É frequente ver os nossos ritmos
quotidianos acelerarem o ritmo do nosso coração. Corremos de um lado para o
outro, do trabalho para casa, da casa para a universidade,…e no meio de tanta
correria, às vezes, quase sem nos darmos conta [ou a pedir ao céu para que a
consciência disso nunca chegue], andamos a correr para fugir de nós mesmos.
Num tempo marcado por um certo “analfabetismo
emotivo” e por uma amedrontada (in)capacidade para “narrar” a experiência vivida,
a vida vai-se tornando para tantos um universo demasiado complexo de decifrar,
um planeta bastante difícil de habitar e uma realidade dramaticamente difícil de
assumir.
Estamos a tornar-nos, na
dormência dos dias, homens e mulheres monossilábicos, reduzidos a um mero “gosto”
ou “”não gosto” [não sei se já reparas-te que este último, no “universo facebookiano”,
é a anulação da opção anterior!] que
não permite que os nossos olhos vejam para além do horizonte, ou que o nosso
cérebro pense para além do já pensado, ou, pior ainda, que o nosso coração sinta
e ame para além do já amado.
A experiência da fé, feita do
encontro pessoal, afectivo (e não meramente emotivo!) com Jesus alarga e
aprofunda os nossos horizontes débeis e amedrontados a um outro universo onde a complexidade se traduz
numa capacidade de ler a vida em profundidade, onde o planeta a habitar se torna uma escola de vida e onde o quotidiano
se transforma no “santuário” do encontro pessoal, cara a cara, despido de
dramas (ou tragédias!), onde o dom e o servir se conjugam na primeira pessoa
dinamizados pela alegria, revestidos pela esperança e perfumados de Páscoa.
Só descendo (como um mineiro que
busca o bem mais precioso nas profundezas!) é que poderás entender(-Te), só
mergulhando neste vasto oceano da vida é que aprenderás a decifrá-la com palavras
novas, ditas por ti somente, fruto deste “Amor-feito-Encontro” e que te habita
desde sempre…mesmo que tu não saibas, mesmo que tu O negues…
Então a “viagem de regresso” ao
quotidiano, feito de ritmos descompassados, tornar-se-á para ti o tempo de dar um
ritmo novo, sinfónico (e harmónico), ao teu viver.
O “santuário do quotidiano” será
para ti o lugar da beleza e do dom, a mesa da fome de sentido e da sede de
saber, e tudo isso há-de ser guiado pela certeza serena de que, desde a encarnação
de Cristo,…o nosso Coração está em Deus!
Boa
Solenidade do Coração de Jesus.
«Eis o que diz o Senhor: «Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer.
Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas». [cf. Oseias 11,1-9]
Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas». [cf. Oseias 11,1-9]
Sem comentários:
Enviar um comentário