sexta-feira, agosto 18, 2006

o desequilíbrio do primeiro passo...


Ligou-me na quarta, desejava Reconciliar-se pois vai partir para uma viagem de 4 dias a pé com amigos até Santiago de Compostela.
Eu tinha acabado de chegar, ainda mal tinha recuperado do cansaço, mas disse-lhe que estava disponível e lá combiná-mos o encontro.
Dei por mim a pensar como é importante, ou melhor, fundamental, o "desequilíbrio do primeiro passo". É ele que marcará definitivamente o rumo a tomar, o ritmo do caminhar...
Ao mesmo tempo dei por mim a reler as páginas do livro da vida, da minha vida, e a ver nele cada primeiro passo, cada caminho (re)começado com este "desequilibrio do primeiro passo",... quase todos (re)começaram na experiência pessoal da reconciliação.
Lá nos encontrámos, fizémos juntos a festa da misericórdia,
acolhemos uma vez mais a ternura deste Amor Eterno e Santo,
e mais uma vez aprendi que o "desequilibrio do primeiro passo" se aprende na escola do silêncio, da verdade e da alegria de um amor que jamais passará(cf. 1Cor. 13, 13).

quarta-feira, agosto 16, 2006

Quem vive de Deus escolhe amar...


Fazer memória dos que partem significa para mim reafirmar que eles continuam no meu coração. É isso que hoje sinto ao lembrar este meu irmão mais velho que há um ano atrás foi assassinado.
Ao lembar aqui o Irmão Roger de Taizé fica para além do gesto o desejo de também eu rezar e trabalhar mais pela unidade e reconciliação da humanidade, afim de que cada homem e mulher descubram a Bondade, a Ternura, a Misericórdia e Alegria do Deus de Cristo Jesus, O Ressuscitado.
Que as palavras do ir. Roger nos estimulem a viver o Dom da Fé com mais ousadia e com mais alegria:

«Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz»: que paz é esta, que Deus dá?
É antes de mais uma paz interior, uma paz do coração. É ela que permite lançar um olhar de esperança sobre o mundo, mesmo se ele é tantas vezes dilacerado por violências e conflitos.
Esta paz de Deus é também um apoio para que possamos contribuir, muito humildemente, para a construção da paz onde ela se encontra ameaçada.
A paz mundial é tão urgente para aliviar o sofrimento, em particular para que as crianças de hoje e de amanhã não conheçam a angústia e a insegurança.
No seu Evangelho, numa fulgurante intuição, São João exprime quem é Deus em três palavras: «Deus é amor.» Basta compreendermos estas três palavras para podermos ir longe, muito longe.
O que nos cativa nestas palavras? É encontrar nelas esta certeza luminosa: Deus não enviou Cristo à terra para condenar quem quer que seja, mas para que todo o ser humano se saiba amado e possa encontrar um caminho de comunhão com Deus.
Mas por que razão há pessoas que o amor deslumbra, que se sabem amadas, realizadas? Por que razão há outras que julgam ser desprezadas?
Se cada um de nós compreendesse: Deus acompanha-nos mesmo na nossa solidão mais insondável. Ele diz a cada um de nós: «És precioso aos meus olhos, eu estimo-te e amo-te.» Sim, Deus só pode dar o seu amor, aí se encontra todo o Evangelho.
O que Deus nos pede e nos oferece é que recebamos a sua infinita misericórdia.
Que Deus nos ama é uma realidade por vezes pouco acessível. Mas quando descobrimos que o seu amor é antes de tudo perdão, o nosso coração encontra sossego e acaba por transformar-se.
Eis que nos tornamos capazes de confiar a Deus o que perturba o nosso coração: encontramos então uma fonte onde buscar nova vitalidade.
Estaremos bem conscientes? Deus confia tanto em nós que dirige a cada um de nós um chamamento. O que é esse chamamento? É o convite a amar como ele nos ama. E não há amor mais profundo do que ir até ao dom de si próprio, por Deus e pelos outros.
Quem vive de Deus escolhe amar. E um coração decidido a amar pode irradiar uma bondade sem limites.
Para quem procura amar com confiança, a vida enche-se de uma beleza serena.
Quem procura amar e dizê-lo através da sua vida é levado a interrogar-se sobre uma das questões mais prementes: como aliviar as penas e o tormento daqueles que estão próximo ou longe?
Mas o que é amar? Será partilhar o sofrimento dos mais maltratados? Sim.
Será ter uma bondade infinita de coração e esquecer-se de si próprio por causa dos outros, de forma desinteressada? Sim, certamente.E ainda: o que é amar? Amar é perdoar, viver reconciliados. E a reconciliação é sempre uma Primavera da alma."


(excerto da carta por Acabar)