Como ‘nómadas’ e ‘peregrinos’ vamos vivendo, na complexidade do nosso
quotidiano, momentos de encontro e de desencontro com Deus e com os outros.
Sabemos que a nossa busca interior é feita de recomeços e, anima-nos a certeza
de que o caminho que Deus faz para nos procurar é tecido, serenamente, pelo
coração do Pai com a filigrana da ternura e da misericórdia.
O Evangelho, esta semana, desnuda-nos e coloca diante dos nossos olhos
e do nosso coração a ‘falsificação’ que todos, tantas vezes exterior e/ou interiormente,
vamos fazendo da nossa relação com Deus. Da Fé queremos apenas a ‘religião’, do
templo apenas um lugar onde ‘incensar’ as nossas vaidades e do átrio da vida um
banco para nos sentarmos acomodadamente e podermos, sem sobressaltos, ‘comercializar’
as nossas idolatrias.
Mesmo sabendo que Deus não gosta de portas fechadas, continuamos a
querer ‘aprisioná-lo’ por entre os muros que criámos à nossa medida. Queremos um
Evangelho ‘emoldurado’, uma vida cristã cheia de ‘reumatismo espiritual’ e,
acima de tudo, continuamos a desejar (soberbamente!) que os outros correspondam
simplesmente às nossas expectativas…incluindo nessa ‘listinha’ também o próprio
Deus! É de tudo isso que Jesus nos liberta esta semana quando ‘joga por terra’
tudo o que nos desumaniza e tudo aquilo que desumaniza a fé e quer fazer dela uma
‘religião de bem comportadinhos’
(cf. João 2,13-25).
Como escreveu sabiamente Don Tonino Bello em 1990: “Hoje o problema mais
urgente nas nossas comunidades cristãs não é aquele de ‘inaugurar’ portas que
se abrem para dentro do espaço sagrado. O problema mais dramático dos nossos
dias é aquele de abrir as portas do interior do templo para a praça. É desta
simbologia que temos necessidade! Para nos fazer compreender que o intimismo
tranquilizador das nossas liturgias torna-se ambíguo se não se escancara aos
espaços do território profano. E para afirmar que o rito deve chegar aos
átrios, entrar nos condomínios, deter-se nas paragens e tocar o homem nos seus ‘estaleiros’
quotidianos. Caso contrário será uma fuga perigosa da realidade».
É hora de sair do nosso ‘santuário interior’. É hora de ‘escancarar’ as
portas do templo da vida e sair ao encontro de todos os que continuam a não ter
lugar na mesa, a não ter o pão quotidiano, a não ter trabalho, saúde…a não ter
um abraço e uma palavra de conforto. Todas as portas foram feitas para serem
abertas. Quantas em ti ainda continuam fechadas?...BOA SEMANA!
Faz-nos sair do
templo, ó Pai,
Do templo das
nossas idolatrias,
Dos nossos
conformismos e acomodações.
Faz-nos sair do
templo, ó Pai,
E conduz-nos pela
mão até à praça
Para que possamos
anunciar aí
As maravilhas do
teu amor,
Sem muros nem
defesas,
Sem autoritarismo
ou vaidade,
Sem legalismo ou
banalidade…
Faz-nos sair do
templo, ó Pai,
E de tudo o que
nos serve de desculpa
Para não nos
comprometermos contigo e com o Reino.
Desassossega-nos,
Chama-nos,
Leva-nos pela mão,
pois somos frágeis,
Modela os nossos
corações com a Tua ternura
E transforma-nos
com a Tua misericórdia.
Faz-nos discípulos
missionários
Cheios de alegria
pascal nos lábios, no coração e na vida.
Faz-nos sair do
templo, ó Pai,…
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