terça-feira, setembro 26, 2006

"PADRES NOSSOS"...

Partilho convosco um caminho conjunto que tenho percorrido com alguns Irmãos meus e que me tem ajudado muito a crescer na simplicidade, na alegria, na serenidade. é o grupo dos "Padres nossos".
Não, não é um grupo de beatas que se junta no adro da Igreja para cortar na casaca a quem sai da missa ou a quem nem sequer lá pôs os pés!
Falo de um grupo que existe desde 27 Março 2006 (acabou de nascer!) contudo, ontem foi dia de "baptismo"(Um nome confere sempre identidade!!!).
O nosso JPV, que como sempre é um poço de alegria, com a sua espontaneidade e naturalidade baptizou este grupo de "padres nossos". provavelmente podes perguntar-te: "mas o que é isso então? Alguma seita nova?". Nada disso!
Os "Padres nossos" não são mais do que um pequeno grupo de padres(mais concretamente 10) que mensalmente se reúnem para rezar, fazer revisão de vida e crescer no aprofundamento da sua identidade e missão como padres.
Num tempo em que a voragem do tempo nos arrasta para a superficialidade, para a aparência, para o caminhar sem metas, para a correria...é fundamental parar! parar para retemperar forças, parar para serenar e escutar, parar para perceber que "quem cresce sozinho não cresce, isola-se!".
Ontem foi dia de reflectirmos a nossa relação com a Palavra e com a Reconciliação.
Foi tempo para rezarmos e percebermos que não somos "papagaios" que debitam umas coisas para outros fazerem, devemos ser em primeiro aqueles que escutam a Palavra, que a meditam e a vivem...
Somos peregrinos e por isso também nós somos visistados pela tentação do desânimo, da superficialidade, do "profissionalismo"...daí a provocação de Deus e nos deixarmos envolver pela sua misericórdia, pela sua ternura, pelo seu afecto.
deixo aqui as palavras que escrevi enquanto rezava com eles e por eles:
"Ò Deus da minha fragilidade,
Deus Belo e Santo.
Quiseste reunir-nos neste dia em redor de Ti,
converte-nos ao Teu amor,
à Tua vida, à Tua santidade
e torna-nos transparência da Tua beleza e salvação.
Ò Deus da minha debilidade
Sê o nosso refúgio e a noss aforça
Sê para nós...
Sê em nós a alegria e a paz, a ternura e a beleza,
para que a nossa vida seja cada vez mais
um sinal resplandecente de que
Sem Ti nada podemos fazer. Ámen"

Deus sabe como!...


Estes últimos dias foram particularmente preenchidos, Ainda bem!
O fim de semana que passou foi para mim, uma vez mais, a certeza serena de que é Ele que vai conduzindo esta barca de fragilidade que sou eu. A "família" do SDPV esteve reunida no "bunkker" de Souselas. Depois de muitas vicissitudes este fim de semana acabou por ganhar uma configuração diferente daquela que estava prevista inicialmente e transformou-se no fim de semana "bora lá ao trabalho!".
Foi um tempo para rir, para trabalhar, sobretudo dialogar, partilhar a vida, os sonhos, o projecto comum...percebendo sempre que em tudo o que fizermos o protagonismo será sempre o d'Ele e cada um de nós será sempre instrumento.
A diferença e a diversidade de experiências enriqueceu-nos e enriqueceu-me! Não rezámos assim tanto como inicialmente previ, mas como diz o ditado: "Deus escreve direito..."
O Deus das surpresas, o Deus da minha pequenez, ali esteve a provocar-me para dar mais atenção, para acolher mais e melhor, para ser mais humilde e tolerante...da cozinha às diferentes salas de reunião, dos "recém-chegados" à equipa até aos "veteranos"...e assim a noite de sábado terminou já tarde (à 01h já é Domingo!!!). Diante dEle coloquei todos os meus medos, todos os nossos sonhos, o sofrimento de alguns que ali estavam...
Na manhã de domingo o encontro com os nossos irmãos que se reuniam em comunidade à volta do altar...uma vez mais é Ele qu eme surpreende:
uma velhinha, daquelas aparentemente chatas e que apenas nos vão "torrar a paciência", abeirou-se de mim, pequenina, com um rosto sulcado pelas rugas (sinais do tempo que passou e das agruras da vida), com uma mantilha na cabeça, abeirou-se de mim, beijou-me e disse-me: "gostei de o ouvir! obrigado! Sabe, estive na sua ordenação. Nesse dia pedi a Deus uma só coisa, que o fizesse a si e aos seus dois colegas padres "segundo o evangelho" e sabe, hoje agradeci-Lhe..."(e foi-se embora!). Eu não a conheço, ma suma vez mais, e logo depois da Eucaristia, Ele ali estava provocador como sempre!!!
O dia lá continuou e depois de casa arrumada uma outra casa nos acolheu, agora já não estavamos todos...ficámos 5. Foi um tempo de graça! diante dEle feito Pão da Vida rezámos, cantámos, calámos...e deixámos que fosse Ele a "contemplar-nos", a olhar-nos com o seu amor o nosso coração...naturalmente que fomos saciados nesta fonte de salvação e de alegria.
Por isso, Este post não é mais do que uma prece balbuciada a Deus e a cada um deles, pois ao aceitarem "correr este risco" ensinam-me a mim cada vez mais que a Igreja se constrói na comunhão, na corresponsabilidade, na partilha da alegria e da esperança:
Ò Deus, minha esperança e minha consolação, coloco-me na Tua presença e quero bendizer-te por seres o Deus das surpresas, o Deus pequenino, o Deus criança, o Deus da ternura e da misericórdia. Ao agradecer a cada um destes meus irmãos é também a Ti que agradeço.
Obrigado Frei Tibério porque és para mim sempre um sinal de espontaneidade e profundidade.
Obrigado Martinho e Joana pelo vosso testemunho de amor matrimonial simples, discreto e alegre.
Obrigado Pedro por seres para mim um irmão mais novo e constante apelo a uma entrega quotidiana sempre humilde e confiante.
Obrigada Ana Maria por me ajudares com a tua candura a olhar com olhos novos este Deus Connosco.
Obrigado João Pedro e Francisco pela jovialidade, pela audácia e pela humildade com que acolhem a nossa sede de levar a todos este Deus loucamente enamorado pela humanidade.
Obrigada Ana Rita pelo apelo a olhar com mais atenção aqueles que de forma escondida e como grão de trigo se vão gastando ao serviço do reino.
Obrigada Marina e Isabel pela determinação em se organizarem para nos enriquecerem com a vossa presença generosa.
Obrigada Lucinda por me ajudares a compreender que mesmo no tempo da cruz e do deserto continua a valer a pena olhar o horizonte com a esperança do Evangelho.
Obrigado Otília e São Vieira porque mesmo na rectaguarda continua a ser para mim sinal de uma fidelidade criativa.
Obrigado Padre Fernando por seres como és: simples, alegre e testemunha serena da bondade e gratuidade do amor misericordioso de Deus.

sábado, setembro 16, 2006

"Quem diz a Verdade...merece castigo!"


A deturpação fruto de uma leitura emotiva (e que explora também essa mesma emoção!) das palavras do Papa Bento XVI na sua "aula" na passada terça-feira na Universidade de Regensburg, estão a provocar tudo aquilo a que estamos a assistir nestes dias: queimam-se fotografias do Papa, ataca-se o cristianismo, exige-se um pedido de desculpa da parte do vaticano, Igrejas são atacadas...tudo "em nome de Deus"!
Esquece-se no entanto o fundamental:
ler com objectividade e honestidade intelectual aquilo que disse o Papa, o que ele citou e como citou. (fica a versão em Ingês pois ainda não está disponivel a tradução portuguesa)
Mas é isso que não interessa, não vale a pena, o que importa é deixarmo-nos também nós levar nesta onda de emoção e acharmos que um Papa "velho, e conservador" (como ainda alguns o definem) se virou agora contra o Islão. Aliás que o Cristianismo é contra o Islão, e portanto faz-se deste momento mais uma "pedrada" da Igreja Católica aos muçulmanos...Os Cristãos podem ter inimigos mas não são inimigos de ninguém! Aliás o cristianismo não é "contra o homem" mas sempre a favor dele, pois acreditamos que o Deus Connosco, Cristo Jesus, se fez homem e assumiu por dentro a nossa condição.Penso sobretudo que as palavras do Papa são um convite, uma interpelação, a pensarmos a relação profunda entre a fé e a razão, entre a relação dos homens uns com os outros e a relação com Deus. São uma provocação a que o nosso tempo assuma um compromisso com a verdade, com a paz, com o respeito pela dignidade da pessoa humana, com o respeito pela diversidade, que em vez do confronto deve criar pontes de unidade, de comunhão, de diálogo.
Recomendo por isso a leitura do artigo de opinião escrito por Judite de Sousa, Jornalista da RTP, no JN e que a meu ver coloca o essencial da questão de maneira muito objectiva.
Num tempo em que o impacto das palavras retiradas do contexto para servirem de pretexto tem mais força que a verdade, pois essa não interessa, é caso para afirmar que temos que corrigir o povo no velho ditado, afinal "quem diz a verdade é que merece castigo!"...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Ensina-nos de novo...


Segundo os velhos parâmetros da normalidade eu debitaria nas linhas que se seguem algumas considerações sobre o 11 de setembro e sobre a viragem que deu a nossa história.
Quem me conhece sabe que gosto da surpresa e de surpreender.
Por isso mesmo não vou lançar nenhum anátema a Bin Laden e seus seguidores, também não vou fazer a exaltação do patriotismo americano, vou tão simplesmente recordar (ou seja: trazer ao coração) que no meio de tudo isto houve "irmãos" meus que partiram, de raças e credos diversos, vou recordar que há familias para quem os dias continuam a ser pesados, vou recordar os orfãos e as viúvas, vou recordar todos os que nas duas torres tentaram salvar da morte outros e que acabaram também por sucumbir, e mais do que acrescentar palavras ocas ao livro das lamentações (que já não precisa de mais capítulos), gostaria de partilhar convosco a oração, as palavras, que fui rezando ao longo deste dia:

Ò Deus da minha debilidade,
olho de novo este mundo que amas até ao fim,
peço-Te que continues a visitar-nos quotidianamente com o Teu Perdão,
com a Tua Ternura, com a Tua Paz...
Dá-nos um coração misericordioso,
um coração capaz de amar e perdoar os inimigos,
um coração que vibra e sente segundo a medida do evangelho.
E quando o ódio, o desespero, a incomprensão e a sede de vingança nos visitarem
envolve-nos ternamente com Teus braços estendidos na cruz
e ensina-nos de novo o que é o Amor, o que é a Vida, o que é a Esperança...
Ámen.

sexta-feira, setembro 01, 2006

O Evangelho dos últimos...


Ao longo desta semana tive a oportunidade de estar diversas vezes com pessoas portadoras de deficiência. Que riqueza! e que grandes lições me deram de humanidade,acolhimento, capacidade de amar e de sorrir,...foi sem dúvida um tempo especial em que senti muito presente a mão deste Deus que loucamente nos ama, sem condições, sem restrições, sem preconceitos...
Aprendi com o Nicolau, que não fala, o valor do sorriso, do silêncio, do amor cristalino, da inocência...
Com a Mãe dele aprendi a dedicação, a simplicidade, o espírito de sacrificio.
Com o Paulo e o Luís (re)aprendi uma vez mais que o ministério que me foi confiado é o da alegria, da esperança, do serviço gratuito, sem a preocupação com o relógio, com a carteira, com...
Com a Mãe do Gabriel, que veio de itália com o seu filho para participar nestas férias, aprendi a ousadia de quem olha para o futuro e o escreve ao ritmo de Deus com as notas da esperança, do valor das pequenas coisas, dos pequenos passos...
Com a Comunidade dos Silenciosos Operários da Cruz (
www.sodcvs.org) aprendi uma vez mais que a pessoa portadora de deficiência tem de ser protagonista nesta Igreja a que pertenço e não simplesmente depositária da nossa caridadezinha infantilizada pelos preconceitos, pelos medos, pela ideia terrivel de que Deus os quer no mundo para que sofram...(como se Ele fosse sádico!!!)
Estou por isso cada vez mais convencido de que a minha vida, as minhas forças, os meus dias hão-de ser consagrados inteiramente a estes que são "os últimos"(cf. Mt 25, 31-40).
A beleza do Evangelho dos últimos está precisamente nesta certeza que me anima o coração e a inteligência:
mesmo num rosto ou num corpo desfigurados o meu Cristo está plenamente, tal como no Pão que comungo, tal como na Palavra que Ele me sussura ao coração, tal como na misericórdia com que Ele sempre me acolhe quando me perco no caminho...
É assim o meu Cristo, um Deus louco que se esconde nos últimos para que eu o possa servir e que assim me dá a alegria de lhe poder oferecer os meus nadas.