terça-feira, março 10, 2015

DEUS NÃO GOSTA DE PORTAS FECHADAS…

Como ‘nómadas’ e ‘peregrinos’ vamos vivendo, na complexidade do nosso quotidiano, momentos de encontro e de desencontro com Deus e com os outros. Sabemos que a nossa busca interior é feita de recomeços e, anima-nos a certeza de que o caminho que Deus faz para nos procurar é tecido, serenamente, pelo coração do Pai com a filigrana da ternura e da misericórdia.

O Evangelho, esta semana, desnuda-nos e coloca diante dos nossos olhos e do nosso coração a ‘falsificação’ que todos, tantas vezes exterior e/ou interiormente, vamos fazendo da nossa relação com Deus. Da Fé queremos apenas a ‘religião’, do templo apenas um lugar onde ‘incensar’ as nossas vaidades e do átrio da vida um banco para nos sentarmos acomodadamente e podermos, sem sobressaltos, ‘comercializar’ as nossas idolatrias.

Mesmo sabendo que Deus não gosta de portas fechadas, continuamos a querer ‘aprisioná-lo’ por entre os muros que criámos à nossa medida. Queremos um Evangelho ‘emoldurado’, uma vida cristã cheia de ‘reumatismo espiritual’ e, acima de tudo, continuamos a desejar (soberbamente!) que os outros correspondam simplesmente às nossas expectativas…incluindo nessa ‘listinha’ também o próprio Deus! É de tudo isso que Jesus nos liberta esta semana quando ‘joga por terra’ tudo o que nos desumaniza e tudo aquilo que desumaniza a fé e quer fazer dela uma ‘religião de bem comportadinhos’ (cf. João 2,13-25).

Como escreveu sabiamente Don Tonino Bello em 1990: “Hoje o problema mais urgente nas nossas comunidades cristãs não é aquele de ‘inaugurar’ portas que se abrem para dentro do espaço sagrado. O problema mais dramático dos nossos dias é aquele de abrir as portas do interior do templo para a praça. É desta simbologia que temos necessidade! Para nos fazer compreender que o intimismo tranquilizador das nossas liturgias torna-se ambíguo se não se escancara aos espaços do território profano. E para afirmar que o rito deve chegar aos átrios, entrar nos condomínios, deter-se nas paragens e tocar o homem nos seus ‘estaleiros’ quotidianos. Caso contrário será uma fuga perigosa da realidade».

É hora de sair do nosso ‘santuário interior’. É hora de ‘escancarar’ as portas do templo da vida e sair ao encontro de todos os que continuam a não ter lugar na mesa, a não ter o pão quotidiano, a não ter trabalho, saúde…a não ter um abraço e uma palavra de conforto. Todas as portas foram feitas para serem abertas. Quantas em ti ainda continuam fechadas?...BOA SEMANA!

Faz-nos sair do templo, ó Pai,
Do templo das nossas idolatrias,
Dos nossos conformismos e acomodações.

Faz-nos sair do templo, ó Pai,
E conduz-nos pela mão até à praça
Para que possamos anunciar aí
As maravilhas do teu amor,
Sem muros nem defesas,
Sem autoritarismo ou vaidade,
Sem legalismo ou banalidade…

Faz-nos sair do templo, ó Pai,
E de tudo o que nos serve de desculpa
Para não nos comprometermos contigo e com o Reino.

Desassossega-nos,
Chama-nos,
Leva-nos pela mão, pois somos frágeis,
Modela os nossos corações com a Tua ternura
E transforma-nos com a Tua misericórdia.

Faz-nos discípulos missionários
Cheios de alegria pascal nos lábios, no coração e na vida.
Faz-nos sair do templo, ó Pai,…


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