Há em todos nós um ‘sussurrar
do coração’ que, lentamente, vai germinando um desejo muito profundo de
encontro, de uma esperança nova, de um tempo novo. Todos sabemos, e
experimentámos já, o valor de uma carícia, de um beijo ou de um abraço. Sabemos
também o que é ‘pressentir’ a chegada de alguém a quem amamos. Mas, sabemos
também o que é aguardar no silêncio a sua chegada. Fazer caminho de Advento,
deixar que a esperança dê firmeza aos nossos passos, constância o nosso
coração, discernimento ao nosso agir, implica fazer esta longa viagem que nos
leva, de silêncio em silêncio, ao Encontro com Aquele que é a Palavra. Implica,
principalmente, deixarmo-nos envolver pela ternura de um silêncio que não nos
esmaga ou recrimina, mas antes nos recria, refaz, ‘ressuscita’, porque o
silêncio que nasce da fé nunca é de acusação, mas de misericórdia, ternura,
recomeço, alegria…
E é na
alegria, no Júbilo (= ‘coração que dança’), que nos fazem entrar as leituras
que escutámos neste domingo e que nos ‘abrem a porta’ desta semana. Em todos
nós, há silêncios que precisam de ser ‘iluminados’, há noites que precisam de
‘(re)nascer’ para puderem dar lugar ao dia, há ‘fronteiras’ que continuam a
precisar de ser alargadas, redesenhadas, para que ‘dilatando’ o coração
possamos também aumentar o amor que colocamos em cada gesto, palavra ou
pensamento. A um ‘povo desalentado’, Deus envia um ‘profeta e consolador’ que
os convida à alegria que ‘ressuscita’ a vida, que gera novidade, sobretudo onde
a vida se fez ‘deserto’ e se tornou auto-convencimento de que mudar/melhorar é
impossível....
Deus surpreende sempre! Entra
na nossa vida e ‘recicla’ todos os esquemas mentais feitos só de ‘eus’ e
abre-nos a um ‘nós’ que gera partilha, fraternidade, confiança, comunidade. É
para isso que é preciso ter ‘coragem’ e ‘não temer’, porque a alegria de quem
tem fé, de quem ousa acreditar e confiar(-se), é uma alegria sempre
‘irradiante’, contagia, transforma. É a alegria amadurecida no silêncio, dada à
luz pela ‘conversão’, uma alegria que suscita a esperança e robustece o amor.
A alegria não
se pode ‘programar’. Programamos o divertimento mas não a alegria. Ela é
‘gerada’ de cada vez que fazemos escolhas bem discernidas, é gerada em vidas
que se deixam trabalhar pelas ‘mãos do amor’, em olhares que não se deixam
vencer pela indiferença, em corações que não se apegam ao ódio ou ao
rancor…(só) compreendem bem este ‘mistério’ os pobres! Sim, só os que vivem com
‘um coração de pobre’ é que sabem ‘pressentir’ e ‘degustar’ este vibrar
quotidiano das ‘cordas do coração’ tocadas pelo amor sempre (e)terno de Deus…
Os sinais da
(Verdadeira) Alegria são bem claros: Abrem-se os olhos para ver a realidade com
um coração novo; Desentorpecem-se as pernas para caminhar com determinação, sem
lamentações do passado e sem medo do futuro; Rompe-se a surdez e abrem-se os
ouvidos para que não sejamos indiferentes ao grito dos pobres que clamam por
dignidade, justiça, amor; Somos curados das ‘lepras’ para nos lembrar que o
nosso corpo é a ‘carne de Cristo’, casa da graça e dos afectos, e tudo isto é
‘boa nova’, anuncio aos pobres, porque a alegria que nasce da fé nunca é
auto-referencial, é sempre ‘eucarística’ e com-partilhada (cf. Mt 11, 2-11). É
que a alegria não é um evento, nem uma data na agenda, ela é um Encontro,
quotidiano, com rostos e com história, com memória e cheia de futuro, tecida
com a ternura de uma carícia e celebrada com o júbilo de um (re)nascimento.
Falei no
início que ia (d)escrever-te um segredo, ora aqui vai: A alegria é um ‘segredo’
que trazes dentro, e que se multiplica e valoriza de cada vez que Lhe dizes:
«seja FESTA a Vossa vontade!» (Don Tonino Bello). Por estranho que te pareça, a
alegria, para ser verdadeira, nasce sempre do silêncio e passa sempre pela
cruz. Não existe sem ela, e vive sempre abraçada a ela! É por isso, que a
alegria de que te falo (e que te habita) é uma ‘alegria Pascal’, atravessa os
‘vales da morte’ levando nos lábios a Palavra da Vida; Porque só sabe servir,
faz suas as ‘chagas’ do irmão; Porque é (e)ternamente peregrina aceita entrar
em todas as casas, mesmo que seja já o ‘entardecer’; E, como é filha do
silêncio e irmã da pobreza, é sempre ‘pão repartido’ com os indigentes de amor;
É recomeço para quem se descobre pecador!
Não há,
portanto, alegria maior, do que a de sabermos «que a vinda do Senhor está
próxima», tão próxima…que Ele está já no meio de nós! Consegues vê-Lo?...BOA SEMANA!
Deus surpreende sempre! Entra na nossa vida e ‘recicla’ todos os esquemas mentais feitos só de ‘eus’ e abre-nos a um ‘nós’ que gera partilha, fraternidade, confiança, comunidade. É para isso que é preciso ter ‘coragem’ e ‘não temer’, porque a alegria de quem tem fé, de quem ousa acreditar e confiar(-se), é uma alegria sempre ‘irradiante’, contagia, transforma. É a alegria amadurecida no silêncio, dada à luz pela ‘conversão’, uma alegria que suscita a esperança e robustece o amor.
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