segunda-feira, outubro 20, 2014

…A ‘OUTRA FACE’ DA MOEDA!



Os fariseus e os herodianos andavam equivocados. Só sabiam ler a vida ‘pela metade’. Por isso, era-lhes muito difícil levantar o olhar do coração de modo a buscar caminhos de dignidade para o povo que o Senhor escolheu. Viviam mais preocupados em ‘anular’ ou em ‘desnudar’ a Cristo, do que em conhecê-lo e segui-lo! Acontece com eles o que tantas vezes acontece connosco, ‘sacralizamos’ o que é indigno e ‘dessacralizamos’ o que é divino. Por outras palavras, vivemos a nossa experiência de fé ancorados no auto-consumo da superficialidade com que lemos a vida, os acontecimentos e no modo como nos comprometemos com a história. Vemos mas não contemplamos, ouvimos mas não escutamos, exigimos sem nos comprometer e vivemos sempre de mãos limpas porque incapazes de amar.
O encontro com o Evangelho revela-nos a nossa identidade e convoca-nos para uma pertença. Habituados que estamos às ‘leis do mercado’ que geram, cada vez mais, uma ‘desfiguração do humano’, também nós entramos facilmente na lógica perversa dos fariseus e herodianos: “É lícito ou não pagar tributo a César?”. Mas a questão fundamental nunca é essa! É verdade que o bem comum merece-nos sempre empenho real e contributo ético, mas também exige de nós denuncia profética, compromisso que gere autonomia responsável e não dependências indignas. Habitando um tempo tão complexo como aquele em que vivemos, as nossas análises do ‘deve’ e do ‘haver’ têm de ser secundarizadas em favor de uma outra lógica que vá além dos ‘impérios’ e da ‘divinização do poder’. É preciso recomeçar ‘a partir de baixo’, com a vulnerabilidade da ternura e com a força sempre renovadora de um serviço que nos compromete em levantar e aliviar todos os crucificados da terra. Não é ideologia ‘partidária’ nem ‘politização do Evangelho’, trata-se do Amor (pro)activo que brota da incarnação daquele que sendo rico se fez pobre (2 Cor 8, 9).
A questão, portanto, não é “quanto vale o que dou?” mas sim “em que(m) é que invisto o que partilho?”. Não se trata de ‘economia’ mas de ‘dignidade’, e esta última não tem preço, não se negoceia nem se pode suprimir. Mais, no limite trata-se de confiança (= Fé!), trata-se de rever não só a nossa ética pessoal mas também a nossa ética social, porque quando o Evangelho não se faz vida, não adiante dizer que somos discípulos. No máximo somos apenas, como os fariseus e os herodianos, ‘míopes mercadores do essencial’ que não souberam ver a outra face da moeda. Que a Palavra nos desperte da contemplação acomodada da ‘divinização do mal e da banalidade’ e, se queremos ‘dar a César o que é de César’, viremos ‘a moeda’ e aprendamos a ver nela o rosto do irmão, essa sim a ‘face justa’ da moeda! Bom Domingo!



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