segunda-feira, março 10, 2014

‘TENTAÇÕES’ OU ‘TENT-AÇÕES’?!

A vida não é indolência, é encontro, é decisão, é compromisso! É verdade que “há quem gaste a vida toda a organizar a vida”, dizia Séneca, e nenhum de nós está imune a esta tentação de querer uma vida ‘perfeita’! Mas, ‘a vida perfeita’ não existe. O que existe é a vida feliz! Uma vida feita com a ousadia de quem não tem medo das perguntas, preenchida com uma coragem que nasce de um coração simples e vivida na alegria de um coração comprometido com o quotidiano. Talvez seja bom recordar que um coração que não se habitua a escolher vive sempre na indiferença, torna-se um coração indolente, à procura de tudo…mas sem querer nada! E com quanta indolência vivemos tantas vezes o Evangelho.
Neste domingo é-nos colocado diante da inteligência e do coração esta ‘atracção de Jesus ao deserto’ (Mt 4, 1-11). Mais do que um lugar físico, este ‘deserto’ é uma metáfora para nos revelar o que tantas vezes anda dentro de nós. Tal como nas tentações feitas a Jesus, também a nós se apresenta este ‘convite’ diabólico (= tudo o que divide) a fixarmo-nos só no que se vê (pão), a desfigurar a nossa identidade fundamental (‘se és Filho de Deus…’) e, por fim, o convite a ‘envenenar’ o nosso discernimento (‘Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares’). É neste duplo movimento de ‘sedução’ e ‘aparência de bem’ que ganham espaço em nós as tentações. E de que tentações falamos? É muito frequente ouvir(-mos) as pessoas a ‘etiquetarem’ as tentações (as suas e as dos outros!) apenas na questão ‘afetiva-genital’; mas, não te escandalizes se te disser que acho que essas nem são as mais graves!
Explico-me: creio que são muito mais corrosivas e portanto, mais cheias de pecado, as tentações que trazemos caladas (e reprimidas!) dentro de nós: os ódios mesquinhos, os desejos de vingança, as etiquetas que vamos colocando nos outros, a altivez com que nos achamos melhores (e mais sábios!), o espaço sempre ampliado que vamos dando à injustiça nas nossas relações pessoais quotidianas, as nossas ‘palavras apressadas’ para evitar que o silêncio nos confronte, o nosso ‘olhar para o lado’ quando passamos junto de um sem-abrigo ou de uma prostituta na rua, o nosso silêncio diante da violência para com os idosos,uma vida espiritual feita de 'mínimos', …e tantas outras tentações que, disfarçadamente, contornamos e seguimos em frente, como se a vida fosse apenas ‘o dia que se segue’. É verdade que não precisamos de viver amarrados ao passado! Nenhum de nós é um erro, embora possamos cometer alguns erros. Diante da tentação o que nos é pedido é que não abdiquemos da CONFIANÇA, daquela confiança que gera em nós a certeza de sermos amados ‘para além dos limites’, perdoados sem ser julgados e salvos por um Amor (e)terno, nós que vivemos marcados pela vulnerabilidade.
Recorda-nos o Papa Francisco, na mensagem para esta Quaresma, que uma só tentação (= miséria) nos devia preocupar: «a de não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo». Não fomos sonhados para ser ‘derrotados’ pela tentação, dado que desde sempre fomos abraçados pela Salvação. O Evangelho convida-nos, neste Domingo, a atravessar com Cristo os desertos que nos habitam, a passar o ‘vale da morte’ e a fazer brotar, a partir de dentro, uma primavera cheia do ‘perfume’ da manhã de Páscoa.

«Temer ou Amar?»
Eis a provocação que nos faz esta semana o Evangelho! Em lugar de ficar bloqueado (e amedrontado) com as tentações, ‘TENT-AÇÕES’…concretas, bem discernidas, cheias de Evangelho. Que semeiem Esperança, Perdão, Recomeço. BOA SEMANA!



1 comentário:

António disse...

Bem-haja! Cristo é tão Maravilhoso :-)