domingo, junho 17, 2012

À sombra dos seus ramos…


Em cada semente há uma vida pronta a germinar, a despontar e a crescer. Basta estar atento à natureza para ver, em cada amanhecer, como ela nos surpreende com novas fragrâncias, com cores novas…com novos horizontes. 


            Somos Buscadores do Reino e semeadores da Palavra, é esta a missão que o Pai, o (E)terno, nos dá e para a qual nos convoca. Não somos construtores de um império, muito menos somos chamados a manter estruturas ou, no pior dos casos, a torná-las ainda mais rígidas e pesadas…a nossa missão é outra: alargar fronteiras, derrubar muros, estabelecer uma rede de relações que “devolvam o homem ao Homem”, que façam ver o (E)terno no tempo. Para isso precisamos de silêncio e de tempo.

O Silêncio faz de nós “contemplActivos”, homens e mulheres capazes de ler, no tempo e na noite, os sinais da salvação que nos abrem à Luz de um dia novo, de uma vida nova “escondida com Cristo em Deus” (Col. 3,3). O tempo, esse educa-nos para a esperança, isto é, para a capacidade de acolher o dom e de o deixar germinar; Mas aqui o problema não é que Deus não saiba esperar [Ele espera-nos sempre!], o problema maior é que às vezes, nós, já não sabemos (nem queremos) esperar… pois andamos cansados de tanto correr.

Só quem faz silêncio e aprende a esperar é que pode colher o fruto, que é dom total [que vimos crescer e quotidianamente acariciámos].

A espera, silenciosa e activa, converte-nos em homens e mulheres perfumados com a alegria da gratidão. Homens e mulheres que encontram na memória (afectiva) uma chave de leitura para agradecer e projectar, para acolher e partilhar. É que a memória não é o desfiar de um tempo passado, muito menos um elenco de coisas que o tempo cristalizou, a memória é o jardim onde a ternura e o amor se abraçam para produzir frutos de sabedoria e abrir o pórtico da esperança. É por isso que pode recordar somente quem aprende a amar, pois “é dos que amam que reza a história”.


Neste domingo cruzam-se, no jardim da memória (e no mais profundo do meu coração!), alguns factos e uma pessoa, D. Albino Cleto, com quem aprendi a alegria de partilhar o dom. Curiosamente cruza-se também neste caminho a “Palavra eleita” por ele para pórtico e horizonte da sua primeira carta pastoral na diocese de Coimbra: “À sombra dos seus ramos”, de 10 de Junho de 2001. Ali sonhava uma Igreja que fosse uma árvore frondosa, criativa, dialogante, uma sinfonia de ministérios; Contemplava “os que estão longe” e desafiava-nos a sermos e fazermo-nos próximos com a ternura do Coração de Deus, com a Luz do Espírito, oferecendo(-lhes) Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida

O tempo foi maturando os caminhos, não se alcançaram todas as metas, despontaram novos desafios, não encontrámos todas as respostas, mas como Igreja guiou-nos sempre ele na paixão de servir e amar, com alegria…ao jeito de Jesus e de olhos postos no Reino.

Nesta hora em que cai à terra, como “grão de trigo”, o Pastor zeloso, o Amigo e o Irmão [inteiramente dedicado a amar até ao fim, numa entrega total que é fruto da “alegria de dar-se”], canto com gratidão o que D. Albino Cleto foi e fez, com e para todos nós diocese de Coimbra, e digo-lhe com a proximidade que só o coração é capaz de gerar: 

“Obrigado D. Albino, até ao céu!”



Salmo 92(91)
É bom louvar-te, Senhor, e cantar salmos ao teu nome, ó Altíssimo!  É bom anunciar pela manhã os teus louvores,   e pela noite, a tua fidelidade, Os justos florescerão como a palmeira e crescerão como os cedros do Líbano.  Plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Até na velhice continuarão a dar frutos e hão-de manter sempre a seiva e o frescor, para proclamar que o Senhor é justo: Ele é o meu rochedo e nele não há falsidade.
 

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