segunda-feira, setembro 10, 2007

Uma questão de fidelidade...

Vou procurar ao longos destes dias enunciar aqui numa linguagem simples alguns aspectos que penso ser necessário aclarar para que todos nos entendamos honestamente naquilo que dizemos e não criemos confusão "só porque sim!"
1. O celibato é uma das possibilidades, tal como o matrimónio, dada ao cristão para assumir e viver o seu baptismo e a radicalidade do evangelho.
2. O celibato não é uma realidade anarquica, que exista como um fim para si mesmo, ele é um apelo à extroversão, isto é, ao sair de si para se dar plena e totalmente aos outros, é desafio a um amor oblativo, tal como o é qualquer vocação cristã (logo a começar pelo nosso Baptismo!). daí que ao falarmos de celibato falamos sempre de amor, de um amor que, tal como o amor matrimonial, é chamado a dar-se todo a todos. A lógica da ternura, do afecto, é aqui que entra. o celibato não é por isso uma fuga à ternura e o afecto mas é antes um desafio a ser universalmente afectuoso, terno, próximo...
3. o celibato enquanto este "escândalo" para o nosso tempo tem a sua razão de ser na opção radical pelo Absoluto que é Deus. é Ele o ponto de partida e de chegada. E só porque se faz esta opção fundamental por Deus é que depois podemos deduzir daí a disponibilidade, a proximidade,...é por isso que ser celibatário não significa ser mais ou menos cristão, significa tão somente ter feito uma opção...e vivê-la!
4.O celibato não faz parte do nosso credo dominical mas é uma questão de fé. Só na lógica da Fé num "Deus Loucamente enamorado por aqueles que ama" é que se pode entender que tantos homens e mulheres (e note-se que não estou só a falar de padres!) ao longo destes 2000 anos continuem a abraçar esta opção como um dom e um sinal, para cada tempo, de que só Deus basta.
5.Ser celibatário é exigente não porque implique apenas e só contenção sexual (como alguns tanto gostam de sublinhar) mas porque é um apelo a viver um projecto de fidelidade que se renova todos os dias. e o que vale para um cristão celibatário vale igualmente para um cristão casado ou para um cristão em discernimento da sua vocação. A fidelidade só é verdadeiramente feliz quando se descobre peregrina, isto é, a fazer caminho...e a fidelidade para um cristão baptizado é isso mesmo, é fazer caminho, é recomeçar todos os dias como se fosse o primeiro, o único e o último.
Estes aspectos que procurei apresentar aqui numa linguagem muito simples (e outros que ficam por enumerar) não coincidem naturalmente com a lógica mercantil como alguns entendem a vocação cristã (os do "se assim fosse havia mais padres") nem lhes servem como ponto de partida para a reflexão.
No tempo em que vivemos, e que é um tempo bom apesar das muitas fragilidades que todos experimentamos ou criticamos, julgo não ser tempo para cruzar os braços e irmos pelo caminho mais fácil...a exigência da profundidade sempre fez parte do projecto de Jesus e do projecto que Ele nos deixou. Há naturalmente alguns escândalos, infidelidades,dificuldades, negá-los seria desonesto! Em muitas dioceses do mundo é também verdade que diminuiu o nº de vocações...mas a dificuldade é motivo para mudar tudo ou um tempo para aprofundar mais? Quem me conhece sabe que não gosto de soluções fáceis...mais do que padres, faltam à Igreja cristãos comprometidos...talvez porque nós padres andemos ocupados e distraídos com muita coisa que não é essencial.

2 comentários:

Anónimo disse...

Qual a tua opinião sobre os padres católicos casados de rito oriental?
Lembra-te que quando a Igreja permitir que omens casados possam ser padres na Igreja de rito ocidental não deixa de haver padres celibatários.
No Oriente coexistem as duas formas... o que para mim é uma riqueza e não um empobrecimento.
A questão não está em acabar com o celibato, mas em permitir a que homens que não tenham vocação para..., ou melhor o dom do celibato possa ser padres...
No oriente é possível. Qual é o problema de coexistirem no Ocidente padres celibatários e padres casados?
Essa é a verdadeira pergunta...
A resposta que deste não responde a esta pergunta... ou será que a Igreja de rito oriental é dentro da Igreja católica uma Igreja de segunda?!!! Ou será que os padres casados de rito oriental são menos dignos que os padres celibatários!!!
E quando este vierem para o Ocidente como é que os aceitamos?

Maria João disse...

Também acho que devia haver a hipótese de haver padres que casassem. Não acredito que isso acabaria com o celibato.


beijos em Cristo