Gosto de olhar a vida como uma ‘dança’, cheia de movimento,
de ritmos mas também de silêncio, daquele silêncio atento ao detalhe, onde a
elegância se desenha com a simplicidade da ternura.
A dança exige sempre a sensibilidade, isto é, um coração capaz
de escutar, capaz de se deixar abraçar e envolver até ao mais profundo para ‘ressuscitar’,
a partir de dentro, aquele ‘primeiro instante’ da criação. A dança move e
comove. Faz ver o belo e semeia o infinito. Desperta o sonho e enraíza a
esperança…e é na Esperança que se faz a ‘gestação’ do Encontro, com o Outro,
com os outros. É também de Encontro, de Caminho, de Movimento (= dança) que nos
falam as leituras com que ‘abrimos a porta’ deste Advento 2013.
Vigiar, estar atento, perscrutar nos outros, no tempo e na
história, o ‘perfume’ e a presença de Deus, aprender a mergulhar no quotidiano,
a plenos pulmões, para converter as ‘espadas da indiferença’ em corações
fecundos, as ‘lanças do ódio’ em sementes de paz, as ‘guerras’ (dentro e fora
de nós) em gestos de fraternidade, de comunhão, de compaixão (1ª Leitura).
É preciso que a (nossa) noite, já pintada de luz pela
filigrana das estrelas, possa ‘dar à luz’ um novo dia, tecido de esperança e de
encontro(s). Um dia, uma vida, beijada pelo futuro e capaz de ‘germinar’ no
quotidiano, tantas vezes rotineiro, aquela ‘vontade firme’ de fazer de cada
encontro um milagre de vida, de escuta, de atenção, de…
Recorda-nos o Papa
Francisco, na exortação publicada esta semana, que “o Evangelho convida-nos
sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença
física que interpela, com o seu sofrimentos e suas reivindicações, com a sua
alegria contagiosa permanecendo lado a lado”(EG 88) e chama a este ‘encontro’ a
“reconciliação com a carne dos outros”.
Sim, precisamos de nos ‘deixar tocar’ sem medo de nos deixarmos ‘ferir’.
Sim, precisamos de amar sem medo de ‘sujar as mãos’. Sim, precisamos de
mudar sem medo ‘do que virá’…porque o futuro não é amanhã, é hoje! É preciso gerar o encontro e não dar ‘encontrões’, é
preciso escutar sem ‘devorar’ as palavras, é preciso ‘dar Cristo’ a quem tem
fome de vida…e é preciso dar pão a quem não tem de comer! Assim como o amor não
se improvisa, assim também o Encontro não pode ser uma ‘abstração’, uma ‘ideia
piedosa’. Para gerar o Encontro é preciso ‘estar’ e ‘ser’, é preciso dar…e
dar-se!
Se o advento é convite à ‘vigilância’ (= redobrar a ‘atenção do coração’),
ele é, na sua raiz mais profunda, um convite ao (re)encontro. É desafio a ‘revestir-se
do Senhor Jesus Cristo’ (2ª leitura) para ‘assimilar’ os seus sentimentos,
imitar o seu agir e, viver com o Pai e o Espírito, um amor que se faz ‘dança (e)terna’,
celebração, encontro que converte a vida e transforma o coração.
F. Nietzsche escreveu
um dia que «só acreditaria num Deus que soubesse dançar», o que ele não sabia é
que Deus dança mesmo! E Deus dança em nós, e connosco, quando a nossa ousadia
não teme pedir-Lhe:
“Senhor, ensina-nos
o lugar que, no eterno romance iniciado entre Ti e nós, ocupa o baile especial da
nossa existência. Revela-nos a grande orquestra dos teus desígnios, na qual Tu
semeias notas estranhas, na serenidade do que Tu queres. Ensina-nos a vestir
todos os dias a nossa condição humana como um vestido de baile que nos fará
amar por Ti todos os seus pormenores, como jóias que não podem faltar. Faz-nos
viver a nossa vida, não como um jogo de xadrez, em que todos os movimentos são
calculados, não como uma partida em que tudo é difícil, não como um teorema que
nos faz quebrar a cabeça, mas como uma festa sem fim em que se renove o
encontro contigo. Como um baile, como uma dança, entre os braços da tua graça, na
música universal do amor” (Madeleine Delbrêl).
DESAFIO:
Um Advento cheio de ‘presenças’! Em cada dia da semana escolher uma pessoa por quem rezar, a quem ligar/visitar, etc...BOA SEMANA! ;)
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