O Evangelho é uma escola de
liberdade. Em cada encontro, em cada diálogo, com cada pessoa, o Mestre acolhe
a “biografia” do que fomos e somos e abre-lhe sempre horizontes novos. É a
‘pro-vocação’ daquele que nos ama desde sempre, o único e que pode dar sentido
novo, um novo alento, aos nossos dias tantas vezes cheios de rotinas e de
medos.
Mas olhemos mais atentamente o
nosso quotidiano. Com que liberdade é que ele é tecido? Com que profundidade é
que ele é celebrado? Às vezes andamos tão cheios de coisas e preocupados com
tantas outras…que a nossa liberdade se resume não a fazer escolhas, discernidas
e amadurecidas, mas simplesmente a repetir rotinas. Seria muito pouco se
liberdade fosse simplesmente “fazer aquilo que me apetece”, a verdadeira
liberdade é dizer sim ao que me constrói, ao que me humaniza, ao que me
aproxima mais do céu e que não me descompromete com a terra.É desta liberdade
interior, desta sabedoria do coração, que nos falam as leituras desta semana.
Somos livres não simplesmente para ‘voar’, como diz a canção, somos livres para
crescer! De que serviria uma liberdade que não nos ajudasse a crescer, por
dentro e com os que nos rodeiam?
A liberdade nunca é uma ilha, é autónoma mas é sempre dialógica. Uma liberdade que não gera o encontro, que não suscita a partilha, que não promove a justiça, não merece ser acreditada, vivida ou celebrada. Diz S. Paulo que a liberdade só se entende quando se torna ‘aliança’ com a caridade (= amor que se faz serviço ao outro), pois uma liberdade que não serve…não serve! A Liberdade gerada pelo Espírito (Santo), de que fala o apóstolo, é aquela que nos faz ver no outro um irmão. E quando os outros são nossos irmãos, então somos todos família e o mundo torna-se uma casa comum que é preciso cuidar…imagina a liberdade que te trará olhares assim a realidade?
É também com a liberdade que nos confronta hoje o
Evangelho. A proposta de Jesus é muito clara: «Segue-Me». Trata-se de fazer
opções amadurecidas no encontro com Ele. Por isso, recordava-nos o Papa
Francisco: «Jesus quer-nos livres, como Ele, com a liberdade que vem desse
diálogo com o Pai, com Deus. Jesus não quer cristãos egoístas, que seguem o
próprio eu, que não falam com Deus, nem cristãos fracos, que não têm vontade,
telecomandados, incapazes de criatividade, que procuram sempre ligar-se à
vontade de outros e não são livres”, acrescentou, de improviso…se um cristão
não sabe falar com Deus, não o sabe escutar na sua própria consciência, não é
livre…Temos de aprender a escutar mais a nossa consciência, mas cuidado: isto
não significa fazer seguir o próprio eu, dar espaço ao que me interessa, o que
me convém, o que me agrada, não é isso. A consciência é o espaço interior da
escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus».
A liberdade exige o amor. O amor exige
discernimento. O discernimento suscita o compromisso e o compromisso
liberta-nos do medo!
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