O mistério da vocação é sempre um
mistério de ‘vulnerabilidade’. É feito de escuta e de discernimento, de
resposta e ousadia, de confiança e de perdão. É sempre tecido com a ternura de
um coração ‘ferido’ pelo grito e pela sede de consolação, compaixão e de
salvação que habita o Povo de Deus. À sede de amor não se pode ser indiferente.
Não se pode passar adiante. É preciso deixar-se interpelar!
A história de amor que hoje celebro é
feita de muitos ‘gritos’, de muitas ‘sedes’, de muitos encontros, de tantos
silêncios e de algumas palavras. É feita de gestos concretos, de histórias de
vida atravessadas por momentos de luz e de sombras. É feita de muitas
interrogações e de muitos caminhos serenos. É habitada por momentos de
libertação e de recomeço. É modelada pela força sempre ressuscitadora da
misericórdia. É desafiada e celebrada pela graça da fidelidade de tantos e
tantas que me ensinam sempre o caminho de regresso ao Coração do Pai. A história
da minha
vida é feita de tantas vidas!
Ser padre foi sempre, para mim, ‘um desassossego de amor’. Sabem-no aqueles
com quem ao longo destes 10 anos fui partilhando a vida, o ministério, de um
modo mais íntimo. Não sou perfeito. No caminho da santidade estou apenas no
início. Mas move-me a certeza evangélica de que ‘há (sempre) mais alegria em
dar, do que em receber’. Não é voluntarismo, é convicção. É opção. É estilo de
vida. Se é a ternura que faz respirar o mundo, se é o amor que o habita e
salva, é a compaixão, irmã gêmea do amor, que o dinamiza. Tenho procurado
viver e testemunhar este ‘tripé’ revestindo tudo o que faço com a graça maior
do Evangelho que é a da Alegria. Sim, sou feliz por ser padre. Muito Feliz!
Se o padre é
um Crucificado-Ressuscitado a quem o Pai visitou com a sua misericórdia e que enviou
ao mundo para o amar tal como Cristo o amou, até ao fim (cf. Jo 13), a sua
vida e missão só pode ser dinamiza pelo único ‘poder’ que move verdadeiramente o
mundo, a misericórdia, a oferta de recomeço. Sim, para mim ser padre é sempre
uma experiência de recomeço. Todos os dias. Cada dia. Para que não esmoreça nem
o entusiasmo, nem a fidelidade.
Passaram 10 anos desde aquele dia 27 de junho de
2004. Há pessoas que hoje não quero esquecer. À minha família estou-lhes grato
pela liberdade com que sempre me deixaram viver esta ‘loucura do Evangelho’.
Estou grato a D. João Alves, bispo determinado e sábio, que me acolheu no
seminário. Profundamente agradecido a D. Albino Cleto, bispo atento e amigo, que
me ordenou presbítero e com quem aprendi que a ternura e o amor têm de ser concretos
e valem mais do que ‘as certezas absolutas’ de quem nunca se quer ‘queimar’ nem
‘tocar a realidade’. Com ele aprendi também que à indiferença se responde com
mais amor, ainda que isso nos faça sofrer muito. Em silêncio. Muitas vezes. Um
agradecimento muito especial, ‘eucarístico’, aos meus colegas de seminário e
aos meus irmãos de presbitério. É caminhando juntos que se aprende, que se vive,
que se cresce.
Um agradecimento especial a ti que te foste
cruzando comigo, em encontros, retiros, peregrinações, acompanhamento
espiritual, na reconciliação, nas comunidades paroquiais, nas missões em
Portugal ou no Brasil, etc. e que me ensinaste a ser mais cristão, mais padre,
mais d’Ele…e mais para todos.
Com a alegria da primeira hora, e com um cântico de
gratidão a que só o silêncio sabe dar sinfonia, renovo a determinação da ‘primeira
hora’ e peço-te que 'cantes' e rezes comigo, assim:
Senhor…
Dá-me pés de barro, para que,
quando vierem terrenos pedregosos,
eu sinta que só Tu és a força e o caminho…
Dá-me um olhar cristalino,
para que possa ver-Te sempre presente
em cada rosto desfigurado, marginalizado,…
Dá-me mãos abertas para acolher
todos os que são abandonados,
vivem na solidão,…
Dá-me um coração de carne,
Dá-me pés de barro, para que,
quando vierem terrenos pedregosos,
eu sinta que só Tu és a força e o caminho…
Dá-me um olhar cristalino,
para que possa ver-Te sempre presente
em cada rosto desfigurado, marginalizado,…
Dá-me mãos abertas para acolher
todos os que são abandonados,
vivem na solidão,…
Dá-me um coração de carne,
para amar sem medida,
sempre…
Dá-me coragem para denunciar a mentira,
Humildade para assumir os meus erros,
Humor para rir das minhas asneiras,
E, quando no fim,
como grão de trigo eu cair à terra,
a minha Fidelidade e Felicidade,
nesta entrega total a Ti,
Façam germinar Homens e Mulheres
loucamente apaixonados
pelo anúncio do Teu Evangelho. Ámen
sempre…
Dá-me coragem para denunciar a mentira,
Humildade para assumir os meus erros,
Humor para rir das minhas asneiras,
E, quando no fim,
como grão de trigo eu cair à terra,
a minha Fidelidade e Felicidade,
nesta entrega total a Ti,
Façam germinar Homens e Mulheres
loucamente apaixonados
pelo anúncio do Teu Evangelho. Ámen
1 comentário:
Parabéns P. Luis Miranda. Votos de fidelidade e muita alegria. Obrigada pela partilha
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