segunda-feira, dezembro 01, 2008

Advento 2008

Esperar por Aquele que sempre nos espera…

Advento?
Por quem esperamos?
Com quem esperamos?

Um conto de natal de Charles Dickens conta a história de um homem que perdeu a memória do coração. Este apagar da memória do amor, foi-lhe proposto como libertação do fardo do passado. À medida que secava a fonte da memória, também a fonte da bondade desaparecia neste homem. Tornou-se frio e só espalhava frieza à sua volta. Olhando o tempo presente parece-nos que este conto de Dickens se tornou uma parábola do nosso tempo.

Advento?

O âmago, o centro, do advento cristão coloca-nos diante da memória do coração, isto é, da ligação entre memória e esperança, fundamento a partir do qualquer se constrói o quotidiano de todos e cada um dos homens e mulheres.
Assim o advento procura reavivar o Dom de Deus (cf. Carta a Timóteo), avivar a memória do Deus que se faz menino, isto é, o Advento torna-se o tempo que aviva a memória do coração e a abre ao mistério inaudito de um Deus que se faz Menino, peregrino nos trilhos dos homens. Ao mesmo tempo que se torna um tempo de avivar a memória o Advento torna-se também o tempo e a oportunidade que nos é dada para nos abrirmos ao para além de nós. A recordação agraciada e agradecida do que Deus fez torna-se no coração também uma memória salva (pascal), Esperança, cruzando assim, no arco do tempo e da vida, o Deus que foi, que é e que há-de vir.
Advento é então, antes de mais, o tempo em que Deus lida connosco de maneira muito humana, conduz-nos passo a passo e espera por nós. Advento é como que o toque silencioso à soleira da nossa alma inquieta, um risco que corremos indo ao encontro da misteriosa presença de Deus, a única que nos pode libertar.

Por quem esperamos?


Esperamos o Verbo procedente do silêncio (S. Inácio de Antioquia). A Palavra eterna dita pelo Pai á humanidade de forma definitiva, aquela Palavra que estava no princípio e estará no fim: A Palavra (e o Rosto) do amor. Esperamos na noite a Luz para as nossas trevas, esperança para os nossos desesperos, a consolação para as nossas feridas, a eternidade para a nossa finitude.
Esperamos a Palavra feita carne que montando a sua tenda no coração dos homens aí lhes oferece a eterna habitação da glória de Deus.

Com quem esperamos?

Esperamos em Cristo, com Ele, n’Ele.
Esperamos com a Igreja, casa dos ressuscitados, tenda da Esperança da Nova e Eterna Aliança.
Esperamos no mundo com todos aqueles que querem ver mais longe e mais profundamente…com os que têm fome e sede de justiça e de verdade, de misericórdia e de paz, de Amor…Esperamos com todos os viandantes do mundo que, com fome e sede de Deus, deixam que seja Ele o primeiro a encontrá-los.
Esperamos porque Ele vem!
Alegramo-nos porque Ele vem!
Fazemos caminho porque Ele vem!
Com a determinação dos peregrinos que sabem que o caminho se faz caminhando lançamo-nos nesta ousadia de acolher Deus que vem.
Com os pobres despojamo-nos de tudo aquilo que nos impede de ter um coração sincero e disponível para acolher o Deus próximo…
Com os humildes recomeçamos cada dia com a certeza de quem é Deus quem edifica, constrói, renova…
Com os profetas também nós ousamos gritar na noite a esperança de um tempo novo…
Com Maria aprendemos a guardar todas as coisas no coração na certeza de que o Senhor fará maravilhas e por isso a nossa alma não pode viver sem o glorificar eternamente.
Com a Igreja proclama-mos ao mundo que só no mistério do Verbo Incarnado se pode compreender verdadeira e profundamente o mistério do homem (cf. GS 22).
Esperamos…Naquele que sempre nos espera!

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