Vou procurar ao longos destes dias enunciar aqui numa linguagem simples alguns aspectos que penso ser necessário aclarar para que todos nos entendamos honestamente naquilo que dizemos e não criemos confusão "só porque sim!"
1. O celibato é uma das possibilidades, tal como o matrimónio, dada ao cristão para assumir e viver o seu baptismo e a radicalidade do evangelho.
2. O celibato não é uma realidade anarquica, que exista como um fim para si mesmo, ele é um apelo à extroversão, isto é, ao sair de si para se dar plena e totalmente aos outros, é desafio a um amor oblativo, tal como o é qualquer vocação cristã (logo a começar pelo nosso Baptismo!). daí que ao falarmos de celibato falamos sempre de amor, de um amor que, tal como o amor matrimonial, é chamado a dar-se todo a todos. A lógica da ternura, do afecto, é aqui que entra. o celibato não é por isso uma fuga à ternura e o afecto mas é antes um desafio a ser universalmente afectuoso, terno, próximo...
3. o celibato enquanto este "escândalo" para o nosso tempo tem a sua razão de ser na opção radical pelo Absoluto que é Deus. é Ele o ponto de partida e de chegada. E só porque se faz esta opção fundamental por Deus é que depois podemos deduzir daí a disponibilidade, a proximidade,...é por isso que ser celibatário não significa ser mais ou menos cristão, significa tão somente ter feito uma opção...e vivê-la!
4.O celibato não faz parte do nosso credo dominical mas é uma questão de fé. Só na lógica da Fé num "Deus Loucamente enamorado por aqueles que ama" é que se pode entender que tantos homens e mulheres (e note-se que não estou só a falar de padres!) ao longo destes 2000 anos continuem a abraçar esta opção como um dom e um sinal, para cada tempo, de que só Deus basta.
5.Ser celibatário é exigente não porque implique apenas e só contenção sexual (como alguns tanto gostam de sublinhar) mas porque é um apelo a viver um projecto de fidelidade que se renova todos os dias. e o que vale para um cristão celibatário vale igualmente para um cristão casado ou para um cristão em discernimento da sua vocação. A fidelidade só é verdadeiramente feliz quando se descobre peregrina, isto é, a fazer caminho...e a fidelidade para um cristão baptizado é isso mesmo, é fazer caminho, é recomeçar todos os dias como se fosse o primeiro, o único e o último.
Estes aspectos que procurei apresentar aqui numa linguagem muito simples (e outros que ficam por enumerar) não coincidem naturalmente com a lógica mercantil como alguns entendem a vocação cristã (os do "se assim fosse havia mais padres") nem lhes servem como ponto de partida para a reflexão.
No tempo em que vivemos, e que é um tempo bom apesar das muitas fragilidades que todos experimentamos ou criticamos, julgo não ser tempo para cruzar os braços e irmos pelo caminho mais fácil...a exigência da profundidade sempre fez parte do projecto de Jesus e do projecto que Ele nos deixou. Há naturalmente alguns escândalos, infidelidades,dificuldades, negá-los seria desonesto! Em muitas dioceses do mundo é também verdade que diminuiu o nº de vocações...mas a dificuldade é motivo para mudar tudo ou um tempo para aprofundar mais? Quem me conhece sabe que não gosto de soluções fáceis...mais do que padres, faltam à Igreja cristãos comprometidos...talvez porque nós padres andemos ocupados e distraídos com muita coisa que não é essencial.
2 comentários:
Qual a tua opinião sobre os padres católicos casados de rito oriental?
Lembra-te que quando a Igreja permitir que omens casados possam ser padres na Igreja de rito ocidental não deixa de haver padres celibatários.
No Oriente coexistem as duas formas... o que para mim é uma riqueza e não um empobrecimento.
A questão não está em acabar com o celibato, mas em permitir a que homens que não tenham vocação para..., ou melhor o dom do celibato possa ser padres...
No oriente é possível. Qual é o problema de coexistirem no Ocidente padres celibatários e padres casados?
Essa é a verdadeira pergunta...
A resposta que deste não responde a esta pergunta... ou será que a Igreja de rito oriental é dentro da Igreja católica uma Igreja de segunda?!!! Ou será que os padres casados de rito oriental são menos dignos que os padres celibatários!!!
E quando este vierem para o Ocidente como é que os aceitamos?
Também acho que devia haver a hipótese de haver padres que casassem. Não acredito que isso acabaria com o celibato.
beijos em Cristo
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