segunda-feira, outubro 21, 2013

A ORAÇÃO NÃO É «FIM»…É SEMPRE «PRINCÍPIO»!



Rezar não é fácil, desnuda-nos. Confronta-nos com o que somos, com o que fizemos e com o que podemos ser. Rezar é abrir-se ao futuro! Há quem diga que para rezar é preciso ter coragem. Eu, pessoalmente, acho que o que é verdadeiramente necessário é ter amor! Só reza quem ama. A oração é, no fundo, uma questão de ‘cor-ação’. É perceber, afinal, que a nossa teimosia, os nossos ritmos sempre em ‘descompasso’, as nossas lamúrias (acerca de nós e dos outros), a nossa falta de esperança, os nossos horizontes curtos, necessitam de um constante ‘upgrade’ de Amor, de um permanente ‘download’ de Esperança e, necessitam ainda, de serem provocados para um ‘upload’ quotidiano das nossas vivências, dos nossos passos, cheios de Páscoa...mas não ‘cheios de nós’. É que a oração liberta-nos do ‘narcisismo’, talvez seja por isso que rezar parece (a tantos e tantas vezes) uma missão impossível.
 É por isto, e por muito mais do que isto, que Jesus recorda no Evangelho de hoje (Lucas 18, 1-8) «a necessidade de orar sempre sem desanimar». Reza quem descobre que não é autossuficiente, reza quem sabe que Deus escuta a voz dos humildes. Reza quem percebe que a oração não é ‘magia’ mas Encontro, feito de vida. Sim, rezar é respirar a Vida! A ‘viúva’ que bate à porta e clama por justiça, recorda-nos que é preciso ser fiel, perseverar, não deixar morrer os sonhos, cuidar do nosso ‘jardim interior’ onde ‘Deus faz novas todas as coisas’ e abrir-se ao futuro com uma confiança ilimitada.



Quem reza não ‘envelhece’! E não se trata de fazer ‘plásticas’, pois a oração não é carnaval nem uma questão de ‘estética’ ou de ‘cosmética’. Quem reza não ‘envelhece’, porque aprende a ver e a saborear a novidade permanente de Deus no mundo não com o saudosismo do tempo que já lá vai, não com a ingenuidade optimista das fugas para a frente, mas com aquele realismo evangélico de quem sabe que todo o tempo é tempo de Deus, é ‘Kairós’, tempo da salvação viva e activa, uma salvação que é (um) presente!



Rezar, no fundo, é a confiança feita acção! Dizia Madre Teresa de Calcutá: «nós complicamos a oração como complicamos muitas outras coisas. Ela é – para vós, para mim, para todos nós – amar Jesus com um amor sem reserva e sem limite. E esse amor, sem reserva e sem limite, é posto em prática sempre que fazemos o que Jesus nos diz: ‘Amai-vos como Eu vos amei’».


Rezar é, portanto, redescobrir no Amor a coragem de se abrir ao futuro, sem isolamento ou depressão, mas fraternamente, em comunhão. A oração é o modo ‘inventado’ por Deus para nos ajudar a ‘desmascarar’ a nossa indiferença quotidiana, para nos ensinar a contemplar os outros com um ‘coração de criança’, para nos fazer saborear a vida em cada respiro e para nos fazer olhar para além de nós…porque rezar é habitar (desde já) a eternidade.



Rezar dá-nos ‘discernimento’, isto é, um coração que sabe ler os factos como ‘história de salvação’. Uma história da qual faço parte e à qual faço falta! Rezar torna-nos ‘radicais’, ou seja, ensina-nos a viver a partir da raiz das coisas e não tanto da ‘espuma dos dias’. Rezar dá harmonia ao quotidiano fazendo de cada gesto, palavra ou silêncio um “cântico de gratidão” que nos leva a dizer: «Meu Deus, pelo que passou ‘obrigado’. Ao que está para vir: ‘Sim’».



Precisamos de rezar! Rezar o que somos, agradecer o que temos. Precisamos de rezar uns pelos outros, porque a oração quebra a indiferença…e faz a diferença. Não te esqueças então que toda a oração começa com o verbo confiar(-se).



DESAFIO: Escolhe para cada dia desta tua semana uma pessoa e/ou uma situação pela qual queiras rezar. Confia tudo isso e todos esses, em cada amanhecer, ao nosso Deus que é Amor. Fá-lo do jeito que quiseres…pois na oração ‘o jeito certo’ é mesmo rezar. Eu rezarei por ti! BOA SEMANA!

quinta-feira, outubro 17, 2013

Para amar…não basta ter coração!



Para «derrubar» muros é preciso abraçá-los! Parece estranho, não? Mas é verdade.
Já viste quantas coisas mudam em ti com esse ‘poder vulnerável’ que tem a Ternura?

Amar alguém significa dizer-lhe, com a vida, os lábios, a inteligência e o coração: «partilho a minha vida contigo e, se necessário, darei a minha vida por ti!». É que o amor não é um sentimento. É uma opção, uma decisão, um projecto…mais ainda, é um estilo de vida!

Para amar não basta ter ‘coração’…Quantas vezes feridos com a vida, e com os outros, o nosso coração se fecha em si mesmo? Um ‘coração ensimesmado’ é muito perigoso pois facilmente constrói um arsenal de defesa(s) e generosamente começa a construir um sem-fim de muros, de barreiras, de ‘portagens’ e de ‘alfândegas’ onde tudo é cobrado e taxado, onde tudo é passado pelo crivo do rancor e pelos critérios de uma ‘memória amarga’…

Um coração livre, ‘cheio de Deus e casa aberta para todos’, só se constrói quando nos deixamos vencer, convencer e revestir pela Ternura…Gosto de imaginar o mundo ritmado por ela. Um mundo onde a ‘ternura’ é Rainha, mestra e modelo. Um mundo cheio de abraços que curam feridas, um mundo feito de sorrisos que devolvem esperança, um mundo feito de projecto com ‘o outro ao centro’, um mundo onde as palavras são apenas ‘sinfonia agradecida’ para cantar o essencial que já é visível aos olhos…

Gosto de imaginar a Ternura como ‘um perfume’ derramado cada-dia-em-cada-vida. Um perfume de Vida. De Páscoa. De Ressurreição. Um perfume novo que converte a vida e transforma o coração…o perfume que Agostinho, o convertido de coração livre, canta assim:

«Tarde Te amei, beleza antiga e sempre nova, tarde Te amei!
Tu estavas dentro de mim e eu estava fora de mim.
Era nesse fora que eu Te procurava;
com o meu espírito deformado, precipitava-me sobre as coisas formosas que criaste.
Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo…
Retinha-me longe de Ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti.
Chamaste, gritaste e rompeste a minha surdez.
Brilhaste, resplandeceste e dissipaste a minha cegueira.
Exalaste sobre mim o Teu perfume: aspirei-o profundamente e, agora, suspiro por Ti.
Saboreei-Te, e tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora desejo ardentemente a tua paz».



O mundo sem ternura seria um gélido museu de memórias passadas! 

Quem se abre ao futuro desperta(-se) da sonolência do conformismo e começa a gerar um ‘coração de discípulo’. É que para amar não basta ter coração…é preciso que ele seja ‘peregrino’…é preciso que ele abrace e se deixe abraçar…é preciso que aceite ‘estar’ e livremente ‘deixe partir’…porque afinal, todas as histórias de amor começam com o verbo DAR!




domingo, outubro 06, 2013

SERVIR(-se)!?...



«Era uma vez…uma ilha, pequena, a norte do continente africano. 
Um lugar muito belo, apreciado pelos turistas. 
Tem 5 mil habitantes, são muito simpáticos e afáveis. 
Tem uma área de 20,2 km². 
Um mar calmo, de águas quentes, e um suave perfume. 
É bonita, não achas?...»



Interrompo esta bela história para te dizer que estou aqui, sentado diante do computador. É Domingo. Já celebrei Eucaristia. Fui ouvir o Papa no ‘Angelus’ na praça de S. Pedro…Escutei bem o ‘peso’ de afecto, ternura e sofrimento que tinham esta palavras: «Gostaria de recordar com vocês as PESSOAS que perderam suas vidas em Lampedusa, na quinta-feira passada. Vamos todos rezar em silêncio por estes NOSSOS IRMÃOS E IRMÃS: mulheres, homens, crianças...DEIXEMOS CHORAR NOSSOS CORAÇÕES. Rezemos em silêncio».



Dei por mim, quase sem querer, a perguntar como Habacuc na primeira leitura da Eucaristia de hoje: “Até quando, Senhor, pedirei socorro, sem que me escutes? Até quando clamarei: «Violência!», sem que me salves? Porque me fazes ver a iniquidade e contemplar a desgraça?”



No ‘grito’ deste homem de Deus está também o grito de tantos e tantas que nestes dias viraram ‘vítimas’ e ‘número’ (hoje já vai em 211!). Fala-se hoje de Lampedusa (sim, é esse o nome daquela ilha) de modo leviano! Alguns ‘servem-se’ para ter audiência…para outros ‘serve’ como pedra de arremesso para uma qualquer oposição tão partidarista quanto oportunista.



De pergunta-em-pergunta dou-me conta novamente do que disse (e de como disse!) o Papa. Não se serve das PESSOAS QUE MORRERAM para ter um ‘share de audiência’…também não faz delas uma arma ‘sindicalista’ para uma qualquer exigência…e, ao contrário de mim, pobre pecador, também não faz perguntas a Deus…antes, coloca-os no coração de Deus pois sabe que são seus (e nossos!) irmãos e irmãs…e pede que deixemos “chorar o coração”…



Sabe o valor de uma lágrima quem tem memória, sabe o que é o dom da fé quem não foge da história, da realidade, e sabe quem é Deus aquele que descobriu a todos como irmãos.



Para viver na Fé, e com Fé, este jeito de ser “servo inútil a tempo pleno”, como diria D. Tonino Bello, é preciso pedir a Deus que nos liberte da autossuficiência que dispensa os outros e o Outro, pedindo-lhe também que nos dê a coragem de repetir em cada respiro: «aumenta a nossa [pequena] fé»…



Se acreditamos com o coração, professamos a fé com os olhos abertos! E não podemos ignorar ou contornar a realidade. Mas, já viste como é tão acomodado o nosso (o meu) ser cristão? Queres um exemplo? Faço-o em modo de pergunta: «Como é que reages quando algum mendigo na rua vem pedir-te algo?»…Aí tens a resposta! Não basta só dar-lhe uma moeda ou ignorá-lo. É ali que a “Lampedusa quotidiana” ganha (mais um) outro rosto e coração em agonia…é ali que ‘desembarca’ na nossa vida, diante de nós, na praia da nossa existência (a ‘1 km do areal’- como dizem hoje no telejornal!) alguém que sucumbirá certamente, agora não afogado no mar de águas calmas, mas provavelmente no mar da nossa indiferença...



Afinal, se olho para a vida, «Lampedusa» não é simplesmente o nome de uma ilha «lá longe na Itália»…Lampedusa é aqui tão perto! E as pessoas que morrem perto da minha/tua praia continuam a ser tantas, não achas? Talvez fosse bom começar a semana a transformar em interrogação a afirmação com que o Mestre nos interpela no final do Evangelho (Lucas 17,5-10) neste Domingo: 

 «Somos servos…e fiz(emos) o que devía(mos) fazer?»