terça-feira, março 25, 2014

TU NÃO ÉS UM POÇO, ÉS UMA NASCENTE!

Há perguntas que nos despertam, há perguntas que nos comovem, há outras que nos acompanham toda a vida. Há algumas perguntas que nos criam ansiedade, e até medo, mas entre essas há sempre alguma que suscita em nós o desejo profundo de um ‘mais’ que não se resuma a ‘uma resposta’. É assim que a Páscoa vem ao nosso encontro. Mais do que ‘resposta’ (= uma realidade fechada, encerrada) a Páscoa é ‘proposta’ (= um dinamismo de começo) de salvação e de vida.

Junto ao poço de Sicar estamos todos nós, com o peso dos nossos passos mal andados, cansados tantas vezes de nós e da vida. Tal como a mulher samaritana, também nós vivemos algumas vezes tempos de uma solidão profunda, a fugir de todos e de nós mesmos, ritmados pela ‘amargura do desamor’. Também nós, tal como a samaritana, sabemos que é preciso humildade para reconhecer as nossas contradições, que é preciso coragem para dar nome ao que em nós é inquietação, mas também nós somos habitados pelo desejo de que não morra no nosso coração a ‘memória do amor’, de um amor terno e eterno, que a perdoe, cure e salve.

O diálogo suscitado com aquele «dá-me de beber!» desperta no coração a Esperança pois é encontro com a verdade, é uma ‘revolução’ e uma ‘primavera’ que faz despontar a ‘reconciliação interior’. É que Jesus confronta-a com a verdade sem a humilhar. Na boa pedagogia do Evangelho é-nos revelado que a verdade, acerca de nós e dos outros, nunca pode ser arrogante. Ela é sempre um convite a ‘ampliar o coração’, aliás é uma escola de simplicidade que ‘levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria’ (cf. salmo 112). Foi assim que o Mestre fez com aquela mulher junto ao poço de Sicar, e é assim que ele faz com cada um de nós.

Eis então o ‘segredo’ que o Evangelho, e a mulher samaritana, têm para nos comunicar nesta semana: sozinhos, fechados no nosso pequeno mundo, somos ‘um cântaro vazio’ e um ‘poço de águas paradas’, incapazes de gerar novidade e sempre lamurientos porque apenas ‘cheios de passado’, como ela que escolhia as ‘horas mortas’ para não se confrontar com a vida. Batizados e Peregrinos, a caminho da Páscoa, também nós precisamos de ‘converter’ e ‘ressuscitar’ a nossa esperança e a nossa condição de discípulos. Precisamos depor os ‘cântaros vazios das nossas rotinas estéreis’ e deixar que Deus suscite em nós o desejo da água que brota na nascente. É que ninguém consegue atravessar o deserto com um copo de água na mão!

A samaritana, que vai ao poço ao meio-dia, é metáfora das nossas contradições, infidelidades e incapacidades, mas é também, ao mesmo tempo, sinal da ‘torrente de água viva’ que Cristo quer despertar nos nossos corações quando temos a humildade de nos deixar acompanhar, quando temos a coragem de O colocar no centro, quando temos a ousadia de O imitar nos gestos.   É assim que a Páscoa vem ao nosso encontro, como uma primavera, a fazer despontar a novidade do Evangelho, desafiando-nos a não ter medo de deixarmos Deus ser uma ‘torrente de água’ que lava e purifica as nossas contradições, que sara as nossas feridas, que dilata os nossos corações.

Para não nos perdermos no que é inútil e banal, para não nos contentarmos com o que é passageiro e para não nos acomodarmos em rotinas que não geram comunhão, tal como à mulher Samaritana, o Evangelho põe-nos sempre em causa, a todos, em tudo, porque é a novidade do Amor a gerar em nós Cristo e a germinar em nós o Reino. A Páscoa vem aí, ao nosso encontro, onde e como é que ela nos encontrará? 
 
 

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