Há
realidades que o coração inscreveu na nossa vida e que jamais esqueceremos: o
afeto com que em pequenos fomos embalados no colo das nossas mães, o calor do abraço
que nos levantou quando caímos por terra na nossa primeira tentativa de
articular dois passos, o ‘beijo sagrado’ nos nossos joelhos feridos, depois de
mais uma queda, que nos fazia sentir imediatamente sarados, a voz que acalmou
os nossos medos quando, de noite, nos visitava algum pesadelo, aquela palavra
amiga que corrige, e que abre futuro, fazendo-nos olhar para além dos nossos
erros, enfim…um ‘narrar infinito’ não de coisas mas de um amor dedicado, e
delicado, que foi moldando o nosso coração com as raízes do amor e que nos
ajudou a construir a vida ritmados pela ternura que converte, cura, salva.
É
assim, também, que o Evangelho, Amor feito Páscoa, continua a tecer em nós esta
semana os fios daquela Vida que nos faz filhos e irmãos, quando nos recorda que
somos Páscoa para o mundo de cada vez que o nosso agir faz ver que ‘acreditamos
no nome de Jesus Cristo e nos amamos uns aos outros’ (1 Jo 3, 18-24). Acreditar
e amar são verbos (não possessivos!) para serem conjugados na nossa existência
quotidiana através da partilha solidária e daquela comunhão fraterna que vence
o egoísmo com a vulnerabilidade da ternura sendo para todos, e em tudo,
misericórdia (amor que oferece recomeço e ‘não passa adiante’ do grito do
faminto).
Compreendemos
então que para ‘permanecer em Cristo’ (Jo 15, 1-8), e com Ele produzir fruto
abundante, não podemos fugir do mundo! Há hoje uma tentação grande de querer
ser fruto sem ter raízes (profundas) na terra…e se o que somos, e fazemos, não
toca verdadeiramente ‘as misérias humanas’, de que valem os nossos refinados ‘incensos’?
Quando
Jesus nos interpela, o coração e a vida, e nos recorda quem ‘sem Ele nada
podemos fazer’, não está com isto a dizer-nos que somos ‘escravos’ ou que
pretende impedir-nos de sermos livres. Está simplesmente a fazer ressoar no
nosso coração aquela ‘memória que nos leva ao coração da Mãe’ e que nos recorda
que somos frágeis, nutridos por um amor infinito que nos levanta, acaricia e
estimula a fazer caminho. Está a recordar-nos que sem esse dinamismo vital, na
realidade não seremos, nem faremos, nada…porque nos faltarão as raízes.
…Já
agora, como é que são as tuas raízes? BOA SEMANA!
* Que
o nosso coração se deixe moldar ao longo deste mês pela “Mãe de todos os
caminhos” e, se quisermos, ousemos rezar-lhe com estas palavras do Papa
Francisco:
«Bem-Aventurada
Virgem de Fátima,
Guarda
a nossa vida entre teus braços:
Abençoa
e fortalece qualquer desejo de bem;
Reacende
e alimenta a fé;
Ampara
e ilumina a esperança;
Suscita
e anima a caridade;
Guia
todos nós no caminho da santidade.
Ensina-nos
o teu mesmo amor de predilecção
Pelos
pequeninos e pelos pobres,
Pelos
excluídos e sofredores,
Pelos
pecadores e os desorientados;
Reúne
todos sob a tua protecção
E
recomenda todos ao teu dilecto Filho, nosso Senhor Jesus.»
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