Deus é Amor!

terça-feira, março 31, 2009

uma resposta total...

Se há sonhos que nos fazem ir mais além...outros há que nos fazem sair do aquém.
tem sido uma constante ultimamente...uma presença e um desafio.
Compreendo o que diz o salmista quando reza: "até de noite me falas interiormente"...Não posso mais calar...não posso deixar-me ficar na inércia de uma não resposta...O meu Deus desassossega-me e pede-me a ousadia de mais...mais longe...mais próximo...mais...e assim, na fronteira dos limites, sempre sedutora para o comodismo, atrevo-me a iniciar uma resposta total a meu todo (e tudo) que é Deus e como uma criança rezo-lhe no silêncio da noite:

aqui me tens todo,
Teu com os teus,
Teu com os que estão longe,
Teus com os famintos e com os saciados,
Teu com os doentes e estropiados,
Teu com os indolentes e os tristes,
Teu com os solitários e os ausentes,
Teu com miseráveis e os sem tecto,
Teu com os sem-Deus e os sem afecto,
Teu, inteiramente Teu...
pois sem Ti nada
contigo Tudo!

segunda-feira, março 30, 2009

Mendigo de Deus...

S. Agostinho diz: "todo o homem que reza é um mendigo de Deus"
Tenho reflectido nesta "mendicidade espiritual" ao longo desta quaresma...ela tem sido para mim um tempo especial de graça, daquela graça que desconcerta a inteligência e converte o coração.
Tenho lido a vida de todos os anos passados nesta óptica...e é engraçado que dou por mim a rever-me cada vez mais como um mendigo faminto do Pão da vida e da misericórdia.
Um mendigo que só é o que deve ser quando Deus tem a primazia e quando a liberdade é baptizada nas fontes da salvação.
há dias alguém me agradecia por ser para ele o testemunho de "quem confia em Deus de olhos vendados"...achei estranho e andei a rezar isso durante uns dias...e foi bom revisitar os alicerces da fé, da minha história de relação com Ele, de redescobrta do dom de Deus...foi bom sentir-me mendigo em todas as etapas. Não que isso me trouxesse aquela consolação de quem já é o que deve ser, mas porque me trouxe o desafio de ser em Deus o que Ele quiser que eu seja...e isso tem-me mudado interiormente...sinto-me profundamente feliz...e determinado a seguir o que Ele me tem andado a pedir há muito tempo.

terça-feira, março 24, 2009

...Gratidão!

Ontem meditava com a minha rapaziada que é Deus quem faz a festa!
vou sentindo cada vez mais isso,
em todos os passos que tenho dado eles têm sido sempre marcados por um especial tempo de sofrimento que purifica intenções e me abre ao dom pascal de Deus...é por isso que é sempre Ele quem (é e) faz a festa!

Um agradecimento muito terno a todos aqueles e aquelas que ontem se fizeram especialmente próximos na celebração do dom da Vida.

Agradeço sobretudo aos cá de Casa e à minha familia espiritual do JP2!

domingo, março 22, 2009

o Perdão na noite...

há pessoas que nos renovam,
só pelo que são e pelo que sorriem,
pelo silêncio de uma cumplicidade
nesta entrega total, sem reservas, a Deus...
Hoje foi um desses dias
sentei-me para oferecer o perdão
e eis que Te abeiras-te de mim
para me dizer:
"eis-me aqui...não sei bem o caminho...sei que é com ELE!"
numa noite em que o cansaço teimava em ser maior
foste força e ternura nos rostos maiores que me enviaste
obrigado meu Deus.
Obrigado a Ti!

quinta-feira, março 19, 2009

saber/sabor por dentro...

A Alguém que se deixa desafiar para fazer caminho

"caminho sem saber:
quem sou?
a quem me dou?
onde estou?..."

grito comum este dos "sem-esperança"
para quem a vida se fita com um olhar triste,
a quem os dias não são mais do que o eterno penar,
para quem os gestos são uma paleta de mil cores da mesma cor.
e assim se abafa a esperança do sempre novo,
da eterna e insaciável ousadia de mudança,
da alegria que habita cada gesto simples,
forte, amigo, próximo...
é assim que num abraço terno e demorado te digo:
caminha como és,
sabendo que podes ser melhor.
dá-te mais, e sempre,
no silêncio de um coração acolhedor
pois estás aqui...bem perto de nós,
dos que te amam e te trazem no coração.
é assim que gostamos de Ti,
é assim que te acolhemos,
é assim que te desafiamos a fazer caminho...
...mesmo que demorado, será sempre um trilho de felicidade,
deixa que a Vida se enraize em ti
e "saboreia todas as coisas internamente"

segunda-feira, março 16, 2009

Ano Sacerdotal!

O Papa Bento XVI declarou um “ano sacerdotal” especial, de 19 de Junho 2009 a 19 de Junho de 2010, que terá como tema:

"Fidelidade de Cristo,
fidelidade do sacerdote".
A iniciativa ocorre nos 150 anos da morte do Santo Cura d’Ars, João Maria Vianney, “verdadeiro exemplo de Pastor ao serviço do rebanho de Cristo”.

Bento XVI encerrará esta iniciativa a 19 de Junho de 2010, participando num "Encontro Mundial Sacerdotal", na Praça S. Pedro, do Vaticano.
Ainda de acordo com o comunicado, durante este ano jubilar, Bento XVI proclamará São João Maria Vianney como "Padroeiro de todos os sacerdotes do mundo".


Rezemos pelos nossos padres, "Pastores frágeis do evangelho da Alegria", e trabalhemos para que a ninguém falte o pão da Eucaristia e o perdão dos pecados!

sexta-feira, março 13, 2009

Porque é que Tu és assim?...

Prostro-me diante de Ti,
não com o medo de outras horas,
há muito idas e desparecidas...,
mas com a confiança inabalável de irmão e de discípulo.
Só deste jeito Te sei rezar,
com a confiança de uma criança
que se enternece diante da cruz e pergunta:

"estás aí? eu já cheguei"

e Tu, ó insurrecto do Amor,
Tu, desfigurado e de aspecto pouco atraente,
fazes-Te uma vez mais sedutor do coração,
desconcertas-me a inteligência,
e aí, suspenso no madeiro,
fascinas-me,
desafias-me,
Tu, o mais belo dos filhos dos homens...

contagias-me com esse amor-loucura
de dar de graça a Graça,
de dar a outra face
e abençoar os inimigos,
de Te fazeres servo de todos,
para que, ao menos, a partir de baixo
todos entendam que nos queres lá em cima.

e uma vez mais, paradoxalmente,
aqui estou eu,
prostrado, e como as crianças,
a rezar-Te perguntando-Te:
"porque é que Tu és assim?"

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Já chegou!...

cá por casa vai ser assim:
um desafio a Redescobrir “o Deus dos humildes, auxiliador dos oprimidos, sustentador dos fracos, protector dos abandonados, salvador dos desesperados” (Judite 9, 11).
em tempo de tanta crise vamos procurar vencer a banalidade com a profundidade, o comodismo com um empenho ousado de ser melhor, de crescer por dentro, de fidelizar a nossa intimidade com o Mestre, para com Ele sermos radicais (= ir sem medo à raiz das coisas!) na gratuidade e no acolhimento fraterno e sincero dos irmãos.
um tempo em que o silêncio das palavras nos ajudará a todos a sermos mais ouvintes da Palavra.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

imagina que...

hoje, apenas hoje,
todos retirávamos as máscaras de que tantas vezes nos servimos, ou não nos dispensamos,
...por um instante todos saberiam quem somos de verdade
e o mundo seria esta casa onde cada um é o que é,
sem medidas curtas ou máscaras largas...
todos sairíamos a ganhar:
eu, tu, nós sem máscaras
e o mundo ganharia em verdade,
venceria a crise (de identidade e rumo) em que todos estamos mergulhados.

bom carnaval

domingo, fevereiro 22, 2009

entra p'lo telhado...

há portas que não se abrem,
caminhos impossíveis de andar...
e tantos que cristalizados no "sempre assim foi"
não ousam entrar, nem deixar entrar
são assim os paralíticos, os tolhidos pelo medo do futuro...

A palavra neste Domingo, provocadora de mudança (como sempre!)
é um apelo a acolher a novidade de Deus,
a perceber que a novidade que Ele tem para oferecer
é o perdão infinito, desmedido, "excesso de amor"
e se não o podes receber à porta...
entra pelo telhado,
com a ousadia dos simples
e a força dos fortes.
BOM DOMINGO!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

“Olhaste-me e leste-me a alma”...

Aos olhos (postumamente) tristes de uma amiga - Homenagem (também) póstuma!

“Olhaste-me e leste-me a alma”
Dir-me-ás, certamente,

Mas,

Estremeci ao fitar-te triste (?), cansada(?), sei lá…
Talvez a dureza indizível de um qualquer combate interior,
Talvez o deserto te habite por um instante,
E como tantos outros e outras
Sintas o medo de uma aridez que parece florir do nada
E nada fazer florir…
Talvez te saibas proximamente longe
Dess’outra terra longínqua que te anseia e espera,
Que geme por amor o teu sorriso
E que fará florir o teu afecto.
Talvez a inconstância do que sentes
Te faça temer o futuro,
Des-valorizar o presente
E resignadamente aceitar o passado
Como um mero facto consumado
Onde se cristalizaram a criatividade e a ousadia…
Talvez, somente,
Me queiras dizer com os teus olhos tristes
Que já não queres mais sonhar
Ou inventar o amor
Que “a menina” que foste

adormeceu num sono eterno
donde já não quer mais acordar….

E viverás assim,
Anestesiada diante da vida
Pelo medo de olhar mais longe
Julgando que
o que os outros pensam ou sentem
pode tolher
O que realmente és e sonhas?

Não!

Essa não és Tu!
Não te convenças do que não és (nem nunca foste!)
Indolência e medo
Não rimam decididamente
Com o teu sorriso atrevido
De cumplicidade no sonhar
E no viver,
No amar e no chorar…
…Para Ele contas sempre
E ninguém ocupará o teu lugar.
Para Ele,
Para mim,
Para nós
És insubstituível!
És o sorriso forte
quando nos faltam as forças
És o porto de abrigo
no meio de tantas tempestades
És o rosto belo de Deus que nos diz:
“Estou aqui. Sou Eu. Não temas”



(e dou por mim a rezar-sussurrar aquele cântico de Taizé:
“Deus é amor, atreve-te a viver por amor. Deus é amor, nada há a temer”)

terça-feira, fevereiro 10, 2009

vem...e (re)faz-nos de novo!

No deserto me perdi...
e enchendo de nada os meus dias
fitava-te longe, longe,
como se fosses uma miragem.
cansado, exausto, ferido
prostrei-me inerte
e de rosto por terra
tocava cada grão de areia
que mais não eram do que
a vã certeza de um fim próximo...


ali me tomaste
e sarando-me as feridas,
com a ternura de Pai,
derramaste em meu peito
o óleo da consolação e da esperança.
Refizeste-me a alma,

Tu, Abbá,

e como oleiro paciente
do barro frágil que sou
moldaste um pequeno vaso
que pode agora conter as sementes da eternidade
e semear esperança
no coração
de todos os viandantes
desesperados, oprimidos,
cansados de não perceber em cada passo
o Teu ritmo, o Teu amor...

sim Tu, Abbá,
vem...e (re)faz-nos de novo!

domingo, fevereiro 01, 2009

não me pertenço se não Te pertencer...

Como leve pena
em que pegas
para escrever a eternidade no tempo
aqui me tens.
não tenho muito para Te dizer...
...talvez tenha apenas
para Te oferecer hoje o meu silêncio
e um coração que,
a pouco e pouco,
se vai deixando encher por Ti,
sem criar resistências maiores.
Às vezes como Adão,
também ouço os teus passos e escondo-me,
como Moisés,
custa-me a descalçar as sandálias e a pisar a terra que habitas,
como Jeremias,
sou jovem e não sei o que falar...
e quanto mais penso em calar-me,
mais me devoras interiormente
e me lanças
por trilhos e rumos
em que não sei como ir,
o que dizer, o que fazer, como estar...
Como Pedro,
quero ver primeiro e ir depois,
como o centurião
acho muitas vezes que a minha casa não te pode acolher,
como Nicodemos, na noite,
custa-me a perceber esse Teu "nascer de novo"...
sabes o que sou,
sabes como sou,
e não desistes!!!
No silêncio que aqui me traz
e em que me encontro,
no silêncio desta noite chuvosa em que me pedes
para ouvir a Tua voz e para me perceber como Profeta-enviado
aqui me tens
para dizer conTigo ao Pai:
"Faça-se a Tua vontade e não a minha...
sou Teu,
não me pertenço se não te pertencer,
não amarei se não Te deixar amar-me,
não me reconhecerei se longe de Ti estiver".

domingo, janeiro 25, 2009

A conversão está na moda...

A conversão continua a ser uma palavra muito pesada no diccionário e na gramática da vida da maioria dos cristãos...talvez porque, mais do que um desafio permanente da fé, da inteligência e do coração ela apareça apenas (e só) para muitos como um pesado fardo que Deus e a Igreja se encarregam de nos recordar a toda a hora.
Talvez por isso, este Ano Paulino que estamos a viver, seja então desafiador também neste capítulo. Dei hoje por mim a pensar e a rezar e reflecti sobre alguns aspectos, uma espécie de decálogo que aqui deixo:
1º Saulo...um zeloso insatisfeito, desejando sempre mais e mais longe... o homem que corre por fora mas que hesita em (per)correr por dentro...e por isso Deus sai-lhe ao caminho, no caminho de Damasco, parábola e provocação para todos os nossos caminhos.
2º porque Paulo, esse perseguidor inquieto, nos ensina que a conversão começa com uma viagem que nos leva a cruzar caminho...o nosso com o de Deus, o de Cristo, o do Espirito Santo.
3º no cruzar do camninho o desafio da humildade: reconhecer o que fomos e o que somos, quem somos diante deste Deus-Luz que nos desafia a desfazer as trevas interiores que nos cegam o coração e a intelig~encia e que não nos deixam ver o que Deus vê, como Ele, com as oportunidades que Ele dá, quer dar...
4º porque essa mesma humildade nos desafia e proporciona uma revisão da vida, não por parcelas isoladas, mas da vida toda, mesmo das páginas mais escuras, e aí nos deixa ver a luz bruxuleante de Deus nas muitas noites que criámos sempre que nos fechámos ao amor.
5º porque essa revisão de vida nos convoca e nos concentra mais objectivamente na certeza de que para nós mesmos não somos nós a salvação, mas ela é Alguém que estando fora e para além de nós nos habita profundamente...
6º é o começo da nossa colaboração com a Graça de Deus. Aqui Deus é protagonista mas não nos dispensa...desde o dia do nosso baptismo onde nos fez templo, casa permanente do Crucificado-Ressuscitado.
7º Da nossa colaboração com a Graça nasce em nós a certeza enraizada de que Deus é amor e que todos os pecadores têm futuro...e assim, o caminho que se nos apresenta agora como desafio não é mais um penar, mas torna-se, isso sim, e essencialmente, num "caminho de damasco" onde queremos deixar-nos derrubar de todas as nossas falsas seguranças, deixar-nos fortalecer nas nossas inseguranças, deixar-nos curar pela força dum amor que se faz misericórdia e que escancara a porta do futuro a todos os nossos trilhos sem saída...
8º Enraizado em nós o Amor, a Misericórdia, que outra coisa não é se não o Amor Pascal, então eu tomo a consciência de que sou discípulo, isto é, que com o Mestre eu preciso de re-aprender os caminhso da vida, daquela vida verdadeira e autêntica, dauela verdade que liberta e salva, daquele amor que converte e cura...e por isso é o tempo para fazer a experiência profunda da intimidade de Deus, de prescrutar os designios do Seu coração paterno...é o tempo do silêncio que preenche cada recanto do coração dos discípulo e que saradas as feridas o habilita para a missão que o próprio Deus rasgou diante do seu horizonte.
9º Como discípulo, formado permanentemente na escola do Mestre, e mudados os critérios da inteligência e do coração no modo de olhar para mim e para os outros, eu tomo consciência de que sou apóstolo, ou melhor, de que todo o discípulo é um apóstolo...e por isso quero o que Deus quer, onde Ele quer e como me quiser...é o tempo de re-iniciar viagem na estrada de Damasco que é a vida quotidiana.
10º Assim na estrada de Damasco que é a vida de todos os dias eu torno-me testemunha do Amor que jamais passará, da Vida que jamais acabará, da Esperança que nada nem ninguém nos podem tirar...e assim, do jugo pesado e do triste penar da conversão (que tantas vezes pensamos ser um exercicio masoquista para consolar o Deus sádico) eu próprio percebo que sem conversão não há caminho. sem conversão não há cristão...e sim, o caminho é exigente mas possível...porque Deus vai á frente! é por isso que a conversão está na moda, não passa de moda, é sempre moderna

uma primavera do Espírito...



Faz hoje 50 Anos que uma verdadeira prmavera do Espirito encheu de cor e de vida a Igreja...Neste dia o Bom Papa João XXIII convocava o Concilio Vaticano II...um tempo e um espaço para o diálogo. Uma Igreja que se reúne não para condenar mas para acolher, para dialogar...
Para alguns é hora de convocar um terceiro concilio para o vaticano de modo a re-aprofundar o que se reflectiu no Vat. II e de modo a reflectir outras realidades...estes desejam uma revolução a que apelidam de renovação!
quanto a mim, sou desta geração pós-concilio...e mais do que revoluções para a Igreja eu desejo para todos nós, os cristãos, conversão...assim estaremos a viver plenamente o Concilio Vaticano II, estaremos a renovar por dentro e a partir de dentro a nossa Igreja Una, Santa (e sempre precisada de perdão), Católica, Apostólica, Romana e Alegre...e assim se dará uma verdadeira revolução: a da profundidade e verdade de quem é de Cristo, em Cristo e com Ele!
Bendito Seja o Bom Papa João
que mais do que revolução percebeu que para renovar
era preciso conversão!

segunda-feira, janeiro 19, 2009

de coração rasgado...


Senhor meu Deus,
Rochedo da minha salvação,
meu amparo e libertador,
venho a Ti,
sou Teu filho e Tu és o meu Pai,
e na liberdade de um coração que se dá todo
aqui me tens para continuar contigo
a trilhar os rumos do infinito.


Dá-me Senhor um coração rasgado
capaz de amar sempre na gratuidade,
de servir-Te nos rostos mais frágeis,
de encher de luz as noites mais escuras
de todos aqueles e aquelas que
cansados, oprimidos,
esmagados pela falta de esperança
não são capazes de ver na noite
o brilho eterno das estrelas.


Dá-me Senhor
um coração rasgado e ferido de amor
para ser a consolação Paterna e Materna
para todos os orfãos que se abeiram da tua mesa,
um coração rasgado e ferido de amor
para que, dando-me sem medida,
todos possam,
nos seus tormentos e sofrimentos,
experimentar a paz que só Tu és
e só Tu podes dar,
a Alegria que ofereces e a Esperança que revigoras
rasgando a todos e a cada um horizontes novos
onde o finito e infinito se entrelaçam no mar do amor
e se transformam em plenitude, em eternidade...

sábado, janeiro 10, 2009

Bendita Crise!


Temos andado às voltas com a crise...

tudo está em crise...todos estamos em crise...

...e afinal o que está a acontecer não é mais do que termos acordado e começado a levantar o olhar e a percebermos de que somos mais do que as coisas que temos!


tudo isto, mais do que um mero exercicio masoquista, como alguns preconizam, há-de ser um belo testemunho daquilo que é a vida cristã, fazer do tempo e do espaço que habitamos um tempo para redescobrir quem amamos (e não o que amamos)...com verdade...o essencial! Bendita Crise! Bom Ano!