Habituados que
estamos às rotinas deixamos com facilidade escapar o essencial. A Páscoa não
nos visita, habita-nos! E, por isso, desinstala-nos, torna-nos Contempl-Ativos
da vida e do quotidiano, isto é, homens e mulheres que vivem em cada respiro o
desassossego daquele ‘Não está aqui, Ressuscitou!’ que ampliou para sempre as
fronteiras do tempo e da história à dimensão de eternidade.
Vem tudo isto
a propósito do ‘Caminho de Emaús’ (cf. Lc 24, 13-35). Aqueles ‘peregrinos da desilusão’,
consumidos pelo lamento das suas expectativas, não se dão conta que Deus
responde sempre com ‘excesso de amor’ às nossas esperas e às nossas esperanças.
É que Deus não se contenta em dar-nos só o que lhe pedimos, Ele dá-nos aquilo
que não podemos dar a nós mesmos. Esse é o grande milagre da Páscoa, de Emaús,
de cada dia!
Quando o
lamento e o desalento marcam o ritmo fúnebre de uma ‘procissão de desencanto’
Deus (res)suscita no coração daqueles viandantes, e no nosso também, o vigor da
Páscoa. Faz-lhes passar pelo coração (porque o Evangelho não é uma ideia ou
filosofia, mas o respirar da Vida!) o calor da ternura que permite ler a vida
não como um museu (= cheia de passado), mas como uma história de salvação (=cheia
de futuro)!
Na estrada
de Emaús, caminho existencial onde as poeiras do quotidiano trazem consigo a
tentação de encher de peso o desejo de salvação que habita o coração humano,
caminhamos eu e tu, lado a lado, com o único Senhor e Mestre que nos
pode despertar o coração. Não se trata de um caminho para fazer depressa, muito
menos de uma ‘caminhada para emagrecer’. Trata-se sim de uma ‘peregrinação
interior’, sem indolência e sem lamentos, que parte dos nossos olhos, pedindo-nos
que os abramos ao futuro; que passa pelos nossos ouvidos e nos sussurra, como
no início da criação do homem, aquele Espírito que nos desbloqueia a
inteligência, para depois fazer do nosso coração um altar onde a Páscoa se faz
vida repartida.
Afinal, não se trata simplesmente de 11-12km’s que
é preciso fazer (e desfazer!), trata-se essencialmente de um estilo novo de
celebrar a vida e de habitar o coração* (= casa onde Deus se senta connosco e
reparte o Pão!). É que às vezes estamos ‘dentro de casa’ mas de coração vazio. Muitas
vezes os nossos pés ‘andam’ mas a nossa vida não caminha. Ir de Jerusalém (= o
Coração da Páscoa) a Emaús (= Coração da Vida) não é um ‘exame’ nem uma ‘prova
de resistência’, exige uma nova ‘geografia’ que não se compadece com redesenhar
‘mapas’ ou comprar novas ‘bússolas’. É um caminho novo que toca e transforma a
vida a partir do essencial: ter a humildade de deixar que Ele caminhe connosco,
dar-lhe espaço e dar-lhe a vida. Escutar a Sua voz e abrir-lhe o coração. E
isso não se improvisa!
Uma vida “cheia de Páscoa” não guarda para si o Amor
recebido mas nutre-se daquele ‘excesso de dom’ de quem sabe que ‘há mais
alegria em dar do que em receber’. É assim que o coração dos discípulos (= casa
onde Cristo multiplica a vida) se torna “peregrino da Vida e da Esperança”, sem
otimismos balofos e sem pessimismos lamurientos. Regressam para ‘confirmar’ e ‘repartir’
o calor da ternura recebida, do pão repartido, da Vida oferecida e do caminho
celebrado. Trazem nos lábios a Palavra que converte e salva e, no peito, um
coração escancarado como o túmulo na manhã de Páscoa. Já não é a morte que os
habita, mas a vida (E)terna!
Por entre as tuas idas e vindas no ‘Caminho quotidiano
de Emaús’, a quantos km’s estás ainda de (tua) casa*?...
DESAFIO: Uma semana para evitar as palavras e os
pensamentos pessimistas. Encher de “PAZcoa” os nossos dias e as pessoas com
quem nos cruzarmos.
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